quinta-feira, 30 de outubro de 2008

HALLOWEEN E SAMHAIN


O “Halloween” associas-se na tradição celta irlandesa ao fim do verão, ao dialogo entre o mundo dos vivos e dos mortos, imagem distante da carnavalesca versão popularizada nos Estados Unidos e cada vez mais difundida globalmente.
Podemos tomar a data, apropriada pela cristandade medieval através de sua degeneração em dia de todos os santos ou finados (2 de novembro), como um momento, alem do cristianismo e suas representações negativas “da carne”, para pensar a morte e a temporalidade, nossa finitude e buscas de significados para a própria vida. Logo, ela nos conduz a memória de nossos entes queridos e mortos tanto quanto ao nosso próprio desaparecimento futuro e certo. Daí sua associação ao medo e ao terror no imaginário contemporâneo que, na verdade, não passa de um reducionismo e caricatura.
Mas há ainda na data vivida os ecos do antigo festival de Samhain ( fim do verão), celebrado entre 30 de outubro e 2 de novembro pelos antigos celtas.
Seja de que forma for, que cada um viva neste 31 de outubro sua hallow evening,..

CITY...

Futuros dançam em um céu azul
Contemplando terras desconhecidas
E almas desfalecidas
Em desejo aberto
Ao novo dos dias.

A cidade é um labirinto
De desejos,
Um impasse de vidas
Em busca...
Busca de que?

O cotidiano do caos de luzes,
Movimentos e cores vivas
Conduz a estética das ruas,
Ao movimento de coisas e pessoas
Sem qualquer real direção
Ou significado...

Sigo em silêncio
Em algum vento
Perfumes de outros mundos
Ignorando os mudos sinais das ruas.

CRÔNICA RELÂMPAGO XXXIX


Nossas expectativas de acontecimento futuro e domínio dos fatos hoje em dia foi reduzida aos sonhos de consumo. Comprar um novo aparelho de celular, uma TV, um computador de ultima geração ou um carro novo, é agora nosso modo de administrar minimamente o cotidiano.
O prazer de comprar vai alem do instinto de posse e do status social, é um modo de organizar a própria vida por aquilo que podemos ter contra a incômoda e indeterminada ansiedade de “um algo mais” que nos escapa e já não pode ser plenamente sanado por qualquer experiência religiosa. Afinal, a idéia de totalidade já não complementa o dia a dia de nossa finitude.
As cotidianas tarefas cotidianas do estar entre os outros em contextos diversos e maçantes de mecânicas obrigações tem como contra partida uma administração das exigências da vontade, não mais como capacidade de intervir no mundo ou como desejo mas como estranheza do próprio mundo e sentimento de inadaptação ontológica que nos leva a ansiedade de querer algo mais do que o admitido pelo nosso precário sentimento de realidade. É em função desse querer difuso que construímos nossas biografias.

O SENTIDO DA BRISA

Colhi da brisa
Alguns sentidos
E significados
Do nada fazer.

Basta-me
Neste instante
Não pensar em nada
E deixar-me vagar
Nas horas
Do sem tempo dos devaneios
E pequenos prazeres.

O sentimento da brisa
Que me afaga o rosto
É todo o significado
De que preciso
Nessa preguiça de agora
E esquecimento das horas tortas
Do mundo lá fora.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

SIMBOLO, REALIDADE E COINCIDÊNCIA DOS OPOSTOS


O que mais define o símbolo em sua apropriação contemporânea como meta- significado em imagens, e meta linguagem, é a capacidade de dizer os opostos na transcendência de qualquer possibilidade de dualismo Nessa particularidade o pensar em símbolos se distancia nitidamente da lógica que define o mito cristão e seu peculiar simbolismo.
Nesse sentido julgo muito interessante reproduzir aqui um fragmento de Mircea Eliade:

“Tentamos explicar a origem dos “símbolos” através da impressão sensível, exercida diretamente sobre o córtex cerebral, pelos grandes ritmos cósmicos ( o curso do sol, por exemplo). Não nos cabe discutir essa hipótese. Mas o problema da própria “origem” parece-nos ser um problema mal colocado ( ver “Simbolismo e História”). O símbolo não pode ser o reflexo dos ritmos cósmicos enquanto fenômenos culturais, porque um símbolo sempre revela alguma coisa a mais, além do aspecto da vida cósmica que deve representar. Os simbolismos e os mitos solares, por exemplo, revelam-nos também um lado “noturno”, “mau” e “fúnebre” do sol, o que não é evidente à primeira vista no fenômeno solar como tal. Este lado de um certo modo negativo, não percebido no Sol enquanto fenômeno cósmico, é constitutivo do simbolismo solar; o que prova que, desde o começo, o símbolo aparece como uma criação da psique. Isto se torna ainda mais evidente quando lembramos que a função de um símbolo é justamente revelar a uma realidade total, inacessível aos outros meios de conhecimento: a coincidência dos opostos, por exemplo, tão abundantemente e simplesmente expressada pelos símbolos, não é visível em nenhum lugar do Cosmos e não é acessível à experiência imediata do homem, nem ao pensamento discursivo. Entretanto, evitemos acreditar que o simbolismo se refere apenas às realidades “espirituais”. Para o pensamento arcaico, uma tal separação entre o “espiritual” e o “material” não tem sentido: os dois planos são complementares. Pelo fato de supostamente encontrar-se no Centro do Mundo, uma habitação não deixa de ser um instrumento que responde às necessidades precisas e è condicionada pelo clima, pela estrutura econômica da sociedade e pela tradição arquitetural. Ainda recentemente, a velha discussão entre os “simbolistas” e “realistas” manifestou-se novamente a propósito da arquitetura religiosa do antigo Egito. As duas posições são apenas em aparência irreconciliáveis: no horizonte da mentalidade arcaica, levar em conta as “realidades imediatas” não significa de modo algum ignorar ou menosprezar suas implicações simbólicas, e vive-versa. Não se deve crer que a implicação simbólica anule o valor concreto e especifico de um objeto ou de uma operação: quando a enxergada e denominada phalos ( como acontece em certas línguas austro-asiáticas), e a semeadura é assimilada ao ato sexual ( como aconteceu em quase todos os lugares do mundo), isto não significa que o agricultor “primitivo” ignora a função específica de seu trabalho e valor concreto, imediato, de seu instrumento. O simbolismo acrescenta um novo valor ao objeto ou a uma ação, sem por isso prejudicar seus valores próprios e imediatos. Apli8cado a um objeto ou a uma ação, o simbolismo se torna “abertos”. O pensamento simbólico faz “explodir” a realidade imediata, mas sem diminui-la ou desvaloriza-la; na sua perspectiva, o universo não é fechado, nenhum objeto é isolado em sua própria existencialidade: tudo permanece junto, através de um sistema preciso de correspondências e assimilações. O homem das sociedades arcaicas tomou consciência de si mesmo em um “mundo aberto” e rico de significados. Resta saber se essas “aberturas” são meios de fuga ou se, ao contrário, constituem a única possibilidade de alcançar a verdadeira realidade do mundo.”

