quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

A ARTE TRÁGICA

A arte trágica é aquela que afirma a vontade de potência contra a vontade de saber. No lugar da verdade como confissão moral, do saber como logos, ela propõe a violência do devir, o dionisíaco,  a criação e a gravidez como estratégias de imanência e invenção de linguagens e mundos , virtualidades... significação além de toda representação. Pois ela é  movimento sem finalidade.

A arte trágica é o saber da terra, da vida sem adjetivos, que nos inventa a morte como liberdade, contra todo ideal transcendental. Ela é o ficcional de uma racionalidade imagética e instintiva, pulsional, telúrica, selvagem e radicalmente libertária. Ela é uma formas de vida, contra condutas, movimentos aberrantes.

Tal forma de arte é um aprendizado de pele, um explorar do invisivel do mais extremo invisível do sensível. Ela não é um exercício de domínio, mas de queda e perdição.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

VIRTUALIDADE

Meu momento é o intempestivo,
O inconcebível do pleno acontecer do sem nome.
Minha vida é o amanhã adiado de um passado esquecido
Em qualquer amanhã ainda impossível,
O porvir que atravessa todos os tempos do mundo
E arde como relâmpago na imaginação dos homens.

sábado, 23 de janeiro de 2021

PALAVRA, FORMA DE VIDA, E A HISTÓRIA COMO VERDADE DA FICÇÃO

"...através de quais jogos de verdade o ser humano se reconhece como homem de desejo?"
Michel Foucault in Historia da Sexualidade II: O Uso dos Prazeres


Pertencer a uma maneira de viver (bios) é construir a si mesmo através da diferença, do estranhamento e vertigem que margeiam a tendência ao sedentarismo de uma identidade individual e coletiva. Produzir-se como forma de vida é realizar uma pragmática ou subjetivação da verdade contra o dizer verdadeiro de uma consciência domesticada pela confissão coletiva da verdade.
 
Verdade deixa de ser aqui uma tecnologia de assujeitamento, uma narrativa de fatos encadeados teleologicamente para apaziguar consciências no visível e dizivel da ordem e dos valores de uma racionalidade dominante.
 
A verdade, torna-se aqui , processo vivido na produção dos corpos, momento/movimento da produção de ficções históricas que em nada lembram os objetos opacos da historiografia. Pois se inscrevem na geografia de um pensamento movente inspirado por um diagnóstico do tempo presente, que insinua o inédito de novos modos de vida.
Parafraseando Hannah Arendt em A Condição Humana, através de nossas palavras e atos que nos inserimos no mundo humano, que sofremos um segundo nascimento, confirmando e assumindo o fato de nosso simples aparecimento físico original.



quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

FILOSOFIA DO NÃO SER

 

Faz tanto tempo que me perdi do mundo,

que transcendi chão e raízes,

que não me lembro mais

quem eu costuma ser, sentir e saber.


Hoje ando tão livre de tudo,

tão vazio de nada,

que me surpreendo intensamente rarefeito

em meio ao caos das coisas,

entre sustos e surtos.


TODAS AS DISTÂNCIAS

 

Todas as distâncias do mundo são, de algum modo, temporais. Pois o tempo é físico, concreto, em sua incorporalidade. Nossa condição humana é o resultado de tal paradoxo.

Todas as distâncias definem a consciência daquilo que nos afeta e nos conformam a ilusão da existência.

Todas as distâncias cabem no instante frágil de uma vida inteira….


ELOGIO DA LOUCURA

Metade de mim
Não acordou hoje.
Dorme pra sempre
Em recusa radical do mundo
E da realidade.
A metade acordada de mim,
Por outro lado,
Abraça em uma dança estranha
A mais potente insanidade.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

EXISTÊNCIA E ERRÂNCIA

 

Entre a lembrança e a experiência do agora a realidade foge ao tempo.

Existo fora do registro identitário,

à margem do discursos e comportamentos corriqueiros,

consumido aos poucos pelo fogo soberano da vontade.


Tudo em mim é natureza e indeterminação.

Enterrei todos os futuros no passado

E sigo vivendo esperando a morte.


Nada que faço importa.

Pois tudo que sou

está fadado ao esquecimento.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

POEMA OBSCURO

 

A consciência se perde no ignoto

como um rio desaguando no mar.

Saber sempre será muito pouco

diante do desconhecido.

Por isso nada faz muito sentido.

Não espero resposta ou soluções

para o grande problema e espanto

que é a existência como miragem

Que inventa o corpo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

A MORTE DA VIDA

Vida hoje em dia é uma palavra vazia.
Sobrevivemos para,
Cotidianamente,
Produzir a morte lenta
De nossos fatigados corpos.

Vida é coisa que não existe
Onde a alma escreve a prisões de normas e necessidades
 desqualificando o desejo .

Só há vida onde persiste a infância. 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

A INVENÇÃO DA VIDA

 


A invenção da vida se afirma em mim

como dissidência,

Busca,

de um silêncio que grita profundo

no raso de nossa existência.

Mas é também desistência,

renúncia,

de tudo aquilo que nos conforma

a simples sobrevivência.

 

Criar a vida é  vaga vertigem,

desmaio de consciência

num corpo onde a aparência é essência

em movimento.