quarta-feira, 20 de outubro de 2021

O INIMIGO DA VERDADE

Confesso minha nulidade,
minha impaciência,
e má vontade com o mundo.

Adimito minha falta de objetivos,
meu desprezo pelos humanismos,
meu incorrigivel niilismo.

Não tenho vocação para fanatismos.
Recuso toda confissão  de fé,
ou vontade de verdade.

Sou nulo, sou livre,
e sem vaidade.
Não advogo qualquer poder
sobre a realidade.





domingo, 17 de outubro de 2021

MUNDO HUMANO

O mundo humano é um artificio anti natural de sobrevivência,  uma maquina metafísica, orgânica e simbólica, produtora de verdades em movimento,   na circulação alucinada de signos e símbolos e criação de valor, afetos e apetites. Trata-se aqui de algo pior do que qualquer Leviatã.

sábado, 16 de outubro de 2021

SER LIVRE

Liberdade é uma palavra 
desconfortável 
em qualquer frase.
Pois sua realidade é o corpo em ato.
Só é livre aquele que cria,
que confia na imaginação,
e quase não sabe de si,
na invenção do mundo.

Liberdade não se define,
e nos livra de toda definição. 

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O PARADÓXO DO PARTO

Hoje lembram o dia

do parto da minha mãe

como se eu fosse

o feto que alí se apresentou

atônico e abismado

quando  desabrigado e lançado ao mundo.

 

Mas tal trauma não  deixou memória.

Não era eu aquele princípio de gente,

aquele feto indigente.

Mas nele já estava contido este corpo,

objeto de  afetos e experiências.

Corpo que soube gradativamente  de si no acumular dos anos,

além de toda ilusão  de consciência,

E ainda contém aquele feto

que  nunca terminou de nascer,

enquanto o corpo

aprendia a morrer.



 

 

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

SOBRE A EXISTÊNCIA

Os anos passam e não  me definem.
Sou o que se perde,
o que desaparece,
o que definha,
em  corpo que reinventa o espaço enterrado na cidade. 

Tenho todas as idades
nos afetos que me transformam,
que me apagam do mundo
na alucinação do momento.



sábado, 9 de outubro de 2021

PRÁTICA DE EXISTÊNCIA

Prática de existência como um inventar-se permanente nas desarrumações do tempo. Individuar contra o próprio rosto, corpar a vida no movimento da memória, esculpindo o tempo presente, contra os imediatismos do agora.
Prática de existência como silêncio e fala, pausa e escrita de si, musicalidade sem notas ou, simplesmente, movimento de quase ser, na inconstância de um devir outro sempre atualizado em suas metamorfoses.
Pratica de existência como borboleta que passeia entre as flores de um jardim,
como verbo/acontecimento.

NOVÍSSIMO SELVAGEM

Tenho os pés enlameados de mundo,
e as mãos turvas de terra.
Meu pensamento é o verde das matas,
meu amanhã é o agora das flores.
Sei a vida como os animais.
Minha alma é a floresta
em devir natureza.
Sou corpo através dos corpos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

O QUE REALMENTE IMPORTA

O que realmente me importa,
é aquilo que não pode ser comprado,
embrulhado pra presente,
e transformado em lixo
ao longo dos anos.

É aquilo que não pode ser conquistado,
que não requer esforço,
mas acontece expontâneamente
em qualquer ponto abstrato
do meu encontro concreto com o mundo.

O que realmente importa
foge a palavra e me atravessa
em direção ao indefinido e incriado de um grande nada.

O que realmente importa carece de qualquer importância.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

EXISTO

 

Existo entre a inconsciência do corpo

e a consciência do mundo,

como um ponto indeterminado

entre o tempo e o espaço.


Existo na ilusão de ser livre,

único e admirável,

como se a razão

me colocasse no centro do universo

desvelando enigmas entre as palavras e as coisas.


Existo no delírio da extensão da matéria

preso aos apetites

que me acordam o corpo.


Existo anonimamente entre muitos outros

atravessado por signos, símbolos e imagens,

que me adivinham pelo avesso.


domingo, 3 de outubro de 2021

MUDANÇA

Mudar não é uma escolha.
Mudar é escapar a si mesmo,
É perder-se,
é não saber ou poder
ser como antes,
na confusão de todas as certezas.

A vida, afinal, é algo indeterminado.
Ela não é feita de identidades. 
Tudo muda,
mesmo que ninguém perceba.

A mudança nos consome,
nos escolhe,
e nos rouba a ilusão de ser.