quarta-feira, 9 de setembro de 2020

DESENCANTAMENTO DO MUNDO

Não há mais muita  realidade 
No fundo das palavras
Ou das vivências. 

Nossa consciência não penetra o mundo 
Modelando vazios e acordando potências que atravessam os corpos.

Não sabemos mais as intensidades de uma transbordadante existência,
Movente no imanente 
De um  permanente estado de infância e devir.

A realidade hoje carece de encantos,
De verdadeiros encontros,
Que a livre da prisão das palavras
E das máscaras dos egos,
Reinventando o aberrante
Que assignifica o real
Na indiscrição do eu e do mundo. 

Nós tornamos escravos da falsa liberdade 
De nós  mesmos.






domingo, 6 de setembro de 2020

FILOSOFIA DO SER VIVENTE

Respiro.
Tenho pulso,
Meu coração bate
E minha pele é  quente.

Meu corpo sabe o mundo.
Mas nada disso 
É  suficiente
Para me tornar gente.

Sou apenas vivente,
Extensão,  afeto e angústias,
Perdido em meu querer consciente.



sexta-feira, 4 de setembro de 2020

O DIZER DO NÃO DITO

 

 


 

Todo dizer é coletivo,

impessoal e dialógico.

Pois não há dizer

que não abrigue

os lugares - nuvens

onde habitam

o inumano dentro de nós.

Não existe dizer,

que no avesso da linguagem,

não diga o silêncio de uma sensação,

de um estado ilegível de espírito. 

 

 

 

META LINGUAGEM

 

 


 

Dentro de cada palavra mora um abismo,

um assignificante que corrompe o signo,

que faz lembrar o pensamento

antes da infância,

quando não existiam verdades

ou conceitos,

mas somente intensidades,

densidades e mutações

no informe da experiência.

Tudo era, então,

o corpo dentro das coisas,

através das coisas.

 

 

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

ESCREVER

O objeto produz o sujeito na onipotência do discurso onde ambos se definem como lugares na paisagem de uma narrativa.
Quem sempre fala é  o próprio texto que é  objeto de si mesmo.
Pois escrever é ser no movimento do dizer que se faz no vazio da escrita. 

A IMPOSSIBILIDADE DO AUTO CONHECIMENTO

Conhecer a si mesmo é  um ideal tolo. Afinal, o eu é  simulacro. Casca vazia sem qualquer profundidade. Ele não  passa de um componente discursivo,  de uma máscara. 
Quanto mais tenho consciência de mim, mas me desconheço. Menos acredito na concretude da minha própria existência. Sei que nenhum indivíduo existe em si mesmo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O IMPOSSÍVEL DA VIDA

A vida
É,  certamente,
Qualquer outro estado
Da existência,
Que nos escapa na sucessão  dos dias.
Algo que não cabe no automatismo dos gestos
Ou na impessoalidade das palavras,
Que foge ao cotidiano dos nossos atos,
E até mesmo aos pensamentos mais íntimos.
A vida é  apenas um sonho distante
Ecoando na precariedade do possível 
Que define os limites coletivos
De nossa breve existência. 


domingo, 30 de agosto de 2020

SOBRE AS PALAVRAS

Tenho apenas palavras para lidar com a vida.
Mas todo dizer dos signos e símbolos não  traduzem sentimentos ou pensamentos. Apenas resistram seu próprio jogo que, de algum modo, é  uma forma de silêncio, um quase desespero, que me permite fugir de mim mesmo.

sábado, 29 de agosto de 2020

O MAR

O que é  o mar além de um estranho deserto fluido
Onde nos perdemos da terra firme?
O que é  o mar além de uma imensidão incerta e devoradora,
Onde todas as certezas se afogam?
Onde tudo é  quase impossível,
É a realidade jaz submersa?

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

POESIA E GEO FILOSOFIA



" É  difícil compreender como o limite morde imediatamente o infinito, o ilimitado.  E todavia, não  é  a coisa limitada que impõe  um limite ao infinito,  é  o limite que torna possível uma coisa limitada."
Deleuze & Guattari um O que é  a Filosofia

Uma política da alegria e dos corpos, como nos inspira Espinosa, pressupõe  rupturas assignificantes, uma quebra das referências vigentes,  dos assujeitantes, que, através dos dispositivos de saber e poder, nos prendem no aquário do tempo presente .
Uma política da alegria pressupõe  a embriaguez do riso e do assombro, que nos lança  ao movente,  a inumana potência dos acontecimentos, das intensidades, linhas e planos, através dos múltiplos que definem a terra como território desterritoriarizante contra o sedentarismo de nossos hábitos, do dito e do visível que nos levam a aventura da caosmose incessante .