quinta-feira, 30 de julho de 2015

A ARTE DE OLHAR

Toda vida que tenho
Cabe dentro dos meus olhos
Que mergulham famintos
Na paisagem
Buscando algo que não podem ver.
Toda vida que tenho
Cabe no tato no olho,
No cisco,
Na imaginação
De ver mais
Do que aquilo que vê
Contrariando toda metafísica.


quarta-feira, 29 de julho de 2015

ALÉM DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE

A realidade não é única,
Nem relativa.
Mas cada individuo
Habita seu próprio mundo
Feito por pessoas, fatos
E circunstâncias específicas.

Somos todos diferentes
E penosamente iguais.
Mas nada do que vivemos
É evidente.

Por isso é muito difícil,
As vezes,

Estar entre iguais.

OUTONO

Ainda ontem,
Mirei os passados que já me encaravam como um estranho,
De lá do outro lado do tempo.
Ainda ontem,
Me senti diferente, subtraído e provisório,
Quase um mendigo de mim mesmo.

Estava longe do antigamente,
Distante do hoje
E vazio do futuro.
Em que tempo verbal existia,
Não sei lhe dizer.
Eu apenas vivia
Com os meus restos de dia a dia
Enquanto o vento soprava
E o frio me envolvia.


TEMPESTUOSA EXISTÊNCIA

Tento obter o controle
Sobre os mares e tempestades
Do meu raso acontecer
Mais profundo.

Definido por irracionalismos
E subjetividades,
Me faço turvo
Enquanto me desfaço
No vago do pensamento.

Sou onde estou,
Mas não me reconheço
Em parte alguma
Do mundo que me define.


segunda-feira, 27 de julho de 2015

O ESGOTAMENTO DA REALIDADE

A mutabilidade é a única constante. Talvez a maioria das pessoas não percebam o quanto os nossos hábitos e usos das coisas cotidianas atualmente se modifica em uma velocidade delirante. Sim. Um novo modelo de celular, qualquer tecnologia nova  ou novidade tecnológica nos faz agir de modo diferente até o ponto em que nenhum costume ou rotina inspirada por uma tradição se faça possível.

A existência é cada vez mais definida por seus artifícios tecnológicos e apenas começamos a nos adaptar a esta necessidade constante de nos reduzir ao efêmero das rotinas e das coisas.

Sem perceber nos tornamos  prisioneiros de uma persona coletiva e de um eu em constante desastre, em ininterrupta metamorfose e busca alucinada pela mera sobrevivência. Sei que não estou dizendo nada de novo.  Mas coloco-me como questão a própria possibilidade de dizer, de romper com tudo aquilo que já ouvimos um dia sob a aparência de verdade.


É a própria possibilidade de uma gramática de um real que se esgota que me parece cada vez mais questionável atualmente.

NOTA SOBRE A CONDIÇÃO DE INDIVÍDUO

Atualmente julgo absolutamente inútil tentar abarcar o mundo. Sei que não posso viver todas as coisas possíveis, esgotar a vida e a realidade, través da pequena e simples equação do meu existir singular. Ser e se fazer um individuo não pressupõe o mundo e todo este labirinto de possibilidades possíveis de experiências das quais uma  existência inteira não é capaz de dar conta.


A qualidade de meus desnaturado cotidiano é que pode fazer diferença em meu acontecer biográfico. Sempre é preciso ousar algo maior do que o mero cotidiano. Mesmo que isso te mate.  Viver é efêmero demais para perder tempo com o tédio das rotinas. É preciso se expor a algum perigo, aceitar os riscos e ferir de morte o que até agora parecia possível. De algum modo precisamos transcender constantemente a superficialidade de nossos atos mais elementares.

domingo, 26 de julho de 2015

SOBRE O FUTURO COMO RUPTURA OU O FIM DA CIVILIZAÇÃO

Talvez o futuro permaneça como uma meta de ruptura entre o passado e o presente de nossa civilização, um horizonte de ruptura com tudo aquilo que até aqui nos definiu o mundo. Afinal, a cultura técnico científica esta longe de atingir um ponto morto, um estágio estacionário do conhecimento. Muito pelo contrário. A ciência se revela cada vez mais como um artifício de transformação do nosso cotidiano, dos nossos hábitos e modos de codificação do real. Talvez em menos de um século tal capacidade alcance o momento de colocar em jogo tudo aquilo que nos parecia real e possível até então. Confesso que aposto fervorosamente nesta audaciosa possibilidade. Viagens espaciais, por exemplo,  estão se tornando cada vez menos uma questão de ficção cientifica.
Nas palavras de Stephen Hawking in  O Universo em uma Casca de Noz,

