terça-feira, 13 de março de 2018

A VERDADE COMO ILUSÃO


Um conceito extremamente difícil de definir é o de ilusão. Trata-se de uma espécie de derivado do conceito de verdade e somente em função dele tem significado. A ilusão é o equivoco, a falsa verdade. O que pode ser considerado diferente de falso. A ilusão é um engano induzido pelos sentidos, pelo corpo. O que lhe confere um sabor cartesiano. A ilusão é a razão vitimada por um equivoco mental provocado pelo envolvimento bruto entre o corpo e o mundo exterior.

O racionalismo obtuso de tal conceito chega a ser risível. Pressupõe um absoluto racional praticamente metafisico, um intelecto totalmente dissociado do corpo, que estabelece no plano etéreo a unidade entre significante e significado em termos puramente lógico/formal.


Por outro lado, ilusão deriva do verbo latino Iludo que tanto significa brincar, quanto iludir ou enganar. Ilusão, portanto, também remete ao lúdico, a jogo. Mas não se costuma associar ilusão à convicção, sentimento irracional tão caro a experiência de verdade, já que o conceito de verdade, tal como convencionalmente entendido, exclui em si mesmo o conceito de falso. O falso é pura ausência de verdade. Já uma verdade provisória só pode ser uma ilusão. Mas o que se questiona aqui é justamente isso: até que ponto verdade e ilusão não passam de conceitos opostos paradoxalmente complementares, já que atualmente admitimos a verdade como um conceito não absoluto, mas como construção?

sexta-feira, 9 de março de 2018

OS SILÊNCIOS DA ESCRITA


Tento escrever notas de rodapé a margem de minhas anotações de mundo. Tento fugir ao meu próprio discurso. Pois o dizer é sempre silêncio, é constante vazio que inventa enunciados contra o ser em branco.

Tudo que escuto no que digo é um eco de morte.


quarta-feira, 7 de março de 2018

CONFISSÃO


JUNG, ALQUIMIA E LOUCURA


"A alquimia representa a projeção em laboratório 
de um drama ao mesmo tempo cósmico e psicológico."
C.G.Jung


Em psicologia e alquimia, Jung pensa a loucura contra a vontade de saber psicanalítico através do simbolismo alquímico. O arcaísmo do humano contradiz a forma homem como imago dei da consciência moderna. Expressa-se aqui a falência do mito cristão, que conduz a um salto ao passado pagão para encontrar o futuro como ilusão de permanências teleológicas de uma consciência que se transforma, que se reinventa, através da loucura e do dionisíaco, deixando falar a psique objetiva, contra todas as ilusões iluministas de um eu racional.




terça-feira, 6 de março de 2018

SOBRE A INVENÇÃO DAS COISAS


Nada é o que parece ser à sombra dos pensamentos. A aparência é a essência dos equívocos da percepção pré formatada de cada época, onde  apenas os paradoxos ainda acordam  estranhamentos na formatação de experimentações, na rotina dos atos de linguagem..



A POÉTICA VIVA DAS COISAS SABIDAS



O fluir/devir despretensioso do fluxo contínuo da existência é um acumulo de fatos abertos, de interpretações caóticas, que desenham formas abstratas e múltiplas no cenário do pensamento, onde todo esforço interpretativo avizinha a poesia.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

;BRANCURA DA FOLHA EM BRANCO

Lembrando Foucault , o ser da linguagem na "brancura da folha em branco" me leva a um silêncio, a um buscar sempre renovado de um dizer que inventa a morte e transcende o significante do significado contra a inutilidade do compulsivo esforço de sempre dizer. Todo livro é uma piada contra o vazio da linguagem.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

MUITO ALÉM DO MUNDO VERDADE


“...pode-se com efeito falar de processos de subjetivação quando se considera as diversas maneiras pelas quais os indivíduos ou as coletividades se constituem como sujeitos: tais processos só valem na medida em que, quando acontecem, escapam tanto aos saberes  constituídos como aos poderes dominantes. Mesmo se na sequência eles engendram novos poderes  ou tornam a integrar novos saberes. Mas naquele preciso momento eles tem efetivamente uma espontaneidade rebelde. Não há nenhum retorno ao “sujeito”, isto é, a uma instância dotada de deveres, de poder e de saber. Mais do que processos de subjetivação, se poderia falar principalmente de  novos tipos de acontecimentos que não se explicam pelos estados de coisa que os suscitam, ou nos quais eles tornam a cair. Eles se elevam por um instante, e é este momento que é importante, é a oportunidade que é preciso agarrar.”

Gilles Deleuze in CONVERSAÇÕES

Nossas representações da vida não devem ser inspiradas por idealizações normativas, pela ditadura da verdade. Nossos enunciados não transformam o mundo e muito menos o esclarecem. É o acontecer imediato da existência, em sua ilegibilidade, que engendra a vida como co- habitar o mundo através da linguagem. Tal espontaneidade é o que nos torna acontecimento além do jogo entre significante e significado, mas ela é perecível, descontinua. Apenas pode proporcionar a embriaguez de um instante singular.