O ENIGMA DA FICÇÃO

Nada do que pretendo dizer tem pretensão a verdade. Não tenho a ambição de domesticar a realidade através de alguns enunciados rebuscados e calculados para o agrado de quem lê.

Letras não tomam o lugar dos atos, mas escrevo para criar acontecimentos, para embriagar a vista de quem vê muito além do que leu acima do certo e do errado, da imaginação e dos fatos.

CONTRA HISTÓRIA DO OCIDENTE

Não carregarei o fardo

da razão e do tempo

inventados pelos brancos.

Não carregarei um passado escravo,

um futuro de servidão e exclusão.

Meu destino é um horizonte aberto e incerto.

Um devir que transcende

a modernidade

e a história ocidental.

LIBERDADE & ANARQUIA

Liberdade é autonomia, 

criação, transformação,

poesia.

É corpo, composição,

movimento,

território, revolução e utopia.

Liberdade é  ordem sem poder.

É igualdade e anarquia.

O EXISTIR COMO DEVIR

Existo para o devir.

Não para a prisão 

de qualquer tradição 

ou passado.

Existo,

além  do meu tempo

e deste espaço.

Existo para o que virá,

para instabilidade,

a incerteza,

o efêmero 

e o provisório.

Sou processo sem alma

ou natureza

na constância de vir a ser.

SEGUIR EM FRENTE

Quero o privilégio 

de ser ninguém,

de me perder

no sem rumo

de uma sinuosa estrada

destinada ao nada.

Tudo que tenho

é a pueril  ilusão de seguir em frente

enquanto  o tempo me ultrapassa e mata.

.

A IMPORTÂNCIA DE CAMINHAR

Caminhar é urgente

não importa o destino.

Basta sair do lugar

renunciar

desistir

fugir

partir

recomeçar.

Comece agora a caminhar

e, talvez, você aprenda 

a transgredir, transformar,

mudar...

O DESAFIO DE SER

A vida é mais do que trabalhar, 

consumir e obedecer.

 Pois, além de comer, 

vestir, existir e respirar, 

todo mundo precisa, 

acima de tudo,

acontecer , criar, 

e, se possível, ser

além do simples viver.

CRISE CIVILIZACIONAL

Livres da prisão da Razão e da História, 

conformados ao eterno retorno do tempo de agora, 

 nos assumimos reféns

 da grande catástrofe ocidental. 

Sabemos, contra a modernidade, 

a urgência de uma nova terra

 onde será enterrado o último homem,

ao lado de Deus e do Estado,

depois de alguma tragédia climática global.

A ARTE DE APAGAR-SE

A coragem de inventar -se

transcende a vontade de realizar-se

reduzindo a existência

 a uma experiência incerta

de  evasão e saudade.

Desaparecer de si

é tudo que importa

quando a vida se torna 

uma forma de arte

que se confunde com a impermanência 

de tudo que existe.

OS LIMITES DA EXPERIÊNCIA

Tudo que se torna íntimo,

  familiar,

aprisiona nossa existência.

Pois, nossa consciência 

é um misto de afeto e

memória

de lugares, pessoas

e  épocas

que configuram nossa experiência.

Cada um de nós 

é o passado que carrega.

Não passamos de um ponto de reminescência.