sexta-feira, 26 de abril de 2019

A PALAVRA E A LETRA


A letra e a palavra nunca ocupam o mesmo lugar. O silencio da leitura nunca será como o texto capturado pelo dizer da voz.

Escrita e oralidade, individuo e coletividade, eis o grande dilema das letras ocidentais. Mas, tomando como referência a cultura letrada que define a época moderna, onde predomina a leitura silenciosa, não se trata aqui de uma oposição, é o modo como o silêncio se insurge contra qualquer texto que agora se coloca como questão.

O leitor é sempre um autor quando existem ouvintes. Mas quando só há o leitor em sua solidão e silêncio, o livro se apresenta como objeto de experiência. A linguagem já não é expressão de um dizer verdadeiro, mas simulacro, um outro lugar do humano que ganha corpo através da literatura (ficção). Esta última invenção moderna que se coloca a margem dos saberes formais, na fronteira do real,   escapa, entretanto,  a experiência do livro, como prisão do discurso. A literatura é devir, fluxo, obra. Sua natureza é o inacabamento, o indeterminado.

Escrever é um trabalho contra a linguagem e seus usos, algo que não se esgota em qualquer livro ou discurso. Escrever é uma forma do corpo exercer sua soberania contra a consciência e o império do eu existo. Escrever é servir-se das letras contra o uso cotidiano e racional das palavras.

DA FALSIDADE DAS COISAS





quinta-feira, 25 de abril de 2019

O FUTURO É INATINGÍVEL

A intuição de um acaso feliz nos faz progredir para qualquer futuro. Mas o futuro nunca é pessoal. Ele é coletivo, relacional. É a soma do virtual, é a potência do múltiplo que nos define como multidão.


Mas o futuro acontece a margem das projeções. Ele não comporta utopias ou quimeras. O futuro é sempre imprevisível, selvagem. Mesmo assim, cultivamos a expectativa de um acaso feliz. Apostamos na persistência da vida independente das perspectivas de ocasião.

Acreditamos que a soma de tudo que somos é sempre criadora de novas e boas expectativas. Apostamos que há sempre um horizonte se inventando através de todos nós. O futuro é uma promessa, algo que nunca se realiza. Ele é contra o presente, mas nos espera sempre  um passo a frente.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

SABER E SENTIR


O PRESENTE CONTRA A MEMÓRIA


As urgências do agora desvinculam a memoria e a vida, despotencializam a experiência. O passado se apresenta como entulho de fatos arruinadas, como a lixeira do tempo de agora.

Nossas vivências e seus ecos não ganham forma ou textura em meio à experiência nervosa do momento. Por isso, pouco nos reconhecemos em nossa biografia, em nosso modo de sentir o passar das coisas e conservar lembranças.

No fundo já não sabemos mais o que é o acontecer da vida entre descontinuidades, perdas e transformações.

terça-feira, 23 de abril de 2019

SOBRE OPINIÕES E SILÊNCIOS

Portar uma opinião não é expressar uma identidade, mas replicar qualquer conclusão impessoal que capturou a palavra que nos frequenta.


O que realmente importa, nossas dúvidas e angústias, reservamos ao silêncio. Mas são elas que de fato nos definem como coletividade, como um transitório estado de coisas, como corpos espalhados em uma paisagem.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

CORPO E VIDA


A medida da vida é o corpo.
Apenas o corpo.
Ele é o interior e o exterior do meio.

Tudo se resume ao acontecer do corpo.
Diante dele, a consciência é mero detalhe,
Um acontecimento secundário
Nessa estranha incerteza que é a existência.


CORPO E CONSCIÊNCIA



A consciência é como o oco do corpo,
Aquilo que torna o impossível possível
E toda ação um ato de criação.
O corpo transcende a espécie.
Ele é um meio em meio as coisas,
A extensão é expansão permanente
Através do pensamento.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

ALÉM DO SUJEITO

A constituição do si não conduz a noção de um  sujeito autoconsciente, mas a de singularidade. Não há fronteira entre o individual e o coletivo, entre o orgânico e o não orgânico, na construção social da subjetividade como uma economia de afetos, como uma ambientação que inventa o mundo como um caos essencial, como um fluir de coisas que ultrapassa qualquer ilusão de uma ordem universal. Ser é um ponto de encontro de indeterminações...