terça-feira, 13 de setembro de 2011

SOBRE TEORIA DA EVOLUÇÃO E A DECADENCIA DO TRANSCENDENTAL: UM FRAGMENTO DE RICHARD RORTY

“...Darwin,entretanto, tornou muito mais difícil a tarefa de ser kantiano. A partir do momento em que as pessoas começaram a fazer experimentos com a própria imagem, como sendo o que Nietzsche, o fervoroso admirador de Darwin, chamou de “animais inteligentes”, elas começaram a achar muito difícil pensar em si mesmas como tendo um lado transcendental ou numeral. Além disso, quando a teoria da evolução de Darwin foi associada à sugestão de Frege e Peirce, antecipada por Herder e Humboldt, de que é a linguagem, e não a consciência  ou a mente, o diacrítico de nossa espécie, a teoria da evolução de Darwin tornou possível ver o comportamento humano- incluindo o tipo de comportamento “superior” anteriormente interpretado como como a satisfação do desejo de conhecer o incondicionalmente verdadeiro e fazer o incondicionalmente correto- como sendo contínuo com o comportamento animal. A origem da linguagem, ao contrário da origem da consciência, ou de uma faculdade chamada “razão”, capaz de apreender a natureza intrínseca das coisas, é inteligível em termos naturalistas. Podemos dar o que Locke chamou de uma “explicaão simples, histórica”, de como os animais pararam de lidar com a realidade e começaram a representa-la, muito menos de como os animais pararam de ser entes meramente fenomenais e começaram a construir o mundo fenomenal.
Podemos, é claro, nos apegar a Kant e insistir que Drarwin, assim como Newton, apenas nos contou uma história sobre os fenômenos, e que as histórias transcendentais tem precedência sobre as empíricas. Mas eu suspeito- e espero- que que os cento e tantos anos que passamos absorvendo e aperfeiçoando a história empírica de Darwin nos tornaram incapazes de levar histórias transcendentais a sério. No curso desses anos, a substituímos gradualmente a tentativa de nos vermos do lado de fora do tempo e da história, pela construção de um futuro melhor para nós mesmos- uma sociedade utópica, democrática. O desejo de ver a filosofia como nos auxiliando a nos transformarmos, ao invés de nos conhecermos, é outra.”

Richard  Rorty in UM MUNDO SEM SUBSTÂNCIA OU ESSÊNCIA in  PRAGMÁTICA. A FILOSOFIA DA CRIAÇÃO E DA MUDANÇA. Organização de Cristina Magro e Antônio Marcos Pereira. BH: Editora UFMG,2000, p.91-92  


UM MUNDO SEM RUPTURAS

“Quando desistimos da ideia de que o sentido do discurso é representar acuradamente a realidade, perdemos o interesse na distinção entre os construtos sociais e outras coisas. Passamos a nos confinar ao debate a respeito da utilidade de construtos sociais alternativos.”

 Richard Rorty in ÉTICA SEM OBRIGAÇÕES UNIVERSAIS

Inventa-se um mundo novo todos os dias. Entretanto, ele não nos parece muito diferente daquele que abandonamos no dia anterior. Pois na contemporaneidade, a ideia ou sentimento de ruptura em nosso agir coletivo diluiu-se na vivencia de um cotidiano fluido e opaco onde mudanças são apenas mudanças. Afinal, já não há codificação possível da realidade que transcenda sua condição de discurso, de jogo, onde tudo o que importa é sua própria construção e não a adequação aquillo que convencionamos chamar de real... Atingimos um estágio civilacional que já não pode saltar sobre si mesmo...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

POEMA IMANÊNCIA


É preciso guardar
Um pouco de azul
Nos olhos
Para saber
Um dia de sol,
Combinar luz
E trevas
No corpo abstrato
Dos fatos
Em pluralidade de formas
Que nos apresentam
Todas as coisas
Em gratuitos gestos de existência...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

NOVÍSSIMO SISIFO


Faço-me
Nos pequenos acasos
De um dia aberto
Em festa de fatos.

