sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

O DIZER COMO NÃO SER


Meu discurso não busca santidade,
Não é o testemunho de um mundo verdade,
Nem mesmo intenciona o ilusório prazer
De qualquer dizer perfeito,
exemplo de sanidade.

Ultrapasso em cada palavra
A chancela do bem e do mal,
Do certo e do errado.

Eu digo!
E quantas alternativas,
Curvas, buracos e desvios
Existem neste pequeno dizer!

Que nada seja inequívoco.
Que tudo seja a decomposição do eu,
Esta fantasia do pensamento e dos sentidos.



VIDA


A vida não é objeto de definição.
Não é aquilo que nos assujeita.
Ela acontece em tudo o que é manifesto,
mas é basicamente potência.
Somos e não somos através dela.

Ser é, antes de tudo, uma incerteza,
Um perder-se na existência.


sábado, 29 de dezembro de 2018

O CAMINHO E O TEMPO

Reduzido ao caminho,
Não vislumbro o fim,
Nem me lembro do início.
Tudo é a paisagem que me contém.
É o cenário que passa,
Através do corpo e intensidades.


O caminho é o tempo.
E o segredo é que ele não se move
No movimento de tudo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

MINHA VOZ

As oscilações da minha própria voz tentam inventar um território no ar, qualquer lugar de dizer a vida onde eu não me reconheça mais na definição de qualquer coisa. Onde tudo seja intensamente no intercâmbio de tudo até o limite da compreensão.


O mundo é esta confusão, esta incerteza, que me inventa através do dizer das coisas para formatar o deserto, aquele espaço de intenso nada onde todas as palavras intercambiadas definem narrativas de não ligar, de movimento intenso que se espalha por todas as direções do impossível.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

O DESERTO DA VOZ

A incomensurável energia da voz que reivindica urgências produz apenas ruídos  e silêncios.
Quem, afinal, se importa com o que é dito?
Quem participa e se abriga no discurso elevado a potência da realidade do mun do?
Todas as vozes anunciam o deserto, a fragilidade dos enunciados.
Os discursos inventam a tagarelice meta física de verdades perenes.
As gramáticas substituíram a vida,
Mas não pacificaram nossas consciências.
Vox Populi, Vox dei ?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

OS LIMITES DO QUE É DITO

O que afasta ou  a próxima a potência e o ato no acontecer de uma fala? O que define o dizer em meio as suas tantas virtualidades? 

Muitas vezes o dito não é digno do que foi pensado, obedece seus próprios enredos contra o representado. 

As imagens dizem mais do que as palavras porque transcendem o teleológico acontecimento da fala. Elas sabem a experiência de um acontecimento simbólico que não se confirma a qualquer arranjo de signos.

REINVENÇÃO



"A vida só é possível
reinventada."


Estes versos de Cecília Meireles transcendem a palavra. Pois vida não é uma palavra. É algo quase impossível em meio ao lixo diário da existência, da sobrevivência, dos limites, dores, vazios e desencontros de céu e de lua, contra os quais a vida precisa ser reinventada para ser possível.


É urgente:
A vida precisa ser reinventada para ser possível!

A vida não é uma palavra....

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A MULTIPLICIDADE DO VIVENTE

O vivente se confunde com o mundo orgânico. Ele é múltiplo na constituição de tudo aquilo que vive. Abarca o germe, o vegetal e o animal em suas interseções. Por isso não é possível uma ciência do vivente. Ele é impreciso entre o animado e o animado. É uma espécie de efeito e não uma presença. Tudo que existe produz um movimento vivente. Afinal, porque não podemos dizer que uma estrela vive? Mesmo quando no céu ela não existe, perpetuando-se como reflexo  na escuridão noturna, contra o tempo ela persiste.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

O NÃO SENTIDO DE SER

O ser que me define é tudo aquilo que me controla.
São meus órgãos além do organismo,
Os pensamentos, a vontade,
O desejo e a respiração.
É o ato e a fala.
É tudo isso que demasiadamente sou,
Mas que não sabe o ser.
Sem saber sou o mundo.
Sou química, física e abstração.
Encontro entre o orgânico e o inorgânico.
Sou o que simplesmente não faz sentido.
O resto é ilusão.

O DESAFIO DA FILOSOFIA


Sabemos desde Foucault que a contingência e a singularidade da nossa época define nossas sensibilidades, aquilo que nos é possível pensar e fazer. Nietzsche, antes dele, definiu sua filosofia como uma filosofia futura contra a singularidade de seu próprio tempo. Talvez está seja a condição de toda filosofia ainda possível: a recusa dos limites contra os quais o pensamento se defronta em todo contexto social vigente. Pensar o impensável, o improvável, reinventar a nós mesmos, é o que sempre se coloca novamente no horizonte daquele que se dedica ao desafio de pensar, de contemplar a esfinge  do tempo de agora e seus enigmas.

Uma vertigem sempre nos esclarece a filosofia, não como uma disciplina acadêmica, como um saber canônico, mas como uma experiência de linguagem, um confronto com a impessoalidade, com o amorfo de nossa condição humana. Ela mesma uma construção provisória, um artifício para o entendimento. 

É preciso uma boa dose de ceticismo para levar as últimas consequências a experiência filosófica contra a própria tradição filosófica, contra nossas certezas e premissas. O que nos move é a questão básica sobre o que o pensamento é capaz de criar , o quanto ele nos permite escapar do mais corriqueiro e naturalizado senso comum.