" Em todas as vidas existe qualquer coisa de não vivido, do mesmo modo que em toda palavra há qualquer coisa que fica por exprimir. O caráter é a obscura força que se assume como guardiã dessa vida inticada: vela atentamente por aquilo que nunca foi e, sem que o querias, inscreve no teu rosto a marca disso. Por essa razão, a criança recem-nascida parece já ter semelhanças com o adulto: de fato, não há nada de igual entre esses dois rostos, a não ser, num como noutro, aquilo que não foi vivido."
Giorgio Agamben in Ideia de Prosa
A felicidade é aquilo que nunca foi ou será, mas permanece como fantasia abstrata de uma vida ideal. Vários tempos, afetos e carências, se misturam na composição desta ficção que eleva o individual ao plano do coletivo, do impessoal.
A felicidade é o desejo personificado por sua plenitude intempestiva. Ela é uma recusa da contingência e da própria realidade, uma teimosia ou inadequação instintiva a vida como ela é.
Há um comércio estranho entre felicidade e literatura que revela a linguagem como um ato de transgressão.