quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

ANTI DEFINIÇÃO DE VIDA

 

A vida é qualquer coisa

que eu não sei onde está.

Só sei que não basta

estar vivo

para saber da vida

E cada um segue sua vida

entre vidas

pouco vividas.

a vida é sempre

algo além

de nós mesmos.

Mas não tente

tocar

a vida....

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

ÉTICA, ESTÉTICA, E POESIA

O mundo será sempre pequeno para os filhos da poesia.
Pois a arte ensina profanas teogonias, fabulações selvagens, contra a miséria da realidade de todos os dias.
Transvalorizar a vida, transfigurar a palavra, implodir o corpo no devir do ser e do não ser, é o xamânico ofício e o exercício ético estético do saber poético anti moderno em seu doce delírio.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

MUITO ALÉM DO OCIDENTE

Meus dias não  cabem no tédio do aqui e agora.
São vastos imateriais territórios
dos meus passados presentes.

Pois sou na coincidência de tempos
que me transcendem e formam,
entre a memória e o sonho,
de muitos urgentes antigamentes.

Agora mesmo, há um brilho de infância na mesa do almoço, 
um sabor  dos outros,
que me preenchem de ausências. 
Nos gestos indiferentes de algum intimo desconhecido,
surpreendo, por exemplo, a sombra de um velho amigo.

O tempo foge ao espaço 
e se espalha livre como um vento bravo
que me embriaga os sentidos
no sentimento de um instante movente pelo labirinto das épocas.

Há algo desfeito de mim
na sombra de uma árvore que me viu crescer,
na música do tempo dos meus avós
que me rouba os ouvidos.
Tenho muitas idades no fundo do corpo,
mas nenhuma delas me explica 
ou reduz a inércia de uma identidade qualquer.
Persisto desfeito em natureza,
além das certezas do humano,
no eterno retorno do informe
onde dorme minha finitude.
É sempre em todos os tempos
que tudo se transforma no agora.






 




OS DES-SENTIDOS DO TEXTO

 

Cada texto é uma ferida rasgada na pele da realidade.

Um procedimento evasivo, agressivo,

contra tudo aquilo que existe,

além do nome, da palavra,

e do sentido.


Cada texto é um exercício de calculada violência

contra a mudez do mundo,

contra o branco do papel e da tela.

É uma busca pela nervura incerta do real

que transcende o encadeamento das frases.


domingo, 23 de janeiro de 2022

PÓS HISTÓRIA

Passados transbordam o presente
e afogam o futuro.
A memória não  cabe
nos livros de história.
Mas lembranças definem a existência 
a deriva no oceano do tempo,
Enquanto no vazio do eterno
triunfa sempre o esquecimento.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

NIILISMO E CONSCIÊNCIA

Há uma distância entre o pensamento e o fato,
entre o afeto e o ato,
o tempo e o espaço. 

Há uma ausência de consciência 
onde o corpo existe,
e a vida acontece
dentro e fora de nós,
no inumano devir de todas as coisas.

Existimos na angustia de sofrer distâncias,
de saber a vertigem do abismo de ignorâncias,
onde nada se encaixa
na gramática das significâncias.

Contra toda linguagem humana,
a natureza é ilegível na inconstância das formas.
Tudo é caos e silêncio que nos transforma.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

VIDA E SILÊNCIO

O tempo é sempre jovem
no espaço mutante
onde nossos corpos envelhecem.
Tudo é inconstante.
A vida é um inconsciente. 
A realidade acontece onde nos escapa.
E toda linguagem é silêncio.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

A URGÊNCIA DA EMBRIAGUEZ

Embriagado de urgências
quebrei a vidraça do presente,
arrombei a  porta do futuro,
na contramão da eternidade.

Enquanto as horas fugiam dos meus  intempestivos atos,
Avancei contra o limite
das leis, do pensar,
e do querer,
sem olhar para traz.

Afinal, é urgente correr
e transgredir,
provar desrazões,
ontem, hoje, e sempre.

É preciso avançar e abraçar o inesperado,
inventar o inédito
contra a normalidade do tédio.
Nada mais é sagrado.

Apaguem todas as respostas e soluções
na definição  de novos problemas e questões. 

É preciso perder-se,
desencontrar-se ,
e respirar o informe infinito
até que outros mundos sejam possíveis.

Que a vida seja urgente,
inadiável, no intenso 
 devir de qualquer embriaguez possível. 

Embriagado de urgências 
eu pulei do telhado!











sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

O EU COMO SIMULAÇÃO

Eu, que por fora, 
pareço com todo mundo,
que vivo como e com os outros,
enraizado na superfície dos dias,
não sou mais do que a ilusão de um rosto.

Meu nome, persona,
endereço, ou número de identidade,
vestem precariamente meu corpo,
mas nada revelam do que há
por dentro deste eu concreto 
que acena nas ruas,
que vomita silêncios no prato do almoço. 

Por dentro de mim
corre o avesso das coisas,
a indeterminação biológica
e o absoluto do tempo que me faz absurdo na abstração do mundo.

Por dentro de mim tudo é mudo.










quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

A REALIDADE COMO ASSOMBRO

A realidade não cabe na frase,
escapa aos conceitos,
a erudição vazia da Academia,
a miopia da pesquisa empirica,
e as ilusões da razão e da ordem estabelecida. 

A realidade é selvagem e
assignificante.
Pluraridade de forças e tensões, 
onde tudo é devir, indeterminação, e caos. 

Ela foge ao dizer do poema,
aos nossos dilemas,
angustias, certezas e incertezas de ocasião. 

Há quem diga que a realidade
não tem tempo ou espaço, 
que é um delírio dentro da consciência,
e que a existencia é incompreensível
 quando despida
da farça da percepção humana.

A realidade é, portanto,um problema sem solução,
ou, simplesmente, aquilo
que nos impõe a perplexidade de estar vivo.