sexta-feira, 18 de março de 2022

VIDA AUSÊNTE

A vida é qualquer coisa que anda por aí desencontrada de nossa existência. 
Perder-se da vida foi, afinal, a mais elementar condição da evolução humana.
Viver não está em nada que nos acontece.

quarta-feira, 16 de março de 2022

O MUNDO NÃO É UM LUGAR

O mundo escapa ao corpo,
não cabe na consciência, 
na imaginação, 
ou no devir de nossas vivências.


O mundo, simplesmente,
converteu-se em signos em movimento,
já não define o sensível ou
o visível.
Reduziu-se a discursos,
conceitos e informações,
que desafiam todas as certezas
que nos convocam a ação. 

O mundo é um lugar que não existe
mas nos surpreende em todos os lugares.

O mundo é onde estamos sempre a um passo de estar.



 







terça-feira, 15 de março de 2022

OS DIAS PASSAM

Os dias passam cegos
no teatro da tela,
no virtual,
no simulacro,
de imagens prisão. 

A realidade oca embriaga o olhar,
inventa o sem tempo do novo acontecer das coisas.

Os dias passam
nas horas do sempre igual
e nada mais acontece
dentro de nós.

sexta-feira, 11 de março de 2022

DA NATUREZA

A natureza segue indiferente a si mesma.
Dela estão ausentes valores,
moral e propósito,
toda miséria produzida pela imaginação humana.

A natureza é 
puro jogo de forças
na inconstância de tudo que existe.
Ela não tem alma,
e nem mesmo sabe 
que nos sonha.



MUDANÇA

O mundo nos muda
no avesso dos dias
e ocasos do tempo.

Nós, não mudamos nada.
Somos apenas movimento,
finitude e imanência. 


quarta-feira, 9 de março de 2022

NEO PAGANISMO

Há uma vida que
paradoxalmente
nos falta
por tão intensamente
nos preencher
as profundezas do ser.

Há uma vida que é natureza,
comunhão entre a carne e a Terra.

terça-feira, 8 de março de 2022

A VIDA COMO CONTRA REPRESENTAÇÃO

 

Vida é experiência,

um campo de intensidades,

de movimentos,

jogos de forças,

que nos transformam

na indeterminação do mundo vivido.

 

Vida é se perder de si

entre o outro e a natureza

Além de toda representação.

DAS COISAS TOLAS

 

Das coisas tolas

que me povoam a cabeça

não consigo escapar.

Elas são parte constituinte de mim,

inerentes a minha banalidade,

as minhas desfuncionalidades.

 

São elas as responsáveis

pela minha imprevisibilidade,

pela minha incapacidade

de bem viver no mundo,

ou me adequar ao conforto

de qualquer identidade.

 

Devo as coisas tolas

que me povoam a cabeça

todos os meus traços

de liberdade.

 

sábado, 5 de março de 2022

O ENÍGMA DA MORADIA

A moradia é o lugar  do corpo no mundo. É a vida como duração e memória de experiências entre geraçöes. Logo, também é devir e mudança, ou, simplesmente, descontinuidade.
O morar nunca é sedentário. Ele acontece mais no tempo do que no espaço,  enquanto consciência e valoração de vivências e cotidianos.
Desta forma, é preciso desespacializar a moradia e habitar o tempo, re-significando a geografia de nossas vidas. Morar é saber-se corpo e natureza, é não caber realmente em parte alguma da realidade do mundo.

sexta-feira, 4 de março de 2022

NATUREZA E NIILISMO

Despida da máscara da verdade,
a vida se revela intensa
 experiência do desrazoável das coisas.
Há somente a vertigem das sensações, 
o movimento das afeições
transbordando imaginações.

Cada objeto se faz sujeito de alguma imagem pensamento
que  conduz ao estranhamento
de um mundo que através de cada coisa
se apresenta inédito, 
que se faz outro através do corpo
que redescobre o vento.
A vida se reduz assim
a natureza nua que nos desperta
para uma nova infância.