quarta-feira, 19 de setembro de 2018

INDETERMINAÇÃO ONTOLÓGICA




Não sou aquele que fala,
Aquele que sente,
Deseja ou pensa.
Não sou aquele que habita um eu
Muito menos sou este eu,
Que foge,
Que busca,
Que quase acontece,
Que quase enlouquece.
Sou uma multiplicidade de coisas diversas
Conjuntadas em um corpo orgânico.
Não há consciência do que sou
Que não seja ilusão de mim.


sexta-feira, 14 de setembro de 2018

IMPESSOALIDADE

"Se treinamos nossa consciência, ela beija enquanto nos morde."
F. Nietzsche in Além do bem e do mal


Nossa singularidade ontológica pressupõe em si todo o devir de nossa condição humana. É perpassada pela experiência do mundo vívido como consciência e ato.

A densidade e intensidade de nossos afetos mais genuínos nos consome através de uma vontade criadora e impessoal que é a própria vida.


Somos através da indeterminação do intempestivo que prova o tempo povoando espaços. Em tudo somos a incerteza de nosso próprio movimento como autores e intérpretes de nós mesmos. Talvez seja o mundo que exista através de nós e não nós que existimos através dele.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

SEREMOS SEMPRE CRIANÇAS

A infância é a experiência dos afetos e da consciência como atos de imaginação e vivências. Ela define todas as idades do corpo.

No fundo  não passamos de crianças deformadas pelo peso do tempo. Envelhecemos reinventado infâncias no lúdico encanto da vida configurado pela experiência de nossas emoções, das intensidades do sentir como forma de pensamento não representativo ou, simplesmente, expressão de encantos e encontros que nos definem os anos.

domingo, 9 de setembro de 2018

LIÇÃO CÉTICA

Nosso maior desafio sempre é mudar o futuro, evitar que ele permaneça o mesmo em nossas expectativas.

Transcender o presente é sempre mudar o passado e transformar a nós mesmos. Foi isso que aprendi com o ceticismo.

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

SOBRE OS ATOS DE FALA


Nossos mais elementares atos de fala não passam de uma reprodução acrítica de palavras comuns, o que reduz a comunicação ordinária a uma  pratica inautenticidade inspirada pelo mais ralo conformismo.  Tendemos a nos comunicar cotidianamente com os outros a partir das expressões e gírias que mais ouvimos, ou seja, que circulam com mais intensidade em nosso meio social. Isso é o que nos dá segurança quanto à qualidade da escuta daquilo que comunicamos.


Mas os atos de fala buscam mais do que a comunicação, eles são expressão de identidades, tomam a língua como um território, uma espacialidade que habitamos. Dizer é um modo de ser. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

RENÚNICAS



Não são nossas escolhas que formatam nossa trajetória biográfica, mas nossas renuncias. É a soma de tudo aquilo de que abdicamos, de todos os potenciais não desenvolvidos, de tudo que foi reprimido e esquecido como possibilidade de nós mesmos, que explicam o que ou quem nos tornamos.

E esse processo sistêmico de inibições, de atrofias, é definido antes de tudo pela educação que recebemos e a forma como reagimos a ela. Em segundo lugar é definida pelos limites e possibilidades que um determinado meio social e cultural nos oferece.

A identidade é, portanto, antes de tudo uma falta, uma ausência. Somos também naquilo que deixamos de ser.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

CONHECIMENTO E MUDANÇA


O conhecimento que realmente me interessa é aquele que não pode ser reduzido a informação, que não tem um uso pragmático ou utilitário. É aquele que nos atravessa afetivamente como experiência, que nos transforma e faz transbordar.

Conhecimento é para mim aquela transformação da consciência através da consideração de novos padrões cognitivos que nos obriga a mudar, a buscar um outro de nós mesmos.  


INDAGAÇÕES FILOSÓFICAS



Qual o meu lugar em mim mesmo?
Que mundos me habitam?
Quantas urgências cabem nos desejos que me atravessam?

Não sei quantas respostas aguento,
Quais afetos me saturam,
Quantos pensamentos me articulam,
Como totalidade duvidosa e urgente.

Sou na precariedade de alguns discursos
Um simples arremedo de gente.


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

GRAFIA E SENTIDO



A grafia não é simplesmente deixar marcas em um suporte.

Também não se confunde com a simples transcrição fonética de uma fala.

Ela é a materialização do sentido. Mas o sentido transcende os signos e a grafia. Ele simplesmente não existe  e acontece além da significação das palavras. 

O sentido é o que faz da grafia um afeto traduzido em imagem.


CORPO E LINGUAGEM



O corpo reconstrói a fala....

A realidade polissêmica da minha presença física não se reduz a expressão do rosto. É o corpo transfigurando suas codificações orgânicas, sua concretude espacial e sensorial. Ele é um acontecimento que transborda em linguagem. Mas é, também,  antes de tudo, um exercício de diferenciação e o desenhar-se de uma singularidade. 

o corpo é o suporte de um eu cuja existência nos afoga como articulação complexa de diversos órgãos e processos. A totalidade fechada de razões escolásticas lhe escapa.  Ele reivindica autonomia. Reivindica-se como lugar de mundo, como movimento territoriarizado. O corpo diz muitas coisas através de seus silêncios e cala em seu vir a ser e  não ser.

Como ainda escrever? Cabe ao corpo responder reinventando-se como metalinguagem e movimento/signo vivo em meio as coisas.