quinta-feira, 2 de maio de 2024

A EXPRESSÃO TRANSCENDE A RAZÃO

Não importa 
O que foi pensado, 
dito, escrito
 Ou silenciado. 

 Não importa nada
 Que ficou preso 
Num livro, 
Numa aula, 
Ou no silêncio negro de um quadro. 

 Não importa
toda ilusão linguística e normativa,
todo delírio ou embriaguez  biográfica
em turbilhões de imagens, 
signos e símbolos.

Nada é mais autêntico e expressivo 
do que a banalidade da nudez semiótica de um grito.

As mais radicais formas de expressão 
são  aquelas que desafiam
os limites da simples razão
transbordando na embriaguez do mito.


sábado, 27 de abril de 2024

POESIA LIBERDADE

A poesia,
quando intensa
em sua potência,
é experiência de liberdade.

Recusa a ordem pública,
toda forma de prestígio, 
distinção, poder, 
ou ilusão de verdade.

A poesia,
é  irmã mais velha  da rebeldia.
Inimiga do Estado, 
da fé e das ideologias.

Expressão da  mais franca revolta,
ela sempre reivindica o impossível 
 e desafia nosso senso de realidade.

A poesia é liberdade
e não se reduz a  uma questão de linguagem.


quarta-feira, 17 de abril de 2024

FINITUDE

Tudo que me importava, 
que me definia a realidade
 e me ligava afetivamente ao mundo,
 Já não existe mais. 

 grande parte de quem fui e sou
é agora vaga e inútil memória 
 de tempos que não voltam mais.
 
Sou apenas um resto de mundo desfeito,
um tico de banalidade e finitude 
que discretamente se desfaz
submerso no vento do tempo.

A SUBVERSÃO DO VERBO

Só é realmente dita
a palavra
que transcende a escrita,
que se faz carne e língua
no osso das letras.

Pois palavra é ação,
verbo que transcende
o jogo da representação 
e a ilusão do significação.

Dizer é subversão 
 não é norma,
nem convenção.
É corpo em movimento 
e em transformação.

terça-feira, 9 de abril de 2024

VIDA QUE SEGUE

Tenho tentado viver minha vida,
apesar dos ismos, religiões 
rebanhos e mercados.

Tenho buscado meu próprio caminho
sem  sucumbir aos outros,
a falsos juízos, convicções 
empregos e Estados.

Tenho me esforçado
para superar meus fardos,
evitado livros, encontros
e espetáculos.

Tenho fugido da companhia 
de todos os convictos.
Não importa se bem intencionados, ingênuos ou fanáticos.

Assim venho  reduzindo meus fracassos,  
evitando o grande baile dos condenados.

O fato é 
que a vida segue,
apesar de tudo.
A vida segue
sem grandes sustos.


RECOMENDAÇÕES NIILISTAS

Importa apenas
o que te faz livre.
Seja de si,
dos outros ou do mundo.

Inventa
seu próprio modo de existir
as margens de toda verdade,
hierarquias, 
rebanhos e leis.

Aconteça na contramão da realidade
que todos fingem que sabem
por demasiada vaidade.

Experimente, até  às últimas consequências,
a desimportância
de ser em insignificâncias,
no abrigo de alguns silêncios,
sem a ilusão de esperanças
ou a proteção de algum rei.














domingo, 7 de abril de 2024

FARDO NIILISTA

Ao niilista cabe o fardo de estar além de todas as certezas,
de viver desconfiado do encanto da consciência, da linguagem, das artes e das ciências.

É seu destino seguir soterrado em seus próprios silêncios, 
conformado a finitude
e indiferente ao sofrimento.

Existir, bem sabe ele,
é um esforço inútil 
e sem qualquer sentido.

Por isso, é próprio do niilista
nunca buscar respostas,
sempre abraçar o  nada,
evitando com a vida
qualquer compromisso .




sábado, 6 de abril de 2024

CONTRA HISTÓRIA


A história não é humana,
mas telúrica.
Ela é espaço em movimento,
conflito e transformação 
além da ilusão 
de qualquer propósito 
ou razão.

A história não existe
e pouco importa 
o advento da escrita.
Tudo é matéria em transformação.

Viver é devir e indeterminação,
natureza e conflito,
além dos limites do antropocentrismo,
da consciência e da linguagem .

Nossa humanidade é uma ilusão.
Crio está morta.


segunda-feira, 1 de abril de 2024

A INCONSTÂNCIA DE SER

Nossa condição é a mudança,
a indeterminação e a incerteza,
que faz do ser devir
contra a inércia das identidades
impostas pela metafísica da verdade.

Recusamos a prisão das definições,
conceitos e rostos
que nos assujeitam.

Não existimos para a verdade,
para acontecer em enunciados,
rotinas e normas.

Não   acreditamos mais em modelos,
tipos ideais,
que conformam as coisas as palavras
e as palavras as coisas
na ilusão da representação e da linguagem.

Rejeitamos o simulacro da subjetividade,
a memória como biografia
e o beco sem saída dos egocentrismos e cientificismos.


Nossa condição é a mudança,
a morte, o nada e a precariedade
deste breve, intenso e incerto instante que nos consome
e se afirma como Vontade.

Somos como pequenos barcos
no corpo de um mar revolto
assoitado por uma tempestade.

Tudo em nós é finito, 
Inconstante, efêmero,
e, de muitos modos, irrelevante.





A EXISTÊNCIA COMO MIRAGEM

Desde sempre
dentro de mim
mora um silêncio.
Através dele
existo
entre a vontade e o delírio.

Estou sempre a beira de precipícios
contemplando o nada
que traça o ilegível da vida
que estraga a paz da matéria
Inventando o universo. 

Tudo em nós
é ilusão e silêncio.
Toda existência é miragem .