terça-feira, 16 de dezembro de 2008

NADA

Nada me leva
A nada,
Como se o dia
Fosse apenas
O esforço
Mecânico e inútil
De ser entre o céu
E a terra,
Entre dias e noites,
Até o cansar do tempo.

Tudo é inútil movimento
Na soma aleatória de acontecimentos
Abandonados ao chão frágil de cada biografia.

Nada me leva
A nada.
Mas o nada
Nunca é vazio...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

METALLICA E A FILOSOFIA: O CLUBE EXISTENCIALISTA E O SENTIDO DA VIDA


Dentre os ensaios reunidos em METALLICA E A FILOSOFIA merece destaque A MILICIA DO METAL E O CLUBE EXISTENCIALISTA de Jemery Wisnewski que a partir de um dialogo com o existencialismo de Albert Camus, J P Sartre, Heidegger, e algumas letras da banda, aborda o tema do sentido da vida e o absurdo que é a existência humana e nossas respostas pessoais a esse mesmo absurdo.

Afirmar que o Metallica é uma banda existencialista, como faz o autor, significa também afirmar que em sua recusa niilista do real ela nos oferece o desafio de uma escolha, de uma alternativa de sentido e significado que impõe-se na medida em que nos descobrimos e construímos como indivíduos. Em outras palavras:

“ O existencialista desafia o absurdo. Criar uma vida significativa apesar da falta de sentido intrínseca da vida- esse é um ato heróico. Nós devemos encarar a vida como arte- escolher a participação em projetos que não tenham valor intrínseco simplesmente porque podemos. Em um mundo desprovido de qualquer significado transcendental, devemos inventar o nosso significado. É a tentativa de criar significado, sentido, diante do absurdo que domina Kill’Em All, do Metallica.”

(Jeremy Wisnewski. A Milícia do metal e o Clube Existencialista. In Metálica e a Filosofia; Um curso intensivo de cirurgia cerebral/ tradução de Marcos Malvezzi SP: Madras, 2008. p.67 )

Entretanto, o mais existencialista dentre os álbuns iniciais do Metallica talvez seja Ride de Lightning e sua atmosfera apocalíptica. Retornando ao texto citado:

“Um tema recorrente na musica inicial do Metallica- mas principalmente em Ride the Lightning- é a inevitabilidade da morte. As canções deste álbum servem a um propósito existencialista: elas revelam a finitude humana, o fato de a vida chegar a um fim inevitável. A unicidade da morte de cada indivíduo serve para distinguir um ser humano do outro. O filósofo Martin Heidegger ( 1889-1976) afirmava que a morte é a única coisa que os seres humanos precisam fazer sozinhos. E por causa disso, a morte individualiza as pessoas. Quando percebo que só eu posso morrer minha morte, Heidegger diz, reconheço que sou fundamentalmente diferente de você. Nossa morte iminente nos obriga a ver que somos indivíduos- que a nossa existência não pode ser reduzida à existência da multidão.”

( Idem p.68 )

Entre a morte, o absurdo do mundo e as letras do Metallica, surge um complexo cenário de pensamento onde o pano de fundo é nossa própria existência, nossa incessante busca por algum significado em um mundo sem sentido. Esse significado, entretanto, é necessariamente nossa própria singularidade, nossa individualidade em construção e desconstrução permanente ao sabor do tempo. Se não há caminho que nos leve para fora do absurdo que é o mundo, das angustias que nos povoam, resta-nos, entretanto, a alternativa da autenticidade. As escolhas que fazemos sem o conforto das convenções morais ou o peso das tradições culturais,os compromissos assumidos com nossa própria e complexa subjetividade e suas conseqüências, são tudo o que ainda nos faz de algum modo sentir a presença real de um rosto.
Complementando essa perspectiva, em METALLICA, NIETZSCHE E MARX: A IMORALIDADE DA MORALIDADE, Peter S. Fost nos lembra a questão da “falha de Deus” ( God that failed), e os limites de uma resposta religiosa

“Em canções como Leper Messiah e God that Failed Metallica acusa a religião de falha moral e, com isso liga-se a uma tradição filosófica que remonta a pensadores como Voltaire, Hume, Lucrécio, Sócrates e Xenofanes. De acordo com esses filósofos, o que as religiões prescrevem como moralmente “bom” é, na verdade, moralmente ruim ou errado. O que as religiões afirmam ser “correto” é, ao contrário, corrupto. O que elas descrevem como “piedoso”, é , na verdade, perverso. O que apresentam como a “verdade” é um engodo. Já que a religião tem um efeito tão grande nas idéias costumeiras acerca da moralidade em nossa sociedade, o que passa por moralidade costuma ser, de fato, um emaranhado pútrido de i moralidade”.