Faço-me no provisório
E transitório território
Do devir de mim mesmo,
Na sucessão de momentos
Que compõem meu próprio rosto.

Em nada, entretanto,
Vislumbro-me sólido
Ou seguro...

Ao final do dia,
Bem sei,
Estarei desfeito.

VIRTUAL FUTURE

A partir de agora
Viverei apenas
Para o dia seguinte,
Para o virtual
Dos amanhãs pretendidos
Contra os limites do tempo de agora.

Serei em tudo
Futuro,
Onírica versão
Das vontades e delírios
De passados arrependidos...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

NOTA SUBJETIVA SOBRE O COTIDIANO SENTIMENTO DO PASSAR DAS COISAS

Não é a percepção do devir cronológico que nos sugere o devir do tempo vivido, mas a vaga consciência de que cada intervalo cronológico caracteriza-se por um leque específico de possibilidades e opções que lhe são próprias.



Assim, a constante desconstrução de cada momento de aqui-e-agora , que é sucedido por outro equivalente, inspira-se no caráter múltiplo do próprio aqui-e-agora, e não em qualquer aparente linealidade inerente a fenomenologia da temporalidade.



Em outras palavras, o sentimento humano da mudança, nossa percepção do passar do tempo e das coisas, é na verdade qualitativa, e não quantitativa como sugere a rotina de um relógio ou a atenção de um cronômetro.



Todas as coisas se transformam em nossa percepção de todas as coisas e não nas próprias coisas...

TEMPO E BOEMIA

Orientado por um relógio



De ponteiros quebrados


Que acompanha o movimento


De despidas horas,


Bebo um pouco


Do tempo dos outros


Em um canto de mesa


De bar e sombra.


Espero a conta


Do dia seguinte


Em goles de sereno


E acaso...

A IMPESSOALIDADE DAS SENSAÇÕES

As sensações



jamais envelhecem,


não se prendem


a qualquer rosto


ou memória.


Ocorrem


O tempo todo


E em todas as partes


Nas infinitas possibilidades


Do acontecer humano


Disperso


Pelos quatro cantos do mundo...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

MINHAS MORTES

Diante de mim
A sombra
De uma antiga fotografia
Desdiz o tempo presente,
Acorda a memória morta
De coisas irremediavelmente
Perdidas
Em um rosto que fui um dia
Mas no qual hoje
Não reconheço
O mínimo traço de mim mesmo...


Minhas tantas mortes vividas
No devir do tempo
Sem datas e sem cerimônias,
Não passam,
Percebo,
De um grande e mudo silêncio.

UNIVERSOS PARALELOS E BIOGRAFIA: UM OLHAR IMAGINARIO

QUANTAS REALIDADES EXISTEM DENTRO DOS VIVIDOS CENÁRIOS DE UMA VIDA?

TUDO AQUILO QUE NÃO ACONTECEU PARECE-ME ESCRITO NO OCORRER BIOGRÁFICO COMO FANTASMA QUE DEFINE TUDO O QUE É E QUE FOI...

POIS O TEMPO VIVIDO NÃO É LINEAR, É COMO UMA ESPIRAL A REFAZER-SE SOBRE SI MESMA EM UM LABIRINTO DE COISAS QUE TENDEM A UM QUASE INFINITO DE POSSIBILIDADES ONDE TODOS OS DESTINOS QUE NÃO VIVEMOS NOS OBSERVAM EM SILÊNCIO...

AQUILO QUE SOU HOJE GRADATIVAMENTE SE DEFINIU, BEM SEI, ATRAVÉS DE SEUS VAZIOS E DESREALIDADES...

SOMOS DE MUITOS MODOS FEITOS DO QUE NÃO VIVEMOS E DO QUE NÃO NOS TORNAMOS...