terça-feira, 4 de setembro de 2007

A GRANDE RAINHA BRANCA


Uma das mais emblemáticas personagens da história do sec. XIX foi sem dúvida a Rainha Vitória. Pode-se dizer que sua ascensão ao trono em 1837 marcou o início do sec. XIX e o fim do sec XVIII e sua morte em 1901, inaugurou o sec. XX. Como toda periodização ela é arbitrária e subjetiva, mas nem por isso falsa. Em linhas gerais, aquilo que consideramos como a era vitoriana é a personificação de um ethos, uma representação ideal da sociedade européia oitocentista construída pela geração posterior incapaz de lidar com sua complexidade e contradições. Seja como for, a riqueza cultural que define o período vivido por Vitória é fascinante. Basta lembrar que ela foi contemporânea de homens de letras como George Eliot, Charles Dickens, Sir Arthur Conan Dyle, Oscar Wilde, Walter Scolt, Lews Carrol, Thomas Hardey e Jonh Stuard Mill, apenas para citar alguns exemplos.
Mas a longevitude de Vitória e do seu reinado não serviram apenas para identifica-la com toda uma época. Pode-se dizer que com ela a monarquia, que até então mantivera-se na Grã Bretanha por mero imperativo institucional, passou a justificar-se pelas qualidades pessoais do seu soberano. Em outras palavras, como afirma Anka Muhlstein em sua competente biografia sobre Vitória, ou a grande rainha branca, sua personalidade e seu caráter contribuíram para transformar e reforçar o significado da monarquia britânica.
Nas palavras da autora:

“... Foi depois de 1870, mais precisamente depois da cura inesperada do príncipe de de Gales, que, como o pai, quase morreu de uma crise de tifóide, que se sentiu no país o nascimento de um sentimento mais pessoal pela rainha e por sua família. Um novo tipo de autoridade real desenvolveu-se então, não mais baseado em prerrogativas constitucionais ou em uma atividade política, mas na ascendência moral e em uma necessidade psicológica das multidões, que tinham prazer em aplaudir o símbolo vivo de sua grandeza. Os presentes anônimos que se derramaram sobre o palácio de Buckingham por ocasião dos jubileus são um indício desse fervor popular. Em seu casamento, a rainha não recebera um único presente do povo. Talvez involuntariamente, a gorda pequena dama enlutada tornara-se “the Great White Queen”, a grande rainha branca.”

(Anka Mushlstein. Vitória: Retrato da rainha como moça triste, esposa satisfeita, soberana triunfante, mãe castradora, viúva lastimosa, velha dama misantropa e avó da Europa. SP: Companhia das Letras, 1999; p. 138 et seq.)

Este novo tipo de autoridade real foi curiosamente perpetuado no sec. XX pelo também longo reinado de Elisabeth II. Por mais dúvidas que tenhamos hoje em dia sobre o destino da monarquia britânica o fato é que ela sobrevive e afirma sua contemporâneidade na peculiaridade de seus personagens cada vez mais humanos e menos divinos...

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