segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

A URGÊNCIA DA EMBRIAGUEZ

Embriagado de urgências
quebrei a vidraça do presente,
arrombei a  porta do futuro,
na contramão da eternidade.

Enquanto as horas fugiam dos meus  intempestivos atos,
Avancei contra o limite
das leis, do pensar,
e do querer,
sem olhar para traz.

Afinal, é urgente correr
e transgredir,
provar desrazões,
ontem, hoje, e sempre.

É preciso avançar e abraçar o inesperado,
inventar o inédito
contra a normalidade do tédio.
Nada mais é sagrado.

Apaguem todas as respostas e soluções
na definição  de novos problemas e questões. 

É preciso perder-se,
desencontrar-se ,
e respirar o informe infinito
até que outros mundos sejam possíveis.

Que a vida seja urgente,
inadiável, no intenso 
 devir de qualquer embriaguez possível. 

Embriagado de urgências 
eu pulei do telhado!











sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

O EU COMO SIMULAÇÃO

Eu, que por fora, 
pareço com todo mundo,
que vivo como e com os outros,
enraizado na superfície dos dias,
não sou mais do que a ilusão de um rosto.

Meu nome, persona,
endereço, ou número de identidade,
vestem precariamente meu corpo,
mas nada revelam do que há
por dentro deste eu concreto 
que acena nas ruas,
que vomita silêncios no prato do almoço. 

Por dentro de mim
corre o avesso das coisas,
a indeterminação biológica
e o absoluto do tempo que me faz absurdo na abstração do mundo.

Por dentro de mim tudo é mudo.










quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

A REALIDADE COMO ASSOMBRO

A realidade não cabe na frase,
escapa aos conceitos,
a erudição vazia da Academia,
a miopia da pesquisa empirica,
e as ilusões da razão e da ordem estabelecida. 

A realidade é selvagem e
assignificante.
Pluraridade de forças e tensões, 
onde tudo é devir, indeterminação, e caos. 

Ela foge ao dizer do poema,
aos nossos dilemas,
angustias, certezas e incertezas de ocasião. 

Há quem diga que a realidade
não tem tempo ou espaço, 
que é um delírio dentro da consciência,
e que a existencia é incompreensível
 quando despida
da farça da percepção humana.

A realidade é, portanto,um problema sem solução,
ou, simplesmente, aquilo
que nos impõe a perplexidade de estar vivo.






domingo, 9 de janeiro de 2022

A REFLEXÃO COMO EXERCÍCIO DE NIILISMO

Não pensar em nada é meu modo de refletir.
Esvaziado de mundo, de informações, conclusões e opiniões,  
me abandono ao fluxo das sensações,  do pensar desinteressado e movediço, 
que me desfaz em nostalgias, fantasias,  imaginações, e caprichos. 

Não pensar em nada, 
ao contrário do que dizem, 
não torna a vida mais simples. Pelo contrário,  a faz mais complexa e desafiadora,
 em sua absoluta falta de sentido.

sábado, 8 de janeiro de 2022

O TEMPO EM MEU CORPO

Tenho meus pés 
firmes no chão 
da mais feérica imaginação. 
Passados transfigurados
imaginam futuros 
na ventania do tempo presente.
Nada no tempo é seguro.
Tudo é movente,
e me desfaço de novo
em cada segundo,
para ser outro,
para inventar ninguém, 
na concretude do corpo.




sábado, 1 de janeiro de 2022

O ENCANTAMENTO DO INSTANTE

Por um segundo escapei do mundo.
Qualquer outra coisa existiu em mim
mais forte que a vida,
além das palavras 
convicções e certezas.
Tudo apenas existia
atravessando o corpo,
sem a necessidade de qualquer sentido
em um instante subjetivamente infinito.

A MORTE DO FUTURO

O amanhã virou passado.
Tudo em nós deixou de ser.
Restou a memória,
a saudade,
de qualquer vir a ser.
Mas a vida sumiu no silêncio. 
Sem deixar vestígios. 



segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

DEFINIÇÃO DE VIDA

A vida não  cabe na biografia,
escapa ao documento de identidade,
a palavra trocada,
a certidão de nascimento,
aos títulos, rótulos,
e ao sobrenone de família.

A vida é caos em movimento
de desconstrução de certezas.

Ela não é humana,
Transborda em sociedade.
Pois é o animal,
a natureza.
É composição e transformação,
que faz desabar o rosto
no abismo da incerteza.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O EU E O NADA

Só é certo o incerto.
Pois a vida é movimento,
mudança perpétua,
contra nossa vocação a inércia.
Por isso nada me prende a nada.
Sou livre até de mim mesmo
na indeterminação de ser ,
no absoluto devir de todas as coisas.

Vivo em triste estado de desabrigo.
Sei que não existo na concretude do corpo,
este provisório arranjo da matéria.

Hoje sou nada na possibilidades do mundo.
Amanhã serei nada no devir do universo
e o mundo regressará ao estado anterior ao meu nascimento.




segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

CORPO E PENSAMENTO

A vida que nos inventa o corpo
é, antes de tudo, consciência  de mundo. É saber de si e dos outros, palavra e movimento, através  do Ser que nos escapa no tempo.
É através da semelhança do diverso que a existência se apresenta a nós como um enígma na comunicabilidade da pele que inventa a experiência dos corpos em movimento como pensamento movente.