sexta-feira, 20 de outubro de 2023

JUÍZO FORA DA LEI

Meu juízo não é servo da norma,
da moral ou da tirania de qualquer razão dominante.

Ele é filho da liberdade
e irmão da loucura.
Não se apequena como escravo de qualquer verdade,
 fé ou ideal universal de felicidade.

Meu juízo é niilista, trágico e imanente.
Não reconhece a autoridade dos tribunais e das racionalidade dominantes.
Está plenamente ciente
da sua infinita insignificância
e da relatividade de tudo que existe,
é pensado ou julgado.
Meu juízo parte da premissa
de que o mundo não é humano,
nem é o homem a medida de todas as coisas.


ENTRE PALAVRAS E CORPOS

O mundo das palavras 
não passa de um grande deserto
de ditos e escritos imperfeitos.
Ele é inferior ao mundo dos corpos
onde tudo é ação, movimento,
duração e silêncio.

O mundo das palavras 
é feito de livros, registros e muros.
Inventa saberes ungindo seus dignos eleitos.
Já o mundo dos corpos
é feito de afetos e atos,
silêncios e esquecimentos.
Mas existe para todos.

No mundo das palavras todo discurso pretende-se eterno.
No mundo dos corpos tudo é efêmero.
Mas em ambos os mundos
nada realmente existe
pois a vida transcende palavras e corpos.
A vida não se limita a realidade.

TODOS OS DIAS

Todos os dias esperamos
que a vida seja
desfeita como fato e refeita como acontecimento.
Que o tempo seja reinventando,
ressignificado e transfigurado
por qualquer coisa maior que os fatos,
que o poder, que o dinheiro,
que a miséria e que o Estado.


Esperamos por qualquer acontecimento que nos redima,
que nos liberte de toda rotina.
De toda opressão e exploração.

Existir é estar em permanente expectativa.
Sempre a espera de uma grande transformação,
de uma revolução ou confusão permanente
que nos redima.

Qualquer dia nada será como antes
entre emergência climática e distopia tecnológica.
Tudo será caos e utopia.
Sabemos disso no fundo dos nossos corações.
Há de ruir de vez esse mundo de desigualdades.
Serão desfeitos todos os governos,
lucros e hierarquias
no absoluto triunfo de nossa imaginação terrorista.

Tudo isso já está acontecendo.
Um dia apenas será visível,
incontornável, incontrolável e inevitável
sob um onírico sol de meio dia.





sábado, 14 de outubro de 2023

DO EU AO SELF


Cansado de tanta informação,
 de tanta opinião,
e do jogo binário do sim e do não, fugiu para as montanhas,
para o silêncio de memórias arcaicas
que transcendem toda ilusão biográfica,
todo significado,
toda explicação.

Reduziu o corpo, a imaginação,
o mundo e toda extensão
ao devir de um infinito  silêncio
que transfigura a percepção
em uma suprema vontade de dissolução
onde tudo é nada,
ilusão,morte e nirvana.



quarta-feira, 11 de outubro de 2023

O INSUBMISSO

Tenha por regra
 Jamais reverenciar 
Prestigiar ou respeitar 
Os senhores da verdade 
Que tanto demandam nossa atenção e respeito. 

 Tenho a dignidade de negar autoridade 
aqueles que por ciúme ou vaidade
 não nos reconhecem como sujeitos
 e questionam nosso natural direito a subjetividade. 

 Não serei jamais objeto de suas hipóteses, 
teses, moral, recomendações, leis e conceitos. 

Ouso afirmar o inclassificável de mim mesmo
 e minha irracional necessidade de liberdade.

Tenho por regra jamais me curvar,
obedecer ou aceitar o arbítrio de qualquer pastoral ou tirania colonialista.

Tenho por princípio a ousadia das desobediências e as alegrias das experiências que iniciam grandes e pequenas revoltas.

domingo, 1 de outubro de 2023

O CORPO, TERRA E MATÉRIA

O corpo é filho da terra.
 é o que nos inventa
como percepção & mundo
em incessante transformação.

O corpo é lugar e indeterminação,
processo e composição.
Cabeça e chão.
Silêncio e terra.
Movimento e imaginação.

Acima de tudo,
entretanto, 
o corpo é matéria,
além de toda consciência e percepção.

O corpo é terra e matéria
fechada em si mesma
além da escuridão do universo.

O corpo é simplesmente corpo
e não cabe em nenhuma definição de corpo.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

O QUE IMPORTA DIZER

O que importa dizer
não será dito.
Pois não remete a um discurso,
a uma emoção ou soluço,
a uma verdade ou a um saber.

Não pressupõe um sujeito,
um ouvinte, alucinação,
ou, ainda, um acontecimento.

O que importa dizer
é o silêncio,
esta falta de sentido
que nos atravessa
e sobre a qual
ninguém quer saber.

É nossa insignificância,
nossa morte anunciada
desde o nascimento.

É o fim da estrada.
O buraco na calçada.

O que importa dizer
é o que para todos
não tem importância
ou não se rende as palavras.
É o NADA .






domingo, 24 de setembro de 2023

DEFINIÇÃO DE FUTURO

O futuro é aquilo que fizemos ontem na ausência do amanhã.
Ele é o que jamais será,
o que morre com a gente
e escapa a prisão da memória dos outros.

O futuro é nosso fim,
 nossa desesperança,
nosso silêncio
e a ruína de todas as infâncias.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

INSIGNIFICÂNCIA ONTOLÓGICA

Não sou senhor da minha vida, 
Da minha morte, 
Da minha vontade, 
Dos meus pensamentos,
 Ou, ainda, 
da minha própria sorte. 

 Meu corpo e meu tempo 
Não me pertencem. 
Como não são minhas 
As memórias da minha própria existência.

 A prisão de uma identidade 
Me impõe a ilusão de duração e essência 
Contra a experiência de acontecer Provisório 
e desfeito em mundo 
Até o silencioso fim dos meus dias inuteis.

sábado, 16 de setembro de 2023

ANTI HISTÓRIA

Não somos livres para sermos livres
em um mundo de escravos e mortos vivos.
A liberdade ainda está para ser inventada
e a vida aguarda ser sonhada,
transfigurada,
levada as últimas consequências da natureza e do planeta.
Absolutamente nada ainda aconteceu 
desde o início dos tempos.
Somos animais que nunca terminam de nascer.