terça-feira, 12 de julho de 2016

NOTA SOBRE HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE

O tempo onde concretamente nos inserimos como indivíduos, não é um amalgama informe destinado ao domínio das circunstâncias e da opinião. Pode, ao contrario, fomentar reflexões e analises através do qual nos beneficiamos de nosso próprio testemunho para caracterizar e entender uma determinada época histórica. É uma premissa tola supor que a historiografia pressupõe distanciamento e que o vivido só pode se reduzir a fórmulas efêmeras de analise.


O testemunho ocular e a reflexão critica permitem, ao contrario, uma consideração mais apurada dos fatos que, longe de conduzir a construção de verdades, busca uma tomada de posição diante das circunstancias inspirada por uma apropriação não superficial dos fatos, seus desdobramentos e efeitos sobre as sensibilidades e sociabilidades individuais e  coletivas.  

IMPROVISO

Estou habituado a viver
De improvisos,
De piruetas e peripécias.
Não levo a sério o mundo,
As pessoas e as certezas cotidianas.

Tenho um universo inteiro
A ser inventado
Entre os abismos e imensidões
De mim mesmo.

Não me perguntem o que penso
Sobre qualquer tema,
Pois minha reflexão é livre
E incerta.

Amanhã não acordarei novamente
Para o hoje,
Mas sempre para o improvável
De um passado redescoberto.


segunda-feira, 11 de julho de 2016

CONHECIMENTO E SUBJETIVIDADE

As pessoas, de modo geral, acreditam demasiadamente em suas configurações egoicas e nas verdades objetivas como premissa de todo conhecimento. Tal “positividade” da capacidade de conhecer, em certa medida, apenas seculariza a metafisica, perpetuando o conhecimento como um acreditar ingênuo na possibilidade de formatar o real a partir de determinadas fórmulas conceituais e matemáticas.

Na contramão desta necessidade  de segurança simbólica e domínio conceitual da realidade, pode-se dizer que as novas tecnologias digitais, cada vez mais presentes no mero cotidiano,  criam a expectativa de  uma reconfiguração de nossos padrões cognitivos e mentais que, privilegiando o irracional do fluxo de imagens de pensamento, sobrepõem sob os fatos camadas de entendimento subjetivo de modo que, cada vez mais,  o real se faça um artifício ou uma simples questão de ponto de vista sobre os fatos.


sexta-feira, 8 de julho de 2016

GRAMÁTICA DE MIM MESMO

Não tenho tempo para escutar todos  os discursos.
A totalidade de vozes que povoam o mundo me escapa.
Mas sei que o que realmente importa
É escutar minhas próprias palavras,
Esclarecer meus medos, confusões
E emoções.
As pessoas falam demais
E na maioria das vezes
Não dizem nada  que o valha.
Eu, ao contrário,
Sei apenas falar sobre mim mesmo

Até quando falo dos outros.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

POEMA EFÊMERO

Venho de um tempo antigo
Onde ainda era possível
Acreditar no futuro.
Venho de muito longe,
De muito tarde,
Para sofrer o vazio do agora
Quebrado no vento
E em toda esta vida

Que me mata.

SOU FEITO DE NOITES...

Sou feito de noites,
Estrelas e luas
Na febre da imaginação
Que me inventa madrugadas.
Mas sou escravo do diurno
Nas vertigens da liberdade.
Quase não existo

Entre o impossível e o fato.

terça-feira, 5 de julho de 2016

ALIMENTAR O PASSADO

Não me sinto a vontade com o futuro.
Prefiro o passado e suas diferentes versões
De si mesmo.
Gosto de me abrigar nele.
Já o futuro é tão abstrato
Que não pode ser mudado.
Grande parte dele
Jamais chegará a existir.
No final das contas existimos

Apenas para alimentar o passado.

O IMPERATIVO DA INDIVIDUALIDADE

Considerado em sua integridade e totalidade, um indivíduo, mesmo aceitando o fato de que sua condição é socialmente estabelecida, goza de autonomia frente ao existir coletivo. A reapropriação singular do socialmente vivido é o que define o lugar da individualidade, sua capacidade de construir uma teia de significados e impressões singulares. É no plano biográfico que a imaginação humana revela-se de modo mais fecundo como fundamento da consciência e de toda percepção do mundo. Apesar de sua perenidade e fragilidade o acontecer do indivíduo é o que há de mais elementar na condição humana. Não é o individuo que existe para espécie, mas a espécie que existe para a produção do indivíduo.


segunda-feira, 4 de julho de 2016

TEMPORALIDADE E IMANÊNCIA

Considero o tempo a memória em movimento, consciência corporal das coisas, que não se restringe ou se enquadra no tempo linear, cronológico e artificialmente imposto pelas configurações modernas. O tempo da consciência é formatado pelo lembrar, que une passado e presente em uma continuidade de experiências abstratas. A organização temporal da mente não é um dado natural, mas cultural. O tempo é uma experiência mental que espontaneamente se realiza através de um fluxo de acontecimentos cumulativos onde a consciência expressa a justaposição de todos os três momentos temporais (passado, presente, futuro). A imanência é contemporânea de todo momento temporal, através dela eles coincidem em um só fluxo ou instante que é a nossa própria pre-sença no mundo. O momento de agora modifica tanto o antes quanto o depois ao afirmar-se como algo constante e mutável.


TÉDIO E EXISTÊNCIA

Tenho me explorado através do tédio
Atravessando todos os abismos de mim mesmo,
Me deslocado de todos os eus,
Dos meus pré moldados cotidianos.

Nenhuma definição dá conta de mim;
Sou como a soma errada de todas as faces que o tempo me impôs.
Duvido de qualquer determinação ou objetividade
Como fundamento da existência.
Pois em tudo somos indeterminada consciência das coisas.

Mas o que me diz a existência é este intimo mal estar,
O tédio natural de viver desta precariedade de estar no mundo
Quase a margem de mim mesmo e soterrado na vida.