quarta-feira, 3 de outubro de 2018

INTUIÇÃO E DISTRAÇÃO: UM COMENTÁRIO SOBRE BERGSON




“(...) a inteligência e o instinto acham-se voltados em dois sentidos opostos, aquela para a matéria inerte, este para a vida. (...) a inteligência permanece o núvleo luminoso em torno do qual o instinto, mesmo alargado e depurado como intuição, constitui apenas uma vaga nebulosidade. Mas, na ausência do conhecimento propriamente dito, reservado à pura inteligência, a intuição poderá fazer-nos apreender aquilo para que os dados da inteligência são aqui insuficientes e deixar-nos entrever o meio de os completar.”
Henri Bergson

Para Bergson, a intuição é um caminho ou um método que nos permite apreender a mudança dentro da duração que é a própria vida. O passado engloba o presente e o futuro, é algo continuo como uma corrente fluida. A memória é essencialmente duração e a realidade movente só pode ser apreendida pela intuição em sua totalidade e gratuidade.

Desta forma, a metafisica não esta no âmbito da inteligência ou do conhecimento cientifico, pois não busca a construção platônica de objetos limitados pela analise, busca apreender a realidade como movimento e duração. Para tanto é preciso distrair-se das coisas. O real, afinal, é um dado imediato para o qual criamos conceitos. O conhecimento é um ato de criação, premissa que encontraremos também na obra de Deleuze. Distrair-se das coisas é lidar diretamente com a realidade.



terça-feira, 2 de outubro de 2018

O MUNDO AINDA EXISTE?


Acho que o que realmente perdemos foi à experiência de viver em um mundo comum, em um cosmos regido pelo sentido, como um ecossistema legível, como um grande texto vivo onde sabíamos exatamente a linha em que estávamos.

Foi justamente este sentimento de um entendimento que a todos perpassa e  associa em um único acontecimento mudo e intenso,  o que se perdeu para todos nós.  Agora vivemos do medo do outro, dos acidentes naturais e das incertezas do dia a dia mais rasteiro.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

SER É NÃO SER



O  essencial de cada um é invisível aos outros.
Quem sabe  meu mais profundo sentimento de mundo?
Quem conhece  onde eu  escapo a mim mesmo?
Sou aquele que foge,  que cala e interroga.
Não passo de um desconjuntado amontoado de memorias.
Tenho meu tempo, meus lugares e pessoas.
E isso é o mesmo que viver deserto.
O passado consuma o futuro.
O passado está sempre a diante.
Mas não sei dizer onde estou....

sábado, 29 de setembro de 2018

CONTRA A VERDADE

Recusar a validade do que é reconhecido como verdade é o que nos faz ir além do tempo presente.  Mais do que isso, é o que não nos conforma ao que somos. 

Tudo é movimento. Descontinuidade e incerteza são premissas de qualquer experimentação criativa do mundo.

O INTEMPESTIVO

Busco o paradoxo de um eu sem rosto que me diga os outros, não como exterioridade, mas como o sem nome de mim mesmo.

Busco o intempestivo, o que não cabe no tempo de agora. Quero a miragem que a nada responde, que apenas se afirma como acontecimento. 

Busco o que não tem motivo, o que não aceita registros.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O DENTRO E O FORA DA CONSCIÊNCIA


A consciência não é algo que se possui. Ela nos acontece como um dentro que é fora e um fora que é dentro.

Ela acontece no corpo dentro de um ambiente. Ela é o saber de um lado de fora onde nos tornamos de um lado de dentro um outro entre os outros.

A consciência é uma forma de despersonalização. É um equivoco associa-la a um eu como se fosse uma “coisa”. Ela é um processo que produz o mundo, que permite a invenção de uma espécie de geografia existencial que se materializa em nossos atos linguísticos.

A consciência é um acontecimento coletivo. Minha consciência pressupõe e acontece através da consciência dos outros.  

terça-feira, 25 de setembro de 2018

SOBRE DESEJO E VONTADE



Desejo é essencialmente querer, enquanto a vontade é um movimento concreto em direção a este querer.  Não há, portanto, oposição entre desejo e vontade, mas uma complementação.

Pode-se dizer também que o desejo é algo que nos atravessa, ele é paixão e fantasia e possui autonomia em relação a nossa consciência. Já a vontade pressupõe intencionalidade e estratégias.

De modo bastante sintético, diria que o desejo é a experiência que antecede o ato da vontade. Tais categorias remetem ao sujeito como máscara e função de uma consciência que deliberadamente busca o prazer, já que se define em função de um corpo que sente que precisa de um exterior para manter a si mesmo.


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

EM TORNO DE ALÉM DO BEM E DO MAL: UM PRELUDIO A UMA FILOSOFIA FUTURA




Publicado originalmente em 1886, em uma pequena edição bancada pelo próprio autor, Além do Bem e do Mal, cujo  subtítulo é Preludio a uma Filosofia Futura,  ocupa lugar de destaque na obra de Nietzsche. Pode mesmo ser considerada a mais perfeita síntese de suas formulações maduras.

Antes de tudo, trata-se de um livro anti-moderno em suas criticas ao historicismo, a democracia parlamentar, a objetividade científica e a ideologia do progresso, temas tão em voga entre os eruditos oitocentistas. Conforme informa o  prefácio de 1885, o livro é dedicado a critica ao dogmatismo que remonta a doutrina Vendana na Asia e ao Platonismo na Europa,  atravessando os séculos  em variações sobre o mesmo tema, como um sono insano que coloca aos contemporâneos o desafio da vigília.

Como Nietzsche coloca no aforismo 199 do capítulo V: A História Natural da Moral, desde que existem homens existem rebanhos, estabelecendo a obediência como um componente inato ao comportamento social, como um verdadeiro instinto gregário.

Por isso a persona do filosofo é visto por ele como a má consciência de seu tempo, um homem do amanhã e do depois do amanhã. Sua grandeza reside em poder ser múltiplo e inteiro, vasto e pleno em sua solidão. O filosofo represente a vontade de potência, a terra por vir, ou uma outra Europa, sendo fiel as expectativas do autor.