domingo, 9 de janeiro de 2022

A REFLEXÃO COMO EXERCÍCIO DE NIILISMO

Não pensar em nada é meu modo de refletir.
Esvaziado de mundo, de informações, conclusões e opiniões,  
me abandono ao fluxo das sensações,  do pensar desinteressado e movediço, 
que me desfaz em nostalgias, fantasias,  imaginações, e caprichos. 

Não pensar em nada, 
ao contrário do que dizem, 
não torna a vida mais simples. Pelo contrário,  a faz mais complexa e desafiadora,
 em sua absoluta falta de sentido.

sábado, 8 de janeiro de 2022

O TEMPO EM MEU CORPO

Tenho meus pés 
firmes no chão 
da mais feérica imaginação. 
Passados transfigurados
imaginam futuros 
na ventania do tempo presente.
Nada no tempo é seguro.
Tudo é movente,
e me desfaço de novo
em cada segundo,
para ser outro,
para inventar ninguém, 
na concretude do corpo.




sábado, 1 de janeiro de 2022

O ENCANTAMENTO DO INSTANTE

Por um segundo escapei do mundo.
Qualquer outra coisa existiu em mim
mais forte que a vida,
além das palavras 
convicções e certezas.
Tudo apenas existia
atravessando o corpo,
sem a necessidade de qualquer sentido
em um instante subjetivamente infinito.

A MORTE DO FUTURO

O amanhã virou passado.
Tudo em nós deixou de ser.
Restou a memória,
a saudade,
de qualquer vir a ser.
Mas a vida sumiu no silêncio. 
Sem deixar vestígios. 



segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

DEFINIÇÃO DE VIDA

A vida não  cabe na biografia,
escapa ao documento de identidade,
a palavra trocada,
a certidão de nascimento,
aos títulos, rótulos,
e ao sobrenone de família.

A vida é caos em movimento
de desconstrução de certezas.

Ela não é humana,
Transborda em sociedade.
Pois é o animal,
a natureza.
É composição e transformação,
que faz desabar o rosto
no abismo da incerteza.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O EU E O NADA

Só é certo o incerto.
Pois a vida é movimento,
mudança perpétua,
contra nossa vocação a inércia.
Por isso nada me prende a nada.
Sou livre até de mim mesmo
na indeterminação de ser ,
no absoluto devir de todas as coisas.

Vivo em triste estado de desabrigo.
Sei que não existo na concretude do corpo,
este provisório arranjo da matéria.

Hoje sou nada na possibilidades do mundo.
Amanhã serei nada no devir do universo
e o mundo regressará ao estado anterior ao meu nascimento.




segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

CORPO E PENSAMENTO

A vida que nos inventa o corpo
é, antes de tudo, consciência  de mundo. É saber de si e dos outros, palavra e movimento, através  do Ser que nos escapa no tempo.
É através da semelhança do diverso que a existência se apresenta a nós como um enígma na comunicabilidade da pele que inventa a experiência dos corpos em movimento como pensamento movente.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

O CORPO E O TEMPO

O sumo do instante atravessa o corpo
na confusão  do eu e das coisas.
A percepção torna-se vertigem
entre a duração e a matéria. 
Inventa um sempre no quase de um segundo
contra  a fatalidade do esquecimento. 
O  tempo
é a inconstância dos arranjos do corpo
a margem da finitude
e no absoluto do instante.


segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

SOBRE O INCONVENIENTE DE EXISTIR

Pensar, sentir, querer,
pouco importa.
A vida é uma vontade cega
formada pelo embate
de forças que me ultrapassam.

É do conflito que nasceram as estrelas
no negrume do céu. 
Mas eu não sou uma estrela,
e meus pés não sabem do céu.

Em mim se autodevora gratuitamente
o finito infinito
de um provisório arranjo de matéria.
Nada mais além disso.

Pensar, sentir, querer,
pouco importa.

 

sábado, 11 de dezembro de 2021

EPITÁFIO PARA UM ILUMINISTA

Prisioneiro de conceitos,
verdades e enunciados,
morreu despido de vida,
sufocado na bolha
do seu mundo imaginário. 
Sabia de razões, fatos,
causalidades e resultados,
mas ignorava a si mesmo
e os absurdos que nos inspiram os atos.