sábado, 11 de março de 2023

SER LIVRE

Minha carne é terra,
minha alma é mar.
Não sou daqui
nem de lá.
Tudo em mim
é incerto.
As vezes
quase sei
que não existo.
Pois sou livre.
E liberdade
é não ter rosto,
palavra,
 ou lugar.
Sou onde estou
despido de Estados & Deuses
sempre aprendendo a sonhar.


quarta-feira, 8 de março de 2023

CONTRA A VERDADE

Abominamos a Verdade. 
 Esta verdade que sustenta a retórica dos opressores, 
que concede autoridade aos que amam o poder,
 que inspira opressões, saberes e religiões, 
que justifica  hierarquias , privilégios e interdições.

 Repudiamos esta verdade totalizante, divinizada, que conforma os corpos e as vontades,
 que nos reduz a apêndices de condutas e convicções, 
que nos escraviza a identidades e funções.

 Contra a verdade afirmamos a liberdade
 de nossas incertezas e indeterminações,
expomos a errância como modo de estetização de nossa fugaz existência.


domingo, 5 de março de 2023

JULGAR E MATAR

Ninguém representa a verdade,
o justo, 
ou o caminho mais curto
para felicidade.

Ninguém é muito lúcido
ou honesto quando lhe cabe julgar,
defender valores,
 ideais ou princípios ditos universais.

Mas todos condenam, sem pudor, o outro.
Seja ele quem for.
É preciso ter um inimigo
contra o qual defender a verdade,
o justo e a humanidade.

É preciso sempre afirmar um massacre
para anunciar o parto do progresso da sociedade,
fundar um Estado ou uma religião.
A crueldade é o que nos torna humanos.
Nossos deuses sempre exigem sacrifícios.





sexta-feira, 3 de março de 2023

SABEDORIA HERMÉTICA

Há enunciados que envelhecem cedo.
Perdem o efeito de verdade
e despencam no esquecimento público prematuramente.

Há algo ilegível, intempestivo,
em todo entendimento,
que renova e muda, constantemente,
a frágil teia de nossa compreensão e conhecimento.

De modo misterioso ele lança ao chão 
Toda  verdade com pretensão 
a absurda condição de absoluta,
privilegiando o que é fugidio e incerto
como o mercúrio dos filósofos.


O TEMPO, A VIDA, A MORTE, E O MUNDO

Não existe um modo certo
de viver a vida, 
encontrar a morte
ou lidar com o mundo.

Apenas existimos,
sofremos o tempo,
como corpo, percepção e  linguagem,
Sem saber muito
sobre a vida, a morte e o mundo.

No fundo,
tudo se resume a acaso, 
encontro, e saudade.

Pois ninguém sobrevive
a vida, a morte, e ao mundo.

É sempre um outro que lida com eles
de um modo que ninguém entende.







terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

O CORPO: UMA FILOSOFIA

O corpo define o mundo,
a vida, a morte 
a consciência e a linguagem.

Ele é composto 
Por múltiplos eus
que nada sabem de mim.
Pois  o corpo é tanto um  eu 
quanto os outros.
É muitos de si
 na  banalidade de  cada indivíduo.

O corpo é dor, prazer,
e necessidade.
É o que nasce, 
o que muda, 
morre e desaparece
em movimento.
É o que dança.

Ele é o que nos ignora,
e nos conforma a uma morte solitária 
no devir da espécie que a todos abraça.

O corpo é sempre a pergunta
e a resposta,
a multidão que devora o indivíduo.
O nada, a forma
e o silêncio. 




















POR UMA OUTRA FORMA DE VIVER

Quero aprender a viver
sem medo,
sem esperança,
ou vaidade.

Quero desprezar a norma,
Toda verdade que me conforma,
e toda forma de autoridade.

Não serei humano,
mas múltipla e terrestre
composição viva de matéria
que as poucos se dissipa
em modos outros de ser
entre o dentro e o fora.

Viver é para mim
qualquer outra coisa
que não me ensinaram.
e o mundo pouco me importa
no caos que desenha o universo.



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

O MUNDO NÃO EXISTE

O mundo não existe para mim,
ou para vocês.
Ele existe para ninguém.
Não possui se quer uma natureza.
É feito de incertezas e transições.
Pois tudo que existe ou já existiu
existirá em devir,
será sempre indeterminação.

O mundo não existe.
Todos os arranjos de energia e matéria
são instáveis e provisórios.
Toda linguagem é uma fantasia metafísica.

O mundo não existe.
e nada é digno de ser dito
enquanto o sol se põe em meus olhos.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

BANALIDADE E SIMULAÇÃO

Sempre de novo e todos os dias
Seguimos nossas rotinas,
consumimos nossa dose cotidiana de tédio.
Reagimos a estimulos do ambiente,
cultivamos as mesmas fantasias de originalidade,
e reinventamos em nossas biografias a banalidade da excepcionalidade.

Sempre de novo e todos os dias,
sem nunca deixar de imaginar
um mundo diferente...

Até que ponto acreditamos
em tudo aquilo que acreditamos?
Até que ponto existimos
ou somos nós mesmos
todos os dias?


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

CONFISSÃO NIILISTA

Confesso aqui minha impotência,
minha insignificância,
minha má vontade com 
o mundo,
minha inadequação radical
a realidade que nos é imposta,
toda minha absurda desesperança
e repúdio ao status quo que me define e suporta.

Não esperem de mim
qualquer bem ou mau querer,
nenhuma cumplicidade
com os modos de vida dominantes
que reduzem a existência a prisão de um rosto.

O ego faz do desejo sua ilusão mais contundente
e reduz o mundo a um jogo de sedução
onde nada é realmente possível.

Então, simulo aqui uma insólita confissão.
Afinal, todo ato de linguagem é surdo e absurdo
e deve ser reduzido a um ato de transgressão.