“No ser, a profundidade e a
intensidade são o Mesmo - mas o mesmo que se diz diferença. A profundidade é
intenidade do ser ou inversamente. E dessa profundidade intensiva, desse
spatium, saem ao mesmo tempo, a extensia e o extensum, a qualitas e o quale.”
Guilles Deleuze in Diferença e Repetição
O que é a diferença? Seguindo os passos de Deleuze podemos responder de
forma complexa a esta questão falsamente simples partindo da premissa de que
ela é o oposto da identidade. Como disse Nietzsche em Verdade e mentira do ponto de vista extra
moral, “Nunca uma folha é inteiramente igual a outra.” Contrariando o mundo
verdade da identidade da razão representativa, o ser é diferença e multiplicidade. Este é o afeto
que nos transforma através de novos agenciamentos e maquinações de um
pensamento nômade, que foge ao jogo dos significantes e dops significados.
Percebemos que somos em multiplicidades, que no além do saber verdade
das praticas discursivas tradicionais, nos confrontam com a univocidade do
acontecimento dos seres. Somos, assim, cada um de nós, o lugar do não lugar que
percorre todas as coisas, inventando-se como singularidade entre diferenças e
repetições.
É a diferença e não a identidade que nos define em um mundo cada vez
mais descentrado. Ela nos lança, através do pensamento, no abismo
indiferenciado das singularidades impessoais, onde não existem sujeitos a
priori. O ser é, em poucas palavras, um produto do caos. A diferença é
basicamente simulacro que nos situa em um espaço descodificado, liso, que nos
conecta a exterioridade de nós mesmos através das coisas, onde somos meros
estetas de nossas próprias vidas.
Parafraseando Deleuze em Logica do Sentido, imersos na dupla direção do
mundo, vivemos o paradoxo daquilo que destrói o bom senso como sentido único,
mas, em seguida, o que destrói o senso comum como designação das identidades fixas
em um devir sempre inacabado.
O mundo contemporâneo é o mundo dos simulacros onde as identidades são
simplesmente simuladas subvertendo seus próprios modelos. Pensando em Platão,
cabe dizer que a diferença começa a sair de sua caverna e deixa de ser um
monstro.