(Peter S. Fost. Metallica, Nietzsche e Marx: A imoralidade da moralidade. In Metálica e a Filosofia; Um curso intensivo de cirurgia cerebral/ tradução de Marcos Malvezzi SP: Madras, 2008. p.83 )

Mas a critica a religião é também uma critica a idéia de verdade, o que nos leva a assumir a ontológica incerteza que define a condição humana, o que é também qualquer espécie de meta existencialismo...
Cabe, portanto, para finalizar este texto, reproduzir aqui um fragmento do ensaio CRER E ENGANAR: METALLICA, PERCEPÇÃO E REALIDADE de Robert Arp:

“ Eu adoro berrar estas palavras do primeiro verso de “Bad Seed”: “ Come clean/ Fess up/ Tell all/ Spill guts/ Off the veil/ Stand revealed/Show the card/Bring it on/ Break the seal” [ Venha limpo, fale tudo, ponha tudo para fora. Tire o véu, e se revele. Mostre a carta. .Venha com tudo. Quebre o lacre]. Quando acabo de berrar, geralmente eu penso na diferença entre o modo como percebo as coisas, o que esta velado, e como as coisas são de fato, como é a realidade, o que é revelado. No que consiste a “realidade” de uma pessoa? A realidade é apenas “meu mundo”, minha coleção de percepções e idéias, ou será que existe um mundo fora de mim? Se existe uma realidade alem de minhas percepções, eu quero estar seguro em meu conhecimento da realidade. Assimn como Hetfield, eu quero saber “Is that the moon/ or just the light that lights this dead end street?/Is that you there/or just another demon that I meet?” [ Aquela é a lua, ou é só uma luz que iluymina essa ruía sem saída? É você que esta aí, ou mais um demônio que eu encontro?].

( Robert Arp. Crer e Enganar: Metallica, percepção e realidade. In Metálica e a Filosofia; Um curso intensivo de cirurgia cerebral/ tradução de Marcos Malvezzi SP: Madras, 2008. p.163 )

KISS-ME

Meus lábios vazios
Aprenderam a sonhar
A meta realidade
Do acontecimento de um beijo,
Ao vislumbrar o labirinto
Do segredo vivo das sensações
Simples,
Até o limite hibrido
Entre a verdade e o sonho
Alem de toda fantasia.

Nas profundezas do saber o corpo
Saboreio pensamentos soltos
Que atualizam a falsa crença
Na criança que fui um dia.

WONDERLAND


Sei que não sou eu
Aquela pálida face
Que me observa
Sem saber sequer que existo
Ou existe.

Surpreendo,
Na superfície do espelho,
Um rosto quase meu,
Provisório,
Completamente em silêncio
No traço duro, sem expressão,
Talhado por algum nada,
Quase absoluto.

Visitante, talvez,
De alguma outra
Paralela e simétrica
Realidade
Onde,
Vazio de mim mesmo,
Eu viva a vida unicamente
Na objetividade precária
Do mundo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

METALLICA E A FILOSOFIA...


Uma obra realmente indispensável à estante de qualquer amante do rock e, especialmente, a dos fãs ns do Metallica, é a original e fascinante coletânea organizada por William Irwin, Metallica e a Filosofia: Um curso intensivo de cirurgia cerebral. O organizador, professor associado de filosofia em King’s College, Pensilvana, notabilizou-se pela edição de trabalhos coletivos que, tais como este, aproximam os temas e questões clássicas do pensamento filosófico do vasto e complexo universo de nosso imaginário contemporâneo. O melhor exemplo talvez seja a também coletânea Matrix: Bem vindo ao Deserto do Real ou Seinfeld e a Filosofia.
Falando especificamente desta coletânea, dedicada aquela que pode ser considerada a maior banda de Heavy Metal ainda em atividade nos Estados Unidos, a primeira coisa que chama atenção é que pelo rigor e espontaneidade dos textos e a coerência com que os autores aproximam as letras do Metallica de questões filosóficas complexas como a falta de sentido da existência e sua resposta existencialista, ou a complexa filosofia moral de Kant, pode chamar atenção até mesmo de potenciais leitores que não tenham diretamente qualquer afinidade ou interesse pela musica do Metallica.
O livro é dividido em cinco "discos": O primeiro, “Seguindo através do Nunca” reúne ensaios dedicados a uma quase apresentação da banda e sua mensagem, abordando temas como a rejeição positiva e necessária das virtudes cristãs, alcoolismo, loucura, mas acima de tudo, auto afirmação. Já o segundo "disco" Existensica: o encontro do Metallica com o Existencialismo, dispensa qualquer apresentação. O considero o melhor de todo o livro, especialmente pelos brilhantes ensaios de Jemery Wisnewski “A Milícia do Metal e o Clube Existencialista” e o de Philip Lindholm “ A Luta Interior: Hetfield, Kierkegaard e a busca pela autenticidade”. O terceiro "disco", “ Viver e morrer, rir e chorar”, nos conduz a questões espinhosas como suicídio, eutanásia e pena de morte, enquanto o quarto “ Metafísica, epistemologia e Metallica” nos confronta com temas como o da relação mente corpo, percepção da realidade e identidade. Por fim, o quinto "disco", Fãs e a banda, é dedicado mais diretamente a relação da banda com seus fãs sem entretanto cair na mera apologia gratuita e passional.
O maior valor dessa desafiadora brochura negra é o de nos induzir ainda hoje a explorar o vinculo vital ao rock clássico dos anos 60, entre algo que poderíamos chamar de Contra Cultura, a filosofia formal e o Rock enquanto uma matriz cultural permanente associada as inquietudes e questionamentos do individuo frente as convenções e conformismos que em maior ou menor medida condicionam a existência de cada um nas tantas redes de sociabilidades que definem as pós sociedades do mundo contemporâneo.

