sexta-feira, 17 de março de 2017

SIGNIFICAÇÕES E INTERPRETAÇÕES OU O ABISMO DO SIGNIFICADO



O mundo é feito de intermináveis significações que se escrevem de maneiras distintas em uma pluralidade de ordens discursivas. Isso é o  mesmo que dizer que nossos enunciados só fazem sentido em função da percepção de seus destinatários. Assim, o que digo não  importa diante daquilo que é comunicado.  Sua compreensão depende das configurações de leitura do receptor. Hipoteticamente ele vive de enunciados distintos e traduz os meus para sua própria gramática a partir de um padrão de significações e tonalidades afetivas. Da mesma forma, não sou visto pelos outros da mesma forma como me vejo. Quanto mais tentamos nos comunicar e nos aproximar mais distantes nos tornamos. Esta distancia é o próprio significado vivido por cada um nesta experiência. Isto também se aplica aos hipotéticos leitores desta linha. Jamais farão uso deste paragrafo a partir da intencionalidade que inspirou sua escrita. O jogo da interpretação e significação é perverso...

A DÚVIDA COMO PRINCÍPIO



O desejo de saber cada vez mais e melhor,
Ir além do estabelecido,
Desloca a verdade como objetivo.
Desconfio de tudo o que é conclusivo,
Do que não pode ser relido,
Redefinido,
Questionado e superado.

Sou movido por inquietudes
Que jamais se calam.
Assim faço do pensar um oficio.
Sei que a existência é pura incerteza,
Apenas um conceito demasiadamente humano.
As vezes duvido, até mesmo que eu existo.

quarta-feira, 15 de março de 2017

CONHECIMENTO E PÓS MODERNIDADE

A Condição Pós Moderna de Jean Françoais Lyotard versa sobre o lugar do conhecimento nas sociedades mais desenvolvidas. Para o autor, sua maior característica seria a desconfiança ou incredulidade  em relação aos discursos inspirados por meta narrativas orientadas pela pretensão a Verdade.



“considera-se ‘pós-moderna’ a incredulidade em relação aos ‘metarrelatos’.

É, sem dúvida, um efeito do progresso das ciências, mas este progresso, por sua vez, a supõe. Ao desuso do dispositivo meta narrativo de legitimação corresponde sobretudo a crise da filosofia metafísica e a da instituição universitária que dela dependia.”

(LYOTARD, 1993, p. 3).



O saber deixou de ser emancipatório. Se é que o foi algum dia. Reduziu-se, mesmo em sua versão científica, a enunciados e narrativas pragmáticas cuja validação passou a ser considerada em bases muito mais modestas, pela sua eficácia performática.  



sábado, 11 de março de 2017

AFORISMO SOBRE A AGNOSTICA GERAL DOS DISCURSOS

A agnostica geral dos discursos proposta por Lyotard é uma forma cética e pragmática para lidar com as narrativas da contemporaneidade...

Somos todos escravos de nossos enunciados. Mas somos livres para leva-los as últimas consequências, produzir metamorfoses que escapam a qualquer pretensão meta narrativa.
O molecular, o particular, desconstrói o universal como simulacro da totalidade.... 
Nos permite escapar as normativas discursivas e inventar novas enunciados e jogos simbólicos.

sexta-feira, 10 de março de 2017

O SER ONDE NÃO SOU







Vivo do ser que percebo
E me percebe através das coisas
Como consciência de mim e do mundo.

Sou o eu e o outro,
O indeterminado lugar de sentido
Entre o dentro e o fora.

A realidade é feita de fronteiras,
Diálogos.
A percepção é a medida de todas as coisas.
Mas não diz o que somos.

Cada ato de consciência é de antemão enunciado,
Linguagem e teleologia.
Existo sempre onde não estou.

ESPERO QUE A VIDA ACONTEÇA



Espero que a vida aconteça algum dia,
Que em algum momento viver se faça acontecimento
Contra toda falta de sentido dos nossos dias vazios.

Não espero felicidade,
Apenas que a vida aconteça
Contrariando todas as nossas expectativas.

Sem razão ou objetivos,
Espero que a vida apenas aconteça...
Pode ser amanhã ou daqui a alguns anos.
Pode ser apenas por um instante.
O importante é que a vida aconteça.

quarta-feira, 8 de março de 2017

HISTORIOGRAFIA E ESTÉTICA



Toda historiografia ainda possível é uma gramática da comunicação, uma forma de estética. Penso em Verdade e Método de  H.G. Gadamer, ou contra ele. Existir no tempo é uma experiência estética,  uma busca da realização radical do ser como linguagem. Não sabemos o que é o mundo, mas ele nos é familiar. Esta é a premissa de nossa consciência das coisas como experiência do eu como desfundamentação de nossas vivencias imediatas e pragmáticas.


É preciso evidenciar a individualidade como uma vontade, como uma necessidade, como a única forma possível de saber o mundo, não mais como objeto, mas como experiência subjetiva ou de consciência.  A linguagem é logos e ethos, o lugar onde somos precariamente em espaço e tempo  de modo hedonista e concreto. Por isso existir é uma estética. O mundo só pode existir como linguagem, como obra de arte e subjetividade deslocada.

sábado, 4 de março de 2017

SOBRE O ATO DE ESCREVER

Quando escrevo é o próprio ato de escrever quem conduz o pensamento. Cada enunciado é um exercício de linguagem e não de reflexão. A palavra é o lugar onde o próprio eu se constrói. O pensar está na linguagem. Cada linha é um desafio que se materializa em verbo no meio caminho entre o signo e o símbolo. Escrever é inventar imagens e recriar as palavras através de uma narrativa. Assim, materializamos nossa consciência, nosso assombro de existir. Escrever é o que nos torna o que somos.

QUASE PRÉ SOCRÁTICO

Ultimamente não tenho estado triste.
Mas também não estive feliz ou alegre.
Apenas sobrevivi ao peso da minha consciência,
Mergulhei em silêncio no passar das coisas,
Percebi que nada é importante perante o devir...
Quase me surpreendi pré socrático, singular e impreciso como um instante de mar.