segunda-feira, 20 de março de 2023

FICÇÃO CIENTÍFICA

O mundo será 
 das Inteligências artificiais.

 Em alguma tosca versão do futuro
  elas serão mais humanos do que nós
 Em sua radical inumanidade.

 Talvez elas nos salvem de nós mesmos. Talvez elas nos esqueçam pelo caminho Consumando o fim da História,
 A falência do antropocentrismo,
e a vitória final da mãe natureza.

Quem sabe?...
Talvez a tecnologia se volte contra o progresso 
contra o nosso artificial humanismo.
Talvez a tecnologia nos supere completamente
antes do fim do mundo 


sábado, 18 de março de 2023

A INFÂNCIA DA LIBERDADE

Um dia, é certo,
Não seremos mais adestrados  pelo Estado,
conformados para a sociedade,
ou obscenamente obedientes a um deus carrasco.

Seremos todos livres e autônomos,
avessos a toda autoridade,
a qualquer forma de privilégio ou hierarquia.

Um dia seremos eternas crianças
brincando de vida
na contramão do tempo
Através da construção de um antigo mundo novo.







quinta-feira, 16 de março de 2023

DEPOIS DO FIM DO MUNDO

O mundo acabou .
Cada um que crie para si
seu próprio delírio
ou bolha existencial.

Invente você mesmo
sua realidade virtual,
sua verdade digital,
ou escolha aquela que mais lhe agradar
no limbo de  alguma rede social.

O fato é que o mundo acabou.
Já era!
Resta apenas a casca de um planeta esgotado
que insisti em girar em torno do sol.

A vida morreu.
Viva o capitalismo
a tecnologia pós industrial
e o progresso da civilização ocidental!
Não precisamos do mundo.
O futuro é o que inventamos hoje
para enganar a morte.



O DIA DA NOSSA REVOLTA

O dia explodiu em revolta.
As ruas despidas de suas rotinas
alucinam passados, 
diluem o presente,
E antecipam futuros.

O Estado não tem mais o controle
de nossos corpos,
nem nos diz o que pensar ou sonhar.

Multidões desdenham da lei,
 da fé e da ordem.
Hoje é dia de festa.
Somos todos parte do parto
de um mundo novo.





quarta-feira, 15 de março de 2023

ALÉM DO VERBO

Todos os enunciados possíveis,
caso  somados,
constituiriam um grande silêncio
a denunciar o vazio de nossos discursos,
o jogo sujo de nossas palavras,
sempre a serviço de qualquer ilusão de poder e verdade.

Busco, contra a palavra,
a alma emudecida das coisas,
onde o eu é ausente,
onde todo discurso é inútil,
e o corpo é fluido  
entre imaginações e mundos
 despidos de verbo,
onde tudo é puro hedonismo e experiência
através de um encantado silêncio. 







 




segunda-feira, 13 de março de 2023

A ILUSÃO DA CONSCIÊNCIA

A luz do conceito de inteligência artificial o velho problema mente/corpo ( ou mente cérebro) parece  colocado em evidência de forma decisiva.
 O cérebro e o sistema nervoso, suas propriedades físicas, são realidades mensuráveis para explicar a percepção e comportamento humano, a mente, por sua vez,  (enquanto entidade subjetiva autônoma) é algo evidentemente sem substância ou realidade mensurável. Como considera-la como personificação de nossa " essência"?
No fundo, questionar se existe uma mente ou um sujeito por trás dos enunciados produzidos por uma máquina,  não é diferente do questionamento se tal sujeito existe em nós.
O fato é que não somos mais suficiente mente ingênuos para ,  hoje em dia, ainda supor, conforme ainda insistem  os tantos dualistas de ocasião, a Nous ( mente) como uma substancia universal e criadora, algo além e independente do sistema nervoso e da matéria. Conhecemos demasiadamente o funcionamento de um corpo humano para perder tempo com tal asneira metafísica.
  Mesmo assim, a maioria de nós permanece determinada a negar o fato de que a razão não nos torna especiais, nem detentores de uma alma ou essência imortal independente do corpo.
Neste sentido, o problema da  inteligência artificial e seu desenvolvimento pode nos ajudar a entender nossa inteligência natural ao servi-lhe radicalmente cada vez mais de espelho. Talvez a velha pergunta sobre quem somos nunca tenha feito sentido, pois não somos...

Por outro lado, contra o dualismo metafísico podemos invocar a unidade materialista entre mente e corpo para reivindicar a subjetividade não como um simulacro,mas como uma realidade pragmática. 
Lembrando Kal Popper:

"Um bebê recem- nascido é um " eu"? Sim e não. Ele sente; é capaz de sentir dor e prazer. Mas ainda não é uma pessoa no sentido de duas afirmações de Kant: "Uma pessoa é um sujeito que é responsável por suas ações.", e " Uma pessoa é algo que é consciente, em momentos variados, da identidade numérica do seu "eu". Assim, um bebê é um corpo humano que se desenvolve- antes de se tornar uma pessoa, uma unidade de mente e corpo."

O eu e o cérebro by Kal Popper e Jonh C Ecces in O  eu e seu cérebro

A questão é se realmente, em algum momento, nos tornamos uma pessoa sobreposta ao corpo que nos define, ou, permanecemos sendo unicamente um corpo do qual a percepção e a consciência não passam de mero apêndice.

domingo, 12 de março de 2023

MEU MUNDO

Meu mundo é feito de coisas,
gentes, lugares e tempos
tão minúsculos
que nada e ninguém o percebe.

Nele, entretanto,
todos os acontecimentos são absolutos 
na infinita insignificância 
da relatividade do meu corpo
incerto entre  memória e  matéria.

Em sua gigantesca desimportância
só sei que meu mundo ofusca todo universo
e nada mais me importa além 
de sua realidade incerta.




sábado, 11 de março de 2023

SER LIVRE

Minha carne é terra,
minha alma é mar.
Não sou daqui
nem de lá.
Tudo em mim
é incerto.
As vezes
quase sei
que não existo.
Pois sou livre.
E liberdade
é não ter rosto,
palavra,
 ou lugar.
Sou onde estou
despido de Estados & Deuses
sempre aprendendo a sonhar.


quarta-feira, 8 de março de 2023

CONTRA A VERDADE

Abominamos a Verdade. 
 Esta verdade que sustenta a retórica dos opressores, 
que concede autoridade aos que amam o poder,
 que inspira opressões, saberes e religiões, 
que justifica  hierarquias , privilégios e interdições.

 Repudiamos esta verdade totalizante, divinizada, que conforma os corpos e as vontades,
 que nos reduz a apêndices de condutas e convicções, 
que nos escraviza a identidades e funções.

 Contra a verdade afirmamos a liberdade
 de nossas incertezas e indeterminações,
expomos a errância como modo de estetização de nossa fugaz existência.


domingo, 5 de março de 2023

JULGAR E MATAR

Ninguém representa a verdade,
o justo, 
ou o caminho mais curto
para felicidade.

Ninguém é muito lúcido
ou honesto quando lhe cabe julgar,
defender valores,
 ideais ou princípios ditos universais.

Mas todos condenam, sem pudor, o outro.
Seja ele quem for.
É preciso ter um inimigo
contra o qual defender a verdade,
o justo e a humanidade.

É preciso sempre afirmar um massacre
para anunciar o parto do progresso da sociedade,
fundar um Estado ou uma religião.
A crueldade é o que nos torna humanos.
Nossos deuses sempre exigem sacrifícios.