terça-feira, 25 de setembro de 2007

CRÔNICA RELÂMPAGO VIII


Normalmente concebemos as rotinas como um conjunto fechado de fatos e atos diariamente reproduzidos mecânicamente, um autêntico trabalho de Cicifo, ao qual somos obrigados pelos imperativos da sobrevivência imediata. Mas as rotinas possuem movimentos e nuanças internas que as tornam algo mais do que um repetitivo e enfadonho esforço.
O roteiro obrigatório de um dia não elimina, afinal, sua singularidade no vasto corpo dos anos, mesmo que ela nos escape, já que apenas eventualmente guardamos na memória a aventura banal de um dia qualquer. Independente disto, no acaso de cada dia, toda rotina parece manter uma sombra, um duplo de si mesma, a nos dizer a urgência de opções ou golpes inesperados de tempo que dão visibilidade ao que até então não percebíamos ou não participava diretamente da tediosa procissão de dias que definem a vida.
Acredito em linhas gerais que as rotinas mudam em sua permanência. De algum modo discreto elas cultivam descontinuidades em suas estruturas aparentemente rígidas. A inércia dos dias e de nós mesmos, afinal, não passa de uma conveniente ilusão...

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