sábado, 6 de abril de 2024

CONTRA HISTÓRIA


A história não é humana,
mas telúrica.
Ela é espaço em movimento,
conflito e transformação 
além da ilusão 
de qualquer propósito 
ou razão.

A história não existe
e pouco importa 
o advento da escrita.
Tudo é matéria em transformação.

Viver é devir e indeterminação,
natureza e conflito,
além dos limites do antropocentrismo,
da consciência e da linguagem .

Nossa humanidade é uma ilusão.
Crio está morta.


segunda-feira, 1 de abril de 2024

A INCONSTÂNCIA DE SER

Nossa condição é a mudança,
a indeterminação e a incerteza,
que faz do ser devir
contra a inércia das identidades
impostas pela metafísica da verdade.

Recusamos a prisão das definições,
conceitos e rostos
que nos assujeitam.

Não existimos para a verdade,
para acontecer em enunciados,
rotinas e normas.

Não   acreditamos mais em modelos,
tipos ideais,
que conformam as coisas as palavras
e as palavras as coisas
na ilusão da representação e da linguagem.

Rejeitamos o simulacro da subjetividade,
a memória como biografia
e o beco sem saída dos egocentrismos e cientificismos.


Nossa condição é a mudança,
a morte, o nada e a precariedade
deste breve, intenso e incerto instante que nos consome
e se afirma como Vontade.

Somos como pequenos barcos
no corpo de um mar revolto
assoitado por uma tempestade.

Tudo em nós é finito, 
Inconstante, efêmero,
e, de muitos modos, irrelevante.





A EXISTÊNCIA COMO MIRAGEM

Desde sempre
dentro de mim
mora um silêncio.
Através dele
existo
entre a vontade e o delírio.

Estou sempre a beira de precipícios
contemplando o nada
que traça o ilegível da vida
que estraga a paz da matéria
Inventando o universo. 

Tudo em nós
é ilusão e silêncio.
Toda existência é miragem .

sábado, 30 de março de 2024

CORPO

Sou este corpo.
Nada além disso.

Assim sobrevivo 
sem ter  motivo
quase invisível
entre tantos outros
que, como eu,
são apenas corpo.

Todo mundo
é um corpo sozinho
no meio de algum caminho.

O passado é 
um corpo morto
e fora do jogo.

Já o presente
é apenas o corpo
que não morreu.

Como o futuro
é o  outro
que não nasceu.

Se há vida
há um corpo
que sente,
respira e que grita.
Que existe como carne,
sangue e osso.


ANARCO INDIVIDUALISTA

Nunca me rendi a identidades,
tradições, rebanhos e filiações.
Nunca fui de bandos, bandeiras
convenções ou convicções.

Sou nada,
 único e livre.
Não imponho limites
a minha imaginação
e todas as suas contradições.
Honro meu direito de ser outro
e me fazer ninguém.

Não tenho tabus,
nem religião.
Não cultivo coletivos e ilusões.

Entretanto, 
entre composições e alianças
vago multiplo entre muitos.
movido por um generoso egoismo
Que transcende todos os ismos.
Do mais infantil egocentrismo ao mais sombrio totalitarismo.

Que ninguém duvide:
em meu radical niilismo,
sou  franco inimigo
dos moralismos,
universalismos  e colonialismos.
O mais sincero amigo da liberdade
e adversário dos liberarismos.




sexta-feira, 29 de março de 2024

O TEATRO DA EXISTÊNCIA

A vida é um espetáculo
onde pouco importam
os atores, o cenário
ou o roteiro.

Onde só interessa
o não sentido do simulacro.

Tudo é um nada
há devorar nossos atos,
palavras, sentimentos
e expectativas.

Para ilusão só  há sonho e verdade.
Sem distinção
entre a fantasia e a realidade.

O autor é o ator,
a platéia e a ausência de sentido,
que a tudo e a todos  move
no desenrolar de uma cena antiga
onde não há diálogos e tudo se faz no improviso.

Antes que hoje se perca no  ontem,
sobre o cadáver de algum futuro,
é sempre tempo para baixarem as cortinas.
Mesmo que a vida sempre prossiga
renovando e atualizando nosso insano espetáculo.




terça-feira, 26 de março de 2024

AUTONOMIA & ALTERIDADE

Autonomia é a arte 
de viver para si
e não para os outros.

É inventar-se com criatividade 
na impessoalidade do mundo,
esboçando-se sempre como permanente e inconclusa experiência de singularidade.

É ser independente em todos os intercâmbios e associações
 afirmando, assim,  a liberdade
como  radical premissa
 do viver comum.

É escapar ao conformismo moral,
as verdades universais,
as relações de poder,
hierarquias e rebanhos.

É exercer a ética como prática de alteridade.
É co-habitar,
conviver,
saber sempre o outro
sob o filtro da igualdade,
 do mutualismo,
na composição dos corpos
através dos afetos que nos transbordam.



domingo, 24 de março de 2024

MEU ÚLTIMO DESAFIO

Meu novíssimo objetivo
é ultrapassar a modernidade,
a humanidade e a linguagem.
Transcender de uma vez por todas
qualquer resquício de metafísica, humanismo,
 iluminismo e eurocentrismo
que por acaso ainda me   entorpece a percepção,  a imaginação e os sentidos.

Não quero ser parte de nada,
não ser assujeitado por qualquer efeito de verdade
ou permanecer preso a ilusão dos outros e de mim mesmo.

Meu novíssimo objetivo
é a intuição da liberdade
de ser fora de mim,
de qualquer relação de necessitade e poder,
na indeterminação do devir que me consome
como tempo e espaço.

A LETRA E A VOZ

A voz transcende a escrita,
o livro e a escola.
Circula entre os corpos
conectando ouvidos e bocas.

A voz não tem dono, 
não conhece limite 
e faz do som o seu corpo
em movimento e sonho.

A voz é repetição,
esquecimento e memória.
É singular e plural
e desafia a tradição,
o elitismo e a erudição.

A voz recusa o coro,
a ilusão do rebanho,
é metalinguagem
na ressignificação da solidão.

quarta-feira, 20 de março de 2024

INDIGENTE

Antes de morrer
pode ser
que eu me faça
subversivamente um ninguém.
Que eu me torne alguém
que escapou da civilização,
da Razão,
do moralismo cristão,
da prisão de ser e ter
em um mundo apodrecido
por toda forma de poder e ambição.

O melhor futuro possível é ser indigente, inconveniente e impertinente,
reivindicando o impossível
contra o questionável progresso 
de nossa maldita humanidade.
Só há liberdade onde se inventa a resistência e margem.