terça-feira, 21 de agosto de 2007

C.G.JUNG: FRAGMENTO SOBRE FANTASIA



“...A questão propõe-se do seguinte modo: o que, para este indivíduo, e neste dado momento, surge como um progresso à altura da vida? Nisto não pode ser respondido por nenhuma ciência, por nenhuma sabedoria de vida, por nenhuma religião, por nenhum bom conselho, mas só pela consideração absolutamente sem preconceitos da semente de vida psicológica que se expande da cooperação natural do consciente e do inconsciente, por um lado, e do individual coletivo, por outro. Onde encontramos esta semente de vida? Alguns a procuram no consciente, outros no inconsciente. O consciente, porém, é apenas um aspecto, e o inconsciente é outro.
Encontramos na fantasia criadora a função unitiva que estamos buscando. Nela fluem conjuntamente os elementos atuantes que estamos buscando. Nela fluem conjuntamente os elementos atuantes que se oferecem. A fantasia, entretanto, goza de má reputação entre os psicólogos. As teorias psicanalíticas, até o presente momento, não a levaram em conta. Para Freud, bem como para Adler, a fantasia não é mais do que um véu “simbólico” que dissimula as tendências ou impulsos primitivos, pressupostos por ambos os investigadores. Podemos contrapor a issas opiniões – não relativamente ao fundamento teórico, mas essencialmente por razões práticas - o fato de que a fantasia pode ser explicada ou desvalorizada em função de sua causalidade; mas apesar disso ela é o regresso materno onde tudo é gerado e que possibilita o crescimento da vida humana. A fantasia tem, em si mesma, um valor irredutível enquanto função psíquica, cujas raizes mergulham tanto nos conteúdos conscientes como nos inconscientes, e tanto no coletivo como no individual.
Mas de onde adveio sua má reputação? Antes de mais nada, da circunstância de que ela não pode ser tomada ao pé da letra. Se ela for compreendida concretamente, é carente de valor. Se for compreendida, como queria Freud, semanticamente, é interessante do ponto de vista científico; mas se a compreendermos como verdadeiro símbolo hermeneutico, então ela nos apontará a direção necessária para conduzir nossa vida em harmonia com nosso ser mais profundo.”
( C.G.JUNG. O Eu e o Inconsciente; tradução de Dora Ferreira da Silva. Petropolis; Vozes, 1985. ( Obras Completas de C.G. JUNG, v.7,t.2), p.145.

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