quarta-feira, 22 de março de 2017

ACONTECIMENTOS: BREVE ROTEIRO DE EXPERIENCIA



Gostaria de poder falar intimamente dos fatos, descreve-los como quem faz boa literatura. 


Pode-se explorar um acontecimento em sua singularidade, ignorando seus contextos e condicionantes. Um acontecimento é um labirinto. Pouco adianta lhe impor causalidades. É preciso, em lugar de explica-lo, percorre-lo como fato multifacetado em suas dinâmicas efêmeras. 


Vivemos perdidos em meio a nossas estratégias de significação das coisas fazendo de conta de que tudo faz sentido. Mas só existem acontecimentos amontoados e desarticulados se acumulando como degradada experiência perdida de um momento de realidade. Uma realidade que deixou de dizer uma ordem de mundo ou qualquer iminência de continuidade e futuro  

OS LIMITES DA CONSICENCIA



Esta suposta consciência de mim
Não me diz o mundo.
Não é suficiente, se quer,
Para expressar meu volúvel
Sentimento das coisas.
Não basta para lidar com o tempo
Que passa
Ou com todos os silêncios que me habitam.
É quase nada.
É quase nada este eu que me define em um nome
Através do infinito das minhas pequenas coisas.

segunda-feira, 20 de março de 2017

O FIM DO SENTIDO HISTÓRICO




A interpretação do passado inspirada pela modernidade, impõe a gramática da história o acontecer do Homem no tempo através de culturas e sociedades diversas, uma periodização linear das épocas recortadas e organizadas pela ideia de evolução e progresso. Mas, em sua vertiginosa pluralidade de fenômenos, o acontecer dos Homens no tempo resiste às narrativas da modernidade.
 
Poder-se-ia dizer, de modo provocativo, que todo tempo é tempo da natureza e que o devir humano não é o centro da ação do tempo e, muito menos, o Homem pode ser pensado fora da natureza.



Assim, os eventos históricos, inventados sob a inspiração de valores e intencionalidades modernas, não passam de meta narrativas cuja teleologia anula o passado como memória e silêncio, convertendo o tempo presente ao efeito que explica a causa, ou o passado em seu apêndice do presente.


Mas hoje, quando nossa consciência do tempo já não sofre tanto o peso das teorias do progresso e do cientificismo oitocentista, ela pode ser, de certa maneira, menos dependente das representações do passado.
 As codificações da memória coletiva, cada vez mais definidas por uma sensibilidade que toma por referencia a experiência vivida de um presente estendido, toma o passado como o inteiramente outro de si mesmo.
O passado é o exótico distante e perdido da experiência humana cuja contemporaneidade se dá como citação, como imagem/ objeto de referencias fragmentadas que não apontam para revelação de qualquer identidade, ou, ainda,sentido totalizante ou “evolutivo”. 

Sem um propósito histórico, o passado deixa de ser um instrumento do presente da forma-homem, para se tornar um território distante e estranho cujos ecos tentamos escutar por simples diletantismo.

A filosofia da Historia de Hegel nunca nos pareceu tão datada e o historicismo tão inútil.
 
A história não existe......

sexta-feira, 17 de março de 2017

SIGNIFICAÇÕES E INTERPRETAÇÕES OU O ABISMO DO SIGNIFICADO



O mundo é feito de intermináveis significações que se escrevem de maneiras distintas em uma pluralidade de ordens discursivas. Isso é o  mesmo que dizer que nossos enunciados só fazem sentido em função da percepção de seus destinatários. Assim, o que digo não  importa diante daquilo que é comunicado.  Sua compreensão depende das configurações de leitura do receptor. Hipoteticamente ele vive de enunciados distintos e traduz os meus para sua própria gramática a partir de um padrão de significações e tonalidades afetivas. Da mesma forma, não sou visto pelos outros da mesma forma como me vejo. Quanto mais tentamos nos comunicar e nos aproximar mais distantes nos tornamos. Esta distancia é o próprio significado vivido por cada um nesta experiência. Isto também se aplica aos hipotéticos leitores desta linha. Jamais farão uso deste paragrafo a partir da intencionalidade que inspirou sua escrita. O jogo da interpretação e significação é perverso...

A DÚVIDA COMO PRINCÍPIO



O desejo de saber cada vez mais e melhor,
Ir além do estabelecido,
Desloca a verdade como objetivo.
Desconfio de tudo o que é conclusivo,
Do que não pode ser relido,
Redefinido,
Questionado e superado.

Sou movido por inquietudes
Que jamais se calam.
Assim faço do pensar um oficio.
Sei que a existência é pura incerteza,
Apenas um conceito demasiadamente humano.
As vezes duvido, até mesmo que eu existo.