“ A visão do futuro de Jornada nas Estrelas- de que atingiremos um nível avançado de, mas essencialmente estático- pode  concretizar-se quanto ao nosso conhecimento das leis básicas que governam o universo. Como descreverei no próximo capitulo, pode  haver uma teoria final que descobriremos  naquele futuro nõ muito distante. Essa teoria final, se existir, determinará se o sonho da propulsão de dobra de Jornada nas Estrelas poderá se concretizar. De acordo com as ideias atuais, teremos de explorar a galáxia de maneira lenta e tediosa, em espaçonaves viajando mais lentamente que a luz. Mas, por não dispomos ainda de uma teoria unificada completa, não podemos descartar a propulsão de dobra.
Por outro lado, já conhecemos as leis validas em todas as situações, exceto nas mais extremas: as leis que governam a tripulação da Enterprise, se não a própria espaçonave. Mas não parece que chegaremos a atingir um estado estacionário nas aplicações  dessas leis ou na complexidade dos sistemas que podemos produzir com elas.”


O futuro é, ao meu ver, um momento de ruptura profunda que nos obriga a superar a condição de inquietos filhos do tempo presente que se perderam do passado. Tudo um dia será o inteiramente outro de tudo aquilo que já foi e não deixou vestígios. Talvez um dia os vestígios do passado sejam apagados pelo novo.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

O PESADELO DE DESCARTES

A duvida de Descartes é pura metafisica...pois termina na afirmação do dualismo mente e corpo através da recusa da matéria. Somos mais complexos na arte de questionar do que a afirmação da duvida como falsa incerteza...
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Duvidar não é necessariamente questionar.
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O pensamento não é real. Mas só se realiza como um ato linguístico. O mundo é um exercício gramatical...



E O FUTURO BRILHOU NESTE INSTANTE COMO UM RELÂMPAGO

Na medida em que se aprofunda nosso conhecimento e imaginação do universo vamos perdendo nosso lugar neste mundo que significa qualquer coisa menor que nada diante do desmedido de tudo aquilo que existe e pouco ainda azemos ideias. O mundo vai deixando de ser nosso cruel limite e nos sonhamos  perdidos e absortos em meio ao desmedido absurdo que é o universo frente tudo aquilo que até hoje nos foi possível conceber.

Evidentemente, faço aqui especulações ... Mas se um dia parecíamos condenados aos limites do planeta terra, colocamos em risco todas as falsas certezas passeando na lua e descobrindo a terra como um pequeno ponto azul no indomável de uma galáxia.

Talvez o espaço seja tão vasto que não conheça fronteiras entre o micro e o macro e de  nossas noções de realidade. Talvez nada do que até agora foi pensado dê conta do que pode nos dizer a matéria escura...

Nada é o que soubemos e o que saberemos ainda é uma aventura. Mas  parece que se aproxima a hora da humanidade superar sua infância...


Estamos próximos do inicio da transfiguração de todos os valores.

INDIVIDUALISMO E CIVILIZAÇÃO

O que definitivamente faz um animal humanoide ascender à condição de um indivíduo humano? Afinal, a humanidade não é um dado natural. Tornar-se humano é uma questão complexa, uma construção configurada pelas possibilidades e limites de cada cultura e também pela superação dos seus padrões e normas.

No ocidente, o reconhecimento deste status, pode ser associado, portanto, a capacidade maior ou menor de cada pessoa inventar-se enquanto um individuo psicológico que se desloca do lugar comum do grupo em que se inscreve.

O peso de carregar a si mesmo é o que nos caracteriza como humanos. Somos tudo aquilo que conseguimos fazer diferente dos outros  com os recursos fornecidos por nossas matrizes culturais.

Inventar-se humano significa  essencialmente contrariar o rebanho...