sexta-feira, 5 de outubro de 2018

SINGULARIDADE


Todos os dias o mesmo corpo,
O mesmo rosto,
E, ao mesmo tempo,
Sou sempre outro
Através dos outros.
A vida se produz através de relacionamentos.
Somos uns e outros,
Ninguém e todos.
Somos  em  singularidades
A metafisica de uma espécie.


quinta-feira, 4 de outubro de 2018

UM ACONTECIMENTO


Pode ser que aconteça amanhã.
Ou depois de amanhã.
Pode ser também que nunca aconteça.
Mas se foi desejado já, de alguma maneira,
Um acontecimento.
Algo que age, que existe,
Dentro de mim.

NOVOS HISTORIADORES


Segue a vida sem qualquer script.
Mas tudo se improvisa de modo pré estabelecido.
Nossos atos e pensamentos estão circunscritos ao previsível.
Nos limitamos ao sempre possível.
Como poderíamos conceber outra forma de existir?
O mundo é o que é desde quando assim nos ensinaram.
Ser e saber  é o que nos resta apenas onde tudo já está dado.
Somos os inventores do passado,

Os inovadores das tradições.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

INTUIÇÃO E DISTRAÇÃO: UM COMENTÁRIO SOBRE BERGSON




“(...) a inteligência e o instinto acham-se voltados em dois sentidos opostos, aquela para a matéria inerte, este para a vida. (...) a inteligência permanece o núvleo luminoso em torno do qual o instinto, mesmo alargado e depurado como intuição, constitui apenas uma vaga nebulosidade. Mas, na ausência do conhecimento propriamente dito, reservado à pura inteligência, a intuição poderá fazer-nos apreender aquilo para que os dados da inteligência são aqui insuficientes e deixar-nos entrever o meio de os completar.”
Henri Bergson

Para Bergson, a intuição é um caminho ou um método que nos permite apreender a mudança dentro da duração que é a própria vida. O passado engloba o presente e o futuro, é algo continuo como uma corrente fluida. A memória é essencialmente duração e a realidade movente só pode ser apreendida pela intuição em sua totalidade e gratuidade.

Desta forma, a metafisica não esta no âmbito da inteligência ou do conhecimento cientifico, pois não busca a construção platônica de objetos limitados pela analise, busca apreender a realidade como movimento e duração. Para tanto é preciso distrair-se das coisas. O real, afinal, é um dado imediato para o qual criamos conceitos. O conhecimento é um ato de criação, premissa que encontraremos também na obra de Deleuze. Distrair-se das coisas é lidar diretamente com a realidade.



terça-feira, 2 de outubro de 2018

O MUNDO AINDA EXISTE?


Acho que o que realmente perdemos foi à experiência de viver em um mundo comum, em um cosmos regido pelo sentido, como um ecossistema legível, como um grande texto vivo onde sabíamos exatamente a linha em que estávamos.

Foi justamente este sentimento de um entendimento que a todos perpassa e  associa em um único acontecimento mudo e intenso,  o que se perdeu para todos nós.  Agora vivemos do medo do outro, dos acidentes naturais e das incertezas do dia a dia mais rasteiro.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

SER É NÃO SER



O  essencial de cada um é invisível aos outros.
Quem sabe  meu mais profundo sentimento de mundo?
Quem conhece  onde eu  escapo a mim mesmo?
Sou aquele que foge,  que cala e interroga.
Não passo de um desconjuntado amontoado de memorias.
Tenho meu tempo, meus lugares e pessoas.
E isso é o mesmo que viver deserto.
O passado consuma o futuro.
O passado está sempre a diante.
Mas não sei dizer onde estou....

sábado, 29 de setembro de 2018

CONTRA A VERDADE

Recusar a validade do que é reconhecido como verdade é o que nos faz ir além do tempo presente.  Mais do que isso, é o que não nos conforma ao que somos. 

Tudo é movimento. Descontinuidade e incerteza são premissas de qualquer experimentação criativa do mundo.

O INTEMPESTIVO

Busco o paradoxo de um eu sem rosto que me diga os outros, não como exterioridade, mas como o sem nome de mim mesmo.

Busco o intempestivo, o que não cabe no tempo de agora. Quero a miragem que a nada responde, que apenas se afirma como acontecimento. 

Busco o que não tem motivo, o que não aceita registros.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O DENTRO E O FORA DA CONSCIÊNCIA


A consciência não é algo que se possui. Ela nos acontece como um dentro que é fora e um fora que é dentro.

Ela acontece no corpo dentro de um ambiente. Ela é o saber de um lado de fora onde nos tornamos de um lado de dentro um outro entre os outros.

A consciência é uma forma de despersonalização. É um equivoco associa-la a um eu como se fosse uma “coisa”. Ela é um processo que produz o mundo, que permite a invenção de uma espécie de geografia existencial que se materializa em nossos atos linguísticos.

A consciência é um acontecimento coletivo. Minha consciência pressupõe e acontece através da consciência dos outros.