sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O PARADÓXO DO PARTO

Hoje lembram o dia

do parto da minha mãe

como se eu fosse

o feto que alí se apresentou

atônico e abismado

quando  desabrigado e lançado ao mundo.

 

Mas tal trauma não  deixou memória.

Não era eu aquele princípio de gente,

aquele feto indigente.

Mas nele já estava contido este corpo,

objeto de  afetos e experiências.

Corpo que soube gradativamente  de si no acumular dos anos,

além de toda ilusão  de consciência,

E ainda contém aquele feto

que  nunca terminou de nascer,

enquanto o corpo

aprendia a morrer.



 

 

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