domingo, 7 de abril de 2024

FARDO NIILISTA

Ao niilista cabe o fardo de estar além de todas as certezas,
de viver desconfiado do encanto da consciência, da linguagem, das artes e das ciências.

É seu destino seguir soterrado em seus próprios silêncios, 
conformado a finitude
e indiferente ao sofrimento.

Existir, bem sabe ele,
é um esforço inútil 
e sem qualquer sentido.

Por isso, é próprio do niilista
nunca buscar respostas,
sempre abraçar o  nada,
evitando com a vida
qualquer compromisso .




sábado, 6 de abril de 2024

CONTRA HISTÓRIA


A história não é humana,
mas telúrica.
Ela é espaço em movimento,
conflito e transformação 
além da ilusão 
de qualquer propósito 
ou razão.

A história não existe
e pouco importa 
o advento da escrita.
Tudo é matéria em transformação.

Viver é devir e indeterminação,
natureza e conflito,
além dos limites do antropocentrismo,
da consciência e da linguagem .

Nossa humanidade é uma ilusão.
Crio está morta.


segunda-feira, 1 de abril de 2024

A INCONSTÂNCIA DE SER

Nossa condição é a mudança,
a indeterminação e a incerteza,
que faz do ser devir
contra a inércia das identidades
impostas pela metafísica da verdade.

Recusamos a prisão das definições,
conceitos e rostos
que nos assujeitam.

Não existimos para a verdade,
para acontecer em enunciados,
rotinas e normas.

Não   acreditamos mais em modelos,
tipos ideais,
que conformam as coisas as palavras
e as palavras as coisas
na ilusão da representação e da linguagem.

Rejeitamos o simulacro da subjetividade,
a memória como biografia
e o beco sem saída dos egocentrismos e cientificismos.


Nossa condição é a mudança,
a morte, o nada e a precariedade
deste breve, intenso e incerto instante que nos consome
e se afirma como Vontade.

Somos como pequenos barcos
no corpo de um mar revolto
assoitado por uma tempestade.

Tudo em nós é finito, 
Inconstante, efêmero,
e, de muitos modos, irrelevante.





A EXISTÊNCIA COMO MIRAGEM

Desde sempre
dentro de mim
mora um silêncio.
Através dele
existo
entre a vontade e o delírio.

Estou sempre a beira de precipícios
contemplando o nada
que traça o ilegível da vida
que estraga a paz da matéria
Inventando o universo. 

Tudo em nós
é ilusão e silêncio.
Toda existência é miragem .

sábado, 30 de março de 2024

CORPO

Sou este corpo.
Nada além disso.

Assim sobrevivo 
sem ter  motivo
quase invisível
entre tantos outros
que, como eu,
são apenas corpo.

Todo mundo
é um corpo sozinho
no meio de algum caminho.

O passado é 
um corpo morto
e fora do jogo.

Já o presente
é apenas o corpo
que não morreu.

Como o futuro
é o  outro
que não nasceu.

Se há vida
há um corpo
que sente,
respira e que grita.
Que existe como carne,
sangue e osso.


ANARCO INDIVIDUALISTA

Nunca me rendi a identidades,
tradições, rebanhos e filiações.
Nunca fui de bandos, bandeiras
convenções ou convicções.

Sou nada,
 único e livre.
Não imponho limites
a minha imaginação
e todas as suas contradições.
Honro meu direito de ser outro
e me fazer ninguém.

Não tenho tabus,
nem religião.
Não cultivo coletivos e ilusões.

Entretanto, 
entre composições e alianças
vago multiplo entre muitos.
movido por um generoso egoismo
Que transcende todos os ismos.
Do mais infantil egocentrismo ao mais sombrio totalitarismo.

Que ninguém duvide:
em meu radical niilismo,
sou  franco inimigo
dos moralismos,
universalismos  e colonialismos.
O mais sincero amigo da liberdade
e adversário dos liberarismos.




sexta-feira, 29 de março de 2024

O TEATRO DA EXISTÊNCIA

A vida é um espetáculo
onde pouco importam
os atores, o cenário
ou o roteiro.

Onde só interessa
o não sentido do simulacro.

Tudo é um nada
há devorar nossos atos,
palavras, sentimentos
e expectativas.

Para ilusão só  há sonho e verdade.
Sem distinção
entre a fantasia e a realidade.

O autor é o ator,
a platéia e a ausência de sentido,
que a tudo e a todos  move
no desenrolar de uma cena antiga
onde não há diálogos e tudo se faz no improviso.

Antes que hoje se perca no  ontem,
sobre o cadáver de algum futuro,
é sempre tempo para baixarem as cortinas.
Mesmo que a vida sempre prossiga
renovando e atualizando nosso insano espetáculo.




terça-feira, 26 de março de 2024

AUTONOMIA & ALTERIDADE

Autonomia é a arte 
de viver para si
e não para os outros.

É inventar-se com criatividade 
na impessoalidade do mundo,
esboçando-se sempre como permanente e inconclusa experiência de singularidade.

É ser independente em todos os intercâmbios e associações
 afirmando, assim,  a liberdade
como  radical premissa
 do viver comum.

É escapar ao conformismo moral,
as verdades universais,
as relações de poder,
hierarquias e rebanhos.

É exercer a ética como prática de alteridade.
É co-habitar,
conviver,
saber sempre o outro
sob o filtro da igualdade,
 do mutualismo,
na composição dos corpos
através dos afetos que nos transbordam.



domingo, 24 de março de 2024

MEU ÚLTIMO DESAFIO

Meu novíssimo objetivo
é ultrapassar a modernidade,
a humanidade e a linguagem.
Transcender de uma vez por todas
qualquer resquício de metafísica, humanismo,
 iluminismo e eurocentrismo
que por acaso ainda me   entorpece a percepção,  a imaginação e os sentidos.

Não quero ser parte de nada,
não ser assujeitado por qualquer efeito de verdade
ou permanecer preso a ilusão dos outros e de mim mesmo.

Meu novíssimo objetivo
é a intuição da liberdade
de ser fora de mim,
de qualquer relação de necessitade e poder,
na indeterminação do devir que me consome
como tempo e espaço.

A LETRA E A VOZ

A voz transcende a escrita,
o livro e a escola.
Circula entre os corpos
conectando ouvidos e bocas.

A voz não tem dono, 
não conhece limite 
e faz do som o seu corpo
em movimento e sonho.

A voz é repetição,
esquecimento e memória.
É singular e plural
e desafia a tradição,
o elitismo e a erudição.

A voz recusa o coro,
a ilusão do rebanho,
é metalinguagem
na ressignificação da solidão.