terça-feira, 4 de setembro de 2007

C.G.JUNG: FRAGMENTOS/SOBRE MITOLOGIA CRISTÃ



“... Necessariamente a resposta é esta; metafisicamente não existe mal algum; ele só existe no mundo dos homens, e ele procede do ser humano. Contudo, esta afirmação contradiz o fato de que o paraíso não foi criado pelo homem. Ele entrou nele por último, e não foi ele que criou a serpente. Se até Lúcifer, o anjo mais belo de Deus, tinha tão grande desejo de tornar-se corrupto, sua natureza dever mostrar uma considerável falta de qualidade morais- como Javé que insiste ciosamente na moral, mas ele mesmo é injusto. Não admira, portanto, que sua criação esteja marcada pelo mal.
Será que a doutrina da Igreja admite os defeitos morais de Javé? Se sim, então Lúcifer simplesmente retrata o seu criador; se não, o que dizer do Salmo 84, etc.? O comportamento imoral de Javé baseia-se em fatos bíblicos. Não só se pode esperar de um criador moralmente dúbio que crie um mundo perfeitamente bom, nem anjos perfeitamente bons.
Sei que os teólogos sempre dizem: Não devemos subestimar a grandeza, a majestade e a bondade do Senhor, e nem se deve fazer qualquer pergunta. Não subestimo a terrível grandeza de Deus, mas eu me consideraria um covarde amoral se me deixasse amedrontar para fazer perguntas.”

Carta a Victor Wthte- Oxford- 30-04-1952; in Cartas de C.G Jung ( Volume II- 1946-1955); tradução de Edgard Orth; Petrópolis, RJ:Vozes 2002; p. 235.)

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