quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

O QUE OU QUEM SOU EU?


Viver é exteriorização constante e não um movimento em direção a uma abstrata identidade e egoica.

A vida é um modo de perder-se nas coisas e situações. É o fato de a todo instante surpreender um outro em si mesmo como linguagem e consciência.

Afinal, quem sou eu?
O que sou eu?


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

ESCREVER...

Ainda que eu seja menor do que as palavras que diariamente inventam minha vida, sei que meu dizer é infinito. Jamais esgotarei as possibilidades do branco da folha. Mas sempre estarei  tentando, através de