domingo, 17 de dezembro de 2023

DO SILÊNCIO DOS OLHOS

A realidade das telas impõe silêncio aos olhos famintos de sentido
que recusam o texto,
a imagem e o gesto.

Em silêncio,
os olhos já não enxergam.
Apenas sabem ver e esquecer.
São capazes de crer,
mas ignoram o saber
e desistiram, de vez, de compreender o mundo ou buscar sentido.

Há  olhos a deriva na tela
perdidos em seu próprio silêncio,
fugindo ao vazio da escrita e ao determinismo do verbo.

Mudos seguimos
entre o silêncio dos olhos
e os ruídos do mundo
despidos de compreensão 
e de qualquer sentido
que nos embriague de razão.

sábado, 16 de dezembro de 2023

DA MORTE DE DEUS A MORTE DO HOMEM

Há entre nós um mundo que  escapa,
uma linguagem que nos pensa,
e uma moral que nos castra.

Mas não há mais, entre nós ,
nenhum absoluto.
Nada é Uno, Único ou universal.

É impossível agora 
estar inteiramente no mundo
embora o tempo, ainda, 
exista através de nós.
Continuamos existindo no tempo
mas o mundo é simulacro.
Nada é racional.
Nada é em nós.
Nem mesmo o tempo e o espaço....

A conclusão é que Deus está morto
e o Homem é um animal
que não existe.

Há apenas o céu,
a terra, o mar,
 o Tártaro e a Morte.
Amanhã, é fato,
nada será além do humano.





quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

ENTRE SER E NÃO SER

Existimos como corpo,
mas vivemos como consciência
e o mundo nos transcende
como experiência.

Tudo em nós é mudança,
movimento,
ou, simplesmente,
tempo que nos devora.

O Ser do mundo escapa a nossa existência
enquanto inventamos a alma das coisas.

Existir, para nós,
é essencialmente não Ser.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

DA REALIDADE CONTRA A CONSCIÊNCIA

Quando a realidade ultrapassa a existência,
o tempo morre dentro da gente,
e a vida se vê reduzida
a uma prisão abstrata
entre as incertas paredes da percepção.

A morte é o absoluto que nos supera.
Através dela, nada faz sentido,
Tudo despensa razão.

Que estranha ilusão é a consciência,
para qual a realidade se apresenta sempre como uma estranha doença
que nos ameaça a existência.

A realidade é desrazão.


quinta-feira, 30 de novembro de 2023

DESENRAIZAMENTO

Todos os nossos lugares de ser 
foram desfeitos
 e uma noite cobriu os atos, pensamentos e afetos,
 que nos definiam a existência do mundo. 

A Razão está morta.
Nada é inteligível,
Inteligente e reconhecível.

 O que existe agora
 não tem mais efeito 
sobre a estrutura das coisas, 
corpos, palavras e alucinações,
 que substanciam a existência do mundo. 

 Em parte alguma ainda é possível ser, 
habitar uma precária e incerta consciência
 que provisoriamente nos abriga no tempo
 através dos ingênuos discursos de nossa tosca inteligência.

O fato é que nos falta ser,
não há mais onde acontecer.
Viver é um des-razoavel deserto.



quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O DESAFIO DA VOZ E A PREGUIÇA UNIVERSAL

O corpo em movimento
através da voz
desafia a inércia dos objetos
que persistem em silêncio
enquanto o mundo desloca-se de si mesmo.

O corpo supera a percepção,
a consciência,
mas se deixa vencer
pelo cansaço que transcende o som e a voz.
Ao final, tudo termina com o  triunfo da preguiça universal.
Ela supera o corpo, o som, a voz,
o mundo e a vida.
Tudo terá um fim através da preguiça.


terça-feira, 28 de novembro de 2023

A LUCIFERIANA EXPERIÊNCIA DA VOZ

A voz não tem dono.
É livre do ego, do texto,
do engano da palavra mestre.

A voz é rebelde,
Desobediente e luciferiana,
Intempestiva, intransigente
e soberana.

A voz é mais do que diz.
Não se conforma ao discurso,
a norma.

A voz é potência,
An- arquia que vem,
transgressão,
ato que se faz  lugar,
algo que nos torna ninguém,
um modo de ser e estar
entre incertezas e indeterminações.

A voz é nada,
não se conforma ao sentido, ao som,
ou a palavra.
A voz é o silêncio
que inventa o corpo em movimento.
Ela é luz e espanto,
raio e trovão.


quinta-feira, 23 de novembro de 2023

MINHA VIDA

Minha vida é pequena,
precária e provisória.
Quase não cabe no mundo
que lhe é indiferente,
que mal sabe o tempo
que lhe torna efêmera e urgente.

Minha vida são todas as vidas
das quais ninguém sabe agora.
É o que passa,
o que se esquece,
o que devora a hora
ignorando o mundo
que agora morre lá fora.


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

SEM FUTURO

Vimos nosso futuro morrer
diante de nossas atonicas infâncias.
Vimos o pesadelo acordar entre os fatos,
o deserto crescer contra a realidade
e o dia escurecer nossos sonhos.

O passado cobriu os telhados
de nossa cidade morta.
Nada nos restava fazer
a não ser contemplar o outono
do mundo que nos viu nascer.

O tempo roubou a vida
que nos esperava 
depois do dia seguinte.
Devorou nossas lembranças,
quebrou nossas certezas.

Tínhamos apenas o agora,
sem antes e depois,
contemplando o vazio da eternidade 
com o cadáver do futuro
aos nossos pés.




RADICALIDADE NIILISTA

Apenas os niilistas são radicais.
pois a raiz, 
a profundidade das coisas,
é nada,
sem deuses, razão ou humanidade.
Fora isso somos animais estranhos
que se envergonham da própria animalidade.