(Mercea Eliade. Capitulo V: Simbolismo e História in Imagens e Símbolos: Ensaios sobre o Simbolismo Mágico-Religioso./ tradução de Sônia Cristina Tamer. SP: Martins Fontes, 1996, p. 177-8)

TIME ONE

Procuro saber
o mais particular acontecer
de um segundo
que se perde de mim
e do pensamento,

Procuro saber
O particular sentimento
Instantâneo do AGORA
Em estado bruto,
Como se não existisse
Em mim um rosto
A dizer tempos,
Permanências e buscas.

Apenas o agora
Sujo, trivial
E passageiro
Que fica ou se refaz
No seu igual em
momento seguinte.

NOW

Não sei dizer
Para que parte da vida
Agora acordo.

Sei apenas
Meus passados quebrados
Sobre o chão do tempo
E alguns rotos futuros
Guardados em rasgados bolsos.

Viverei apenas
Mais um dia,
Mudo e discreto,
Na caótica paisagem
Do século.

sábado, 25 de outubro de 2008

ALQUIMIA, SECULARIZAÇÃO E MODERNIDADE




Parafraseando CLAUDE KAPPER em MONSTROS, DEMÔNIOS E ENCANTAMENTOS NO FIM DA IDADE MÉDIA , pode-se dizer que o imaginário medieval é extremamente “estruturalista”, nele a forma é o significante, todo o universo se ordena numa geometria simbólica e segundo uma escala de valores que atribui um lugar a cada elemento, tanto espiritual quanto material. Impõe-se assim o postulado, segundo o qual, a natureza, enquanto parte da criação, é perfeita e, por definição, imperturbável. A alquimia pressupõe uma recusa não muito consciente desta harmonia e perfeição da obra divina. Mais do que isso, ela pressupõe a intervenção humana como fator decisivo para o destino do próprio cosmos. MIRCEA ELIADE tem, portanto, plena razão ao vislumbrar certa continuidade entre a sacralidade da matéria que define a simbólica alquímica e a secularização da matéria através do mito do saber científico que define a época moderna.
Assim como JUNG atribui a alquimia uma antecipação de certas descobertas da psicologia profunda, ELIADE percebe na alquimia certas disposições mentais e referenciais simbólicos que configurariam, em sua versão secularizada, o imaginário moderno. A opus alchemicum, ao admitir a possibilidade de que a ação e o trabalho humano pode intervir no vir-a-ser da natureza, aperfeiçoa-la, transforma-la e, assim, permitir o controle do próprio tempo, esboça uma “filosofia do progresso” realmente surpreendente no contexto do imaginário pré- moderno.

MONTY PHYTHON: MINISTRY OF SILLY WALKS II




Estilos de caminhada devem merecer subsídios governamentais?

Afinal não é dizendo como andas que te direi que és?

Quem aqui ousaria dizer que uma boa e original caminhada não é indispensável a qualidade de vida de cada indivíduo e, portanto, uma questão pública?

COMO VOCÊ CAMINHA ? ....

(Esse ministério existe em algum lugar bem pertinho de você... Tudo é uma questão de idiotice...)

MONTY PYTHON: MINISTRY OF SILLY WALKS


"And now, for Something Completely Different..."

Um dos esquetes mais conhecidos do Flying Circus do Monty Python, encontra-se em sua segunda temporada. Refiro-me, naturalmente, ao Ministry of Silly Walks ( Ministério das Caminhadas Idiotas), onde Jonh Cleese, como dedicado funcionário de tal absurdo ministério, tem uma de suas mais sarcásticas e criativas performances.
Em linhas gerais, pode-se dizer, tratar-se de uma critica, diga-se de passagem, ainda muito atual, a burocracia estatal e sua obscuridade. Poder-se-ia falar de uma alegoria para irracionalidade estrutural que fundamenta o funcionamento de qualquer maquina estatal e da qual, na função de contribuintes, somos todos em alguma medida vítimas.
Mas isso seria perder o fino e corrosivo humor deste saboroso esquete que nos faz rir do cotidiano circo/mundo no qual nos perdemos todos os dias, talvez levando certas “respeitáveis coisas” de governo e Estado mais a sério do que deveríamos... Afinal, como os governos “andam” por ai? ...
Tudo em politica é uma questão de ser idiota meu caro cidadão...