terça-feira, 10 de setembro de 2019

EU CORPO


O eu transborda a linguagem.
Ele não cabe na consciência.
É extensão,
Corpo,
Matéria no espaço  movente
Que inventa o tempo,
Intensidades e afetos.
O eu é fragmento,
Desejo e necessidade
Como uma falta que preenche.
Tudo nele é relacionamento,
Espelho,
Composição provisória
Na incerteza do mundo.
O eu não é identidade,
Mas efeito.
Ele é o vazio
Entre o dentro e o fora.
Ele é  a dobra da ilusão
Que sustenta a realidade
E afasta a estranheza,
A certeza do caos.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

TRANSBORDAMENTO DISCURSIVO



Há  excedentes de sentido contaminando o entendimento.
O significado transborda em interpretações  conflitantes.
Nenhuma boa escolha é  possível na economia dos valores.
É sempre questão de subtração....

Impera um sentimento de dispersão,
De invenção e inversão
Que extrapola qualquer enunciado unilateral de verdade.

Posso tocar o ilegível  no nervo da frase,
Explorar os silêncios afundados no discurso,
Como um segundo texto invisível,
Contrariando quase tudo que foi dito.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

IMAGEM MÁQUINA




A lente da maquina
Nunca registra
Os sentimentos,
As curvas, obstáculos e velocidades,
Que definem a intensidade do movimento
 De um momento vivido.

A maquina sabe ver apenas uma vez.
 Ela é algo que registra,
Estabelecendo um olhar sem memória.

Seja um filme
Ou uma fotografia,
A imagem maquina carece de alma,
É impressão
Que vira signo,
Fora do tempo,
No sempre igual do presente
De um simulacro de eternidade.

Mas o que é a realidade além do seu próprio efeito
Como imagem arquetípica e simulacro?

SOBRE CONSCIÊNCIA E EXISTÊNCIA



É impossível separar consciência e existência na produção da vida através de seus efeitos. A consciência inventa a existência na mesma medida em que a existência inventa a consciência. Ambas se fundem em memória, em sentimento e ação. São expressão do corpo, do meio, em suas múltiplas intercessões de processos vitais, arranjos e metamorfoses.

No grande mosaico da natureza, há apenas encontros dentro de encontros até o infinito das conjunções hipotéticas. Tudo se interpenetra.

Cada um de nós é um ponto de interseção, um improvável arranjo que se inventa e reinventa a todo momento. Não sei o efeito de ser o que sou, pois sofro o efeito de tudo que me compõem como detalhe e paisagem, dentro e fora. Não há, portanto, propósito em definições sobre o eu ou o intelecto isolado do meio. Existir é ser a vontade que circula e age através de cada coisa. É ser tudo e não ser nada. É saber um mundo no grão de areia que sofre a praia. Cada arranjo provisório de coisas da natureza é um efeito e um micro universo de coisas em transição.

Tudo isso nos deixa perplexos diante da vida. Afinal, nenhuma definição de vida da conta da experiencia de viver. Nada vive em si mesmo.  A vida escapa a linguagem na composição de existências, na interseção do orgânico e do inorgânico.         

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

ALÉM DA VERDADE E DO ERRO


Existe uma zona de interseção  entre o erro e a ilusão  que define o afeto ou efeito de verdade.


Por isso todo autêntico exercício de pensamento deve voltar -se contra si mesmo, ir além de seus enunciados. 

Pensar é  um exercício sempre inconclusivo, perene. Algo próximo a uma brincadeira que sempre se renova como prática de imaginação.

Um pensamento que se insurge contra a verdade, dá liberdade a razão para devir, ser corpo e experiência. Torna-se  um modo ético de existir, configurando uma forma de vida além do erro e da ilusão de qualquer convicção. Tudo se faz, assim, experimentação.

A verdade é um preconceito moral que superamos ao mergulhar na imediata experiencia das coisas.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

CONFISSÃO NIILISTA



Não busco solução para problema algum.
O que procuro são as perguntas certas
Contra as respostas erradas.

Fujo ao feitiço da verdade,
Evito convicções
e abraço inconformismos.

Sigo sempre desencantado,
Sem esperar dos meus dias
Qualquer outra coisa
Que não seja
A superfícialidade do choque,
do espanto diante daquilo que já foi vivido.

Meu destino é a morte,
Meu caminho é a poesia.

Sei apenas a brevidade de tudo
Que me povoa o pensamento e os sentidos.

Entre a finitude e a imanência
quase não existo.


PERSPECTIVAS


Ser outra pessoa
Não  me traria o encanto
De qualquer felicidade.
Mas me faria, talvez,
Consciente de outras realidades,
De outras formas de sentir e saber a vida.
Tudo na existência,  afinal,
É  questão  de perspectiva.

sábado, 24 de agosto de 2019

TRANSVALORAÇÕES PòS HISTÓRICAS


Precisamos calar o silêncio  coletivo,
Quebrar as rotinas que pedrificam os atos,
Romper com os fatos,
com o dizer  verdadeiro e abstrato dos intelectuais,
Para saber os afetos materalizados
No fazer pequeno
que progride  através da composição  dos corpos.

Precisamos falar e reinventar a liberdade,
Gritar nosso sentimento de vida
Na urgência breve das eternidades.

O impossível é  a matéria da imaginação
Que engendra  futuros no devir dos atos.

Precisamos começar  a existir,
cotidianamente,
Contra a Razão  é a História,

precisamos sentir a nós mesmos
com máxima intensidade.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

FLUIDEZ EXISTENCIAL




Meus defeitos são  virtudes.
Estou sempre incompleto, 
limitado e errático.

Cada momento me faz  esboço
Do que posso ser.
Mesmo que nunca chegue o dia de ser.
Mesmo que o ser seja outro
A cada segundo de acontecer.