Hoje lembram o dia
do parto da minha mãe
como se eu fosse
o feto que alí se apresentou
atônico e abismado
quando desabrigado e lançado ao mundo.
Mas tal trauma não deixou memória.
Não era eu aquele princípio de gente,
aquele feto indigente.
Mas nele já estava contido este corpo,
objeto de afetos e experiências.
Corpo que soube gradativamente de si no acumular dos anos,
além de toda ilusão de consciência,
E ainda contém aquele feto
que nunca terminou de nascer,
enquanto o corpo
aprendia a morrer.