quarta-feira, 24 de agosto de 2022

ATIVISMO NIILISTA

Inacabado e indeterminado,
Persisto no exercício de mim mesmo,
até a incerteza de ser outro,
ou estar desenganado ou morto
para os dias de hoje.

É certo que não tenho abrigo
ou lugar
em tempos de antagonismos
e racionalismo normativos.

Sou avesso ao fanatismo moral
dos meus inimigos.
Seja ele moderno ou tradicional.

Sei que sou nada,
mas reivindico minha impotência
como arma de guerra,
instrumento de sabotagem e protesto.

Percisto intempestivo contra o mundo,
a humanidade e os deuses,
apesar dos meus limites,
na espectativa de um fim absoluto.






terça-feira, 23 de agosto de 2022

DESEDUCAÇÃO

Nada do que me foi ensinado
guarda vestígio de algum amanhã.
É puro entulho, larva de esquecimentos,
Poluindo o tempo e a vida.

Desaprendo a existência todos os dias.
Quebro regras e paradigmas
para enterrar valores e convicções vazias.
Pouco me importa os pudores e limites
das civilizações.
Nada para mim é sagrado.

Aponto para os anos
nos quais estaremos todos mortos
e o inesperado há de cultivar
em terra incerta
outros modos de existência e vida.
Mas já não tenho mais nada
a aprender.






quarta-feira, 17 de agosto de 2022

IMAGINAÇÃO & PAISAGEM

Espírito é sonho,
matéria é espaço.
E o tempo é o incerto do corpo
entre a imaginação e a paisagem.

Sei que o mundo existe através de mim
mas eu não existo no mundo.
Sou na morte que se move em tudo
um ponto ilusório no campo de forças vivas
do quase infinito combate
 entre  as vontades e representações que inventam a realidade e suas dualidades.



sexta-feira, 12 de agosto de 2022

AS METAMORFOSES DO SILÊNCIO

Escrevo para transformar o silêncio.
Um silêncio que mesmo  imenso 
nunca para de crescer
e mudar nosso sentimento de mundo,
ou tudo aquilo
que ainda é possível escrever.

Este silêncio, misto de vida e de morte,
contém suspiros, gritos, rabiscos,
E, até mesmo, o ilegível de nossas angústias.

No fundo tudo que há para escrever
é o próprio silêncio em seu vir a ser.




terça-feira, 9 de agosto de 2022

INVENTAR A SI MESMO

Inventar-se é um ato cego,
Tanto quanto um processo,
que não carece de finalidade.

Inventar-se é emergir,
Cinfundir-se com a própria emergência.
Nada acontece além disso.
Tudo se inventa.

Não há profundidade,
fundamento ou razão,
onde todo acontecer é simulacro.

Não queira tirar disso
qualquer fundamento,
verdade ou conclusão.

Inventar-se é ocultar-se
no gratuito exercício de aparecer.
pois toda presença é incerteza
contra toda ilusão de ser.








segunda-feira, 1 de agosto de 2022

FUGA QUASE ABSOLUTA

Na soma de alguns tempos,
Lugares, músicas,
& Letras,
Inventei desvios e devaneios,
perigos e segredos,
Para fugir de tudo,
Renegar a vida
E o mundo,
Onde fui parido e esquecido
no  delito de qualquer delírio alternativo.



Criei o escândalo do meu erro mais certeiro,
Para sobreviver ao absurdo,
Cuspir nos doutos e eruditos,
e vomitar a  fábula de nossa perecível e duvidosa
Condição humana. 

O resto da minha história
é deserção e catástrofe
Numa linha reta para o ponto final
que desfaz toda ilusão de eternidade.

quarta-feira, 27 de julho de 2022

MISTÉRIOS TELÚRICOS

Nem tudo se degrada em palavra.
Há segredos na alma da matéria 
Que em silêncio e inconsciência
 reinventam a terra e o corpo
E duram além do instante incerto que os transcendem
Como precário e humano acontecimento.

Tais segredos acontecem além do espaço e do tempo,
Aquém do eu e dos outros,
Atravessando a vida em todas as formas inumanas e terrestres sem qualquer precisão.

Na infinita superfície das coisas mínimas
 os paradoxos coincidem os opostos
E transcendem a ordem que rege as palavras
E nos limitam a inteligência e a vontade ingênua de verdade,
Onde há apenas metáforas.

Tudo isso nos escapa,
Mas age dentro da gente
Na imanente presença de Gaia
Que tudo envolve no caos do seu ventre.


segunda-feira, 25 de julho de 2022

O NÃO SENTIDO DA POESIA

A poesia só faz sentido
Como intuição do sem nome da vida,
Como antecipação de um tempo absoluto,
Onde a realidade é um  sonho absurdo.

A poesia exige o corpo refeito em mundo
E o mundo desfeito em corpo.
Ela é a revelação inumana das coisas,
A superação do homem como medida da experiência.

A poesia é a quebra da representação,
A palavra incendiada e des- sacralizada.
Ela é o martelo que nos diz 
Que já é tempo de superar todos os rebanhos,
Enterrar tudo que é gregário,
E assumir de vez a insignificância de todo existir e presença.





quarta-feira, 20 de julho de 2022

O SEM NOME DA LIBERDADE

Liberdade não é uma palavra,
Mas a intuição de outro modo de vida,
De qualquer coisa que escapa ao nome,
A norma, a forma, e a lei.

Liberdade é aquilo que nos arde
Além da realidade,
Que foge ao tempo,
Ao espaço, identidades, poderes e mundos.

É a força de uma imaginação selvagem,
Que transcende os opostos,
Que cria na medida 
Que reduz tudo que existe
A incerteza de um sonho.

Liberdade é a arte,
Breve é a vida:
Solve et coagula.

terça-feira, 5 de julho de 2022

A VELHA ÁRVORE

Sou a velha árvore
Que me viu crescer,
Que soube a morte
Das coisas
Em seu próprio tronco
E cujas raízes
Buscaram o inferno
Para renascer.

O que fez nela o tempo
Que sonha nossas vidas?
A árvore não sabe dizer 
No invisível da memória
Que transcende a geografia.

O quintal vazio
Tem rosto de cemitério.