“Tem se repetido que, na medida em que nos aproximamos do fim do século XX e, com ele, do fim do milênio, as coordenadas de espaço e de tempo estruturadas das nossas vidas estão sendo crescentimente submetidas a novos tipos de pressão. Espaço e tempo são categorias fundamentais da experiência e da percepção humana, mas longe de serem imutáveis, elas estão sempre sujeitas a mudanças históricas. Uma das lamentações permanentes da modernidade se refere à perda de um passado melhor, da memória de viver em um lugar seguramentwe circunscrito, com um senso de fronteiras estáveis e numa cultura construida localmente com o seu fluxo regular de tempo e um núcleo de relações permanentes. Talvez, tais dias tenham sio mais sonho do que realidade, uma fantasmagolia de perda gerada mais pela própria modernidade do que pela sua pré história. Mas, o sonho tem o poder de permanecer, e o que eu chamei de cultura da memória, pode bem ser, pelo menos em parte, a sua encarnação contemporânea. A questão, no entanto, não é a perda de alguma idade de ouro de estabilidade e permanência. Trata-se mais de tentativa, na medida em que encaramos o próprio processo real de compreensão do espaço-tempo, de garantir alguma continuidade dentro do tempo, para propiciar alguma extenção do espaço vivido dentro do qual possamos respirar e nos mover.”
HUYSSEN, Andress. Seduzidos pela Memória: Arquitetura, Monumentos, Midia. RJ: Aeroplano, 2000, p. 30.
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