PERSONAL POEM

Vejo em seus olhos
Todas as coisas do mundo.
Pois o amor
É pródigo em enganos
Quando a razão
Se rende a emoção.
Mesmo assim,
Queria eterno esse
Momento,
Onde
Pela certeza dos corpos
Percorremos
Incertezas de pensamento
Até o ponto
De saber o mundo
Lá fora
Como mera ilusão...

GREEN POEM

A Lua
Ainda espia florestas
Enquanto o sol
Supera o horizonte.

O verde dança
Entrelaçado com o vento
A suave melodia das pequenas coisas.

Pedras contemplam a eternidade
Em estranhos e silenciosos diálogos.

O mundo parece tão simples
Quanto o ar que respiro
Na linguagem viva
Das sensações do corpo
Sem qualquer pensamento
Ou rosto.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O CORPO COMO MEDIDA DE TODAS AS COISAS HUMANAS


“Desse mundo físico, em si mesmo desinteressante o homem é parte. Seu corpo, como qualquer outro tipo de matéria, é composto por elétrons e prótons, que, até onde sabemos, obedecem às mesmas leis a que se submetem os elétrons e prótons que não constituem animais e plantas. Alguns sustentam que a fisiologia jamais poderá ser reduzida à física, mas seus argumentos não são muito convincentes, de sorte que parece prudente supor que estejam errados. Aquilo que chamamos de nossos “pensamentos” Prece depender da disposição de trilhos em nosso celebro, do mesmo modo que as jornadas dependem de rodovias e das estradas de ferro. A energia utilizada no ato de pensar parece ter uma origem química; por exemplo, uma deficiência de iodo fará de um homem inteligente um idiota. Os fenômenos mentais parecem estar intimamente vinculados a uma estrutura material. Se assim é, não podemos supor que um elétron ou um próton solitário seja capaz de “pensar”, seria como esperar que um indivíduo sozinho pudesse jogar uma partida de futebol. Tampouco podemos supor que o pensamento individual possa sobreviver à morte corporal, uma vez que ela destrói a organização do cérebro e dissipa a energia por ele utilizada.”

(Bertrand Russell No que Acredito/ tradução de André de Godoy Vieira. Porto Alegre: L & PM, 2007, p. 31)




Raramente nos damos conta do quanto a vida é essencialmente determinada pela carne e pelo sangue, o quanto somos essencialmente nosso corpo físico, que não é apenas cede do desejo, do prazer, da necessidade e da dor, mas a medida de todas as coisas humanas, a começar por aquilo que concebemos como realidade.
A tradição judaico cristã, uma das matrizes do imaginário ocidental, fundamenta-se, entretanto, justamente sob a recusa do corpo e do mundo material em beneficio de um ideal vago e abstrato de espiritualidade. Mas tal tradição hoje em dia foi de muitas maneiras ultrapassada pelos novos saberes constituídos pelas ciências medicas/biológicas cuja aplicabilidade no cotidiano complexibilizou consideravelmente nossas representações e experiências do corpo e suas dinâmicas. Nosso corpo já não é mais uma silenciosa sombra opaca, como se manteve na cultura ocidental até, pode-se dizer, o séc. XIX. Tornou-se, ao contrário, objeto de atenções e cuidados, de uma estética e disciplina, que pouco a pouco promovem a superação de suas representações como um mero objeto, como algo externo ao nosso “eu”, para transformá-lo em sujeito, como aquilo que essencialmente somos.
A importância de tal reconfiguração cultural mostra-se decisiva para redefinição do locus do indivíduo, especialmente no caso da afirmação dos direitos das mulheres, quando pensamos na descriminalização do aborto como condição da conquista do livre arbítrio e dominio sobre o próprio corpo em exercicio de subjetividades, escolhas e vivências.

TEMPO E INSTANTE

No cotidiano rito
De vestir rotinas
Bebo as horas,
Escrevo-me em devaneios
Até o limite do mero estar aqui e agora.


Sinto que em tudo
Passo,
Que me faço passado
Em cada ato de certeza e futuro.

Quanto maior
O tempo
Acumulado no corpo
Menor se torna
A certeza no rosto.

Que importa?
Em meu presente
Sei todos os tempos vividos
No eterno sabor de um instante
magico e infinito.

A ROTINA PELO AVESSO

Respiro um descartável céu azul
Na gratuita manhã
Que me impõe a vida.

Sei de antemão
o dia que terei...

Mas pequenos fatos visitam-me
Como uma brisa fresca
No calor da rua
Sussurrando o imprevisível....

Apreendo o nada
Que será
Amanhã