quinta-feira, 29 de novembro de 2007

INTERPRETAÇÃO POETICA ONIRICA

Sonho a paisagem
De um quadro
Onde em um plano
Sobre outro
As cores devoram formas
Desafiando estéticas
No império das sensações
Que explodem
No mágico desregramento
Da percepção.
O que de fato sei nisso?
Abstração lírica
Ou delírio?

terça-feira, 27 de novembro de 2007

ARTE E CONHECIMENTO

O imaginário estabelecido pelos mitos religiosos e seculares que definem o imaginário ocidental nos proporcionam a cândida ilusão de que há sentido em tudo, de que tudo é passível de interpretação e significado, quando na verdade o mundo é apenas a consciência que temos dele.
Nosso tempo presente define-se sob o signo do não sentido, por uma incômoda imagem de um mundo que se torna cada vez menor, menos cogniscível, pela aventura da palavra e a magia de qualquer definição de verdade.O negativo, o virtual e o silêncio formam a trindade paradigmática de uma nova modalidade irracional de percepção do real onde aprendemos ou re aprendemos o conhecimento como o mais desafiador exercício artístico.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

CRÔNICA RELÂMPAGO XIV

Raramente nos damos conta do passar dos anos em nossas vidas, refletimos sobre as transformações e marcos biográficos que nos organizam as fases e ritmos da existência. Viver é um espontâneo e aleatório movimento de coisas, um fluir de mim mesmo no tempo e no espaço que molda o corpo e a alma no acumulo de pessoas e fatos...
Confesso que às vezes minha própria existência afigura-se como um gigantesco acontecimento sobre o qual não possuo qualquer domínio e impera o caprichoso acaso como arquiteto dos meus incertos caminhos. Reconheço-me mais nas pessoas que freqüentaram-me ao longo dos anos do que propriamente em meu próprio rosto.

LITERATURA INGLESA XIV


Sir Arthur Conam Doyle ( 1859-1930 ), nasceu na Irlanda em uma família modesta. Apesar disso, formou-se em medicina e conquistou fama e prestígio ao escrever As aventuras de Sherlock Holmes, personagem que se converteria em um dos maiores mitos da era vitoriana.
Escreveu ainda romances históricos centrados na carismática personagem do brigadeiro Gerard, herói das guerras napoliônicas. Cabe ainda citar o “Mundo Perdido”, curiosa novela sobre uma expedição científica liderada pelo paleontologista George Challenger, a lugares remotos da selva amazônica com o intuito de provar a existência contemporânea dos dinossauros. Esta última obra originou uma adaptação para o cinema em 1925 pela First National Picture que alcançou significativo êxito devido aos seus efeitos especiais considerados inovadores na época. O que não impediu sua obscuridade com o surgimento do cinema falado nos anos seguintes.
Não é nada fácil comentar em poucas palavras a prodigiosa imaginação literária de Conam Doyle onde a ciência, de braços dados com a aventura, afirma-se como expressão viva da singularidade humana. Tanto no caso de Holmes quanto no de Challenger nos deparamos, de formas diversas, com homens obcecados pelo conhecimento e comprometidos com uma racionalidade heterodoxa, desafiadora do cânone do saber científico.
No caso especialmente de Holmes é clássica a passagem do “Símbolo dos Quatro” em que assim justifica o uso de cocaína:


“Minha mente rebela-se contra a estagnação. Dê-me problemas, dê-me trabalho, dê-me o mais abstruso criptograma ou a mais intrincada análise, e estou no meu elemento. Posso então dispensar estimulantes artificiais. Mas detesto a rotina monótona da existência."

domingo, 25 de novembro de 2007

FAREWELL

A sonolenta luz
De um sol triste
Espalha silêncios
Sobre as coisas.
A vida veste-se de calma
Escrevendo no corpo
A paz das despedidas.
Despido de tudo
Recebo a noite
Como uma promessa
No esvaziar-se sereno
De mais um dia
Dentro de mim
Surpreendo o acordar
De mudos acasos
Que me dizem nas núvens
Em crepúsculo
O segredo máximo da natureza:
Farewell...

CONTRAMÃO

Espero passivo
Um dia
De não pensamento,
De silencio de idéias
Na bucólica paisagem
De um sítio de sonho.
Enquanto meu tempo
Corre
Na contramão
Dos fatos.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

ODES DE ANACREONTE


As chamadas Odes Anacreônicas foram originalmente difundidas na Grécia hlênica. Ou seja, naquele momento em que a civilização grega, após as conquistas e morte de Alexandre, se universalizava e transformava a partir dos intercâmbios culturais com o Oriente Trata-se, na verdade, de um período de transição entre o classicismo grego e a majestosa Roma imperial. A autoria destas Odes é controversa e o exato período de sua composição imprecisa.
Mas o que, entretanto, aqui realmente importa, é a sintonia possível entre o leitor contemporâneo e esses versos antigos que consagram, a partir das referências de sua própria época, o sensualismo, o prazer, a vida e o desregramento; onde indiretamente nos falam o velho deus Dionísio, Afrodite e Eros.
Seguem alguns pequenos exemplos:

CANTO BÁQUICO


Sempre que bebo o alegre vinho,
Logo, de coração contente,
Eu vou as Musas celebrar.

Sempre que bebo o alegre vinho,
Lanço os cuidados e o prudente
Conselho inquieto, dos que o entoam,
Ao léu dos ventos que ressoam
Como os barulhos lá do mar...

Sempre que bebo o alegre vinho,
Baco ( do mal quem livra a vida),
Em vernal brisa reflorida,
Como me eleva e agita no ar...

Sempre que bebo o alegre vinho,
Flórea coroa- que se teça
Aos deuses- ponho na cabeça
E canto a vida sã, feliz!

Sempre que bebo o alegre vinho,
E aromas suaves em mim chovem,
Celebro a Cípria- que assim quis...

Sempre que bebo o alegre vinho,
Bem a meu gosto, em taça grande,
Simples, minha alma, enfim se expande
Nos coros jovens, com prazer.

Sempre que bebo o alegre vinho,
Tenho o meu ganho na partida:
Tudo o que levo desta vida
-Pois todos temos de morrer!

PRAZERES VENAIS

Que belo diverti-me à toa
Onde estão prados luxuriantes,
Quando agradável, tênue, voa
A aura dos Zéfiros errantes!
De Baco os cachos, novos ainda,
Ver sob as folhas e poder
Nos braços tenra jovem, linda,
Que exala a própria Cípria, erguer!

ODES de Anacreonte/ tradução de Almeida Cousin. RJ: Editora tecnoprint ( coleção Sabedoria e Pensamento, s/d.)

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

ICARO


O Sol brilha
No espaço impossível
Indiferente a terra
Aberta em cores,
Formas e odores.

Ventos consagram vertigens
No acontecer urbano
Onde o sonho dos pássaros
E a ambição de palavras
Escrevem a humanidade
Em nostalgia de luas.

Talvez o futuro
Escrava-se no rosto
Como um céu azul
Quase impossível.

TEMPO PESSOAL

Meu tempo corre
Na contramão dos fatos.
É quase uma ilusão verdadeira,
Onde espero passivo
Um dia
De não pensamento,
De silêncio de idéias
Em bucólicas paisagens
De sítios de sonhos.

Meu tempo é a espera
Do primeiro dia
Do resto de toda a vida
Possível.

domingo, 18 de novembro de 2007

GEORGE STEINER E A PÒS CULTURA


Em fins dos anos 60, quando eram esboçadas as primeiras tentativas de conceituação de uma ficção pós moderna, o crítico literário George Steiner, inspirado pelas “Notas para Redefinição de Cultura” de Eliot ( 1948), formulava o conceito de Pós cultura, buscando dar conta de um conjunto de fenômenos que apontavam para uma profunda transformação no imaginário ocidental.
Parafraseando o autor, o constructo clássico do discurso e a centralidade da palavra, inspiradores de um sistema hierárquico de valores que definiam a própria essência da sociedade ocidental, viu-se abalado ao longo do séc. XX, não apenas pelas vanguardas dos anos 20, mas também pela “contra-cultura” dos beatnik, Graffiti, Stoned ( chapados), etc. que delimitavam uma nova linguagem e padrão de experiência que não mais tinham como centro a palavra.
Como esclarece o próprio autor:

“Essas mudanças, de uma cultura dominante a uma pós ou subcultura, expressa-se em um “afastamento da palavra” generalizado. Vista a partir de alguma futura perspectiva histórica, a civilização ocidental, desde suas origens greco-hebraicas até mais ou menos o presente, pode assemelhar-se a uma fase de “verbalismo” concentrado. O que nos parecem ser distinções relevantes podem dar a impressão de ter sido parte de uma era geral em que o discurso falado, evocado e escrito era a coluna vertebral da consciência. Um lugar-comum da atual sociologia e do “estudo da mídia” diz que essa primazia da “lógica”- daquilo que organiza as articulações de tempo e de significado em torno ao logos- está chegando ao final. Cada vez mais a palavra é uma legenda para a imagem. Crescentes áreas da realidade e da sensibilidade , de modo especial nas ciências exatas e nas artes não- figurativas, estão fora do alcance do relato verbal e da paráfrase. As notações da lógica simbólica, a linguagem da matemática e da computação deixaram de ser metadialetos, submetidos e reduzíveis à percepção verbal. Elas são modos comunicacionais autônomos, que reivindicam e expressam por si mesmos crescente área de buscas ativas e contemplativas. As palavras estão corroídas pelas falsas esperanças e pelas mentiras que elas, as palavras, veiculam. O alfabeto eletrônico da comunicação e da “proximidade” [ “togetherness”] imediatas e globais não é o antigo e cismático legado de Babel, mas a imagem em ação.”

( Georg Steiner. No Castelo do Barba Azul: Algumas notas para a redefinição da cultura./ Tradução : Tomas Rosa Bueno; SP: Companhia das Letras, 1991, p. 122 )