quarta-feira, 26 de agosto de 2020

QUEM SOMOS NÓS?

Os atos cotidianos de fala definem em mim uma terceira pessoa,
Uma paisagem dentro do meu rosto,
Que inibe o resto do corpo,
No dizer me que aprisiona ao mundo,
Ao tempo e ao absurdo de mim mesmo,
Que se inventa no encontro com os outros.
Afinal, quem somos nós  na tempestade do mundo?

EXISTO

Existo incerto 
Entre o ontem e o amanhã,
Existo exausto no presente
Que me escapa sempre.

Existo na inquietude que me transborda e define 
Entre o nascimento e a morte.

Existo onde não  tenho lugar,
Onde persiste o tempo,
Onde não há  um lar.

Existo contra mim mesmo.

sábado, 22 de agosto de 2020

CAOS , CORPO E LIBERDADE

Sou um corpo feito de mundos, 
Um segundo de natureza
Enterrado na vida,
Na beleza do nada
Que nos faz vir a ser.

Nenhum princípio me define,
Tudo persiste,
Através  de mim
Entre o caos e a liberdade
De provisoriamente  existir.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

PENSAMENTO E EXISTÊNCIA

Como conter ou 
cometer
Um ato
De existência?
Como saber o corpo
Em inerte movimento
De pura imanência?
Como soltar sobre  si mesmo?
Eis a mais radical questão 
Do pensamento que se faz afeto
E imanência,
Que cria existência .

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A RAZÃO DOS CEGOS

O corpo vê;
Mas o pensamento enxerga,
Inventa contra intensidade da imagem,
A prisão  das significações .

Através  do pensamento
Somos todos cegos
Na escuridão  da verdade
E na miséria das convicções. 

terça-feira, 4 de agosto de 2020

O FILME MELANCOLIA DE LARS VON TRIER COMO ALEGORIA DO NOSSO IMEDIATO TEMPO PRESENTE

O aclamado filme Melancolia do diretor Lars von Trier, é  um lançamento de 2011, mas nunca nos pareceu tão  próximo de nossa experiência presente em rotinas pandemicas. 
Afinal, o filme afirma uma saída trágica,  a potência criadora da melancolia, diante de um cenário catastrófico,  no caso o desaparecimento da humanidade diante de um evento cósmico.
Na condição  trágica, o pensamento deixa de ser um dispositivo de poder  saber, uma forma de assujeitamento ao domínio logocentrico domesticador de um mundo dito possível e desejável apesar de todo caos que alimenta a manutenção  de uma ordem disfuncional, nos confrontando com o intempestivo e o inesperado do impossível.
Evocando Nietzsche, em sua dimensão  trágica, o pensar se reinventa em sua condição  extra moral contra as artimanhas do intelecto, na contramão  dos jogos de confissão  e dizer verdadeiro, na afirmação  de valores que definem o sedentarismo do campo social.
É  sobre isso que o filme em questão,  um drama filosófico e existencial, sobre a fragilidade de nossa condição  humana, revela -se de alguma maneira, intenso no dizer de nós mesmos.
O sentimento de desamparo, de fragilidade, nos transmita no inumano dentro de nós,  nos obriga a sentir e criar, a saber corporalmente a vida, no além de nossas abstratas e desmedidas estratégias épicas egoicas de mera sobrevivência possível é impostas pela consciência moderna de mundo.
Nosso saber melancolia, limites e fragilidades, nos desafiam através  do trágico devir de nós mesmos, a inventar outros mundos contra as grades do imediato do tempo presente na afirmação concreta e transgressora de nossa finitude.



 

sábado, 1 de agosto de 2020

SOBRE A PALAVRA

Toda palavra é  um agenciamento coletivo irredutível ao sujeito do enunciado, assim como todo agenciamento é  simbiose no esforço de composição  dos corpos. Corpos que, por sua vez, podem ser físicos, psíquicos,  verbais, sociais,etc. 
Todo dizer é  habitado por multidões. 
Através da palavra todas as fronteiras do viver e do virtual (potência), são  superadas. 
A palavra é  uma forma de estar no meio de tudo que prolifera em devir, como quem habita uma canção. 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

TODA PALAVRA

Toda palavra é  gregária
Predicado de um sujeito abstrato,
Que prende a vida ao sentido,
Ao compreensível e controlado,
Da alma que aprisiona o corpo.

Toda palavra é  sobrevivência de um Ser, 
Que insurgente contra o devir,
Inventa a verdade e a substância
De um real que nos escapa,
Que nos afirma a cela de uma existência 
Convencional e rica em deficiências. 



sexta-feira, 17 de julho de 2020

OUSAR O IMPOSSÍVEL



Experimento um Estado de embriaguez,
De manso desabrigo,
Onde o impossível parece provável,
Onde nada faz sentido,
Onde tudo é  indefinido
E não  existem motivos
Regendo meus atos
E o momento se abre ao infinito
Contra a prisão do simples cotidiano.

Ouso o desafio de um salto no abismo
No pensar do impensável
E materialização do impossível.




quinta-feira, 16 de julho de 2020

MEU CORPO

Meu corpo é  um infimo momento de mundo,
Um acontecer de vida e natureza,
Que se faz enigma de si mesmo.

Meu corpo é   o outro que me habita,
Que me faz estrangeiro 
Dentro de mim mesmo
Em busca de algo mais intenso
Que o vivente ,
Que esta  falta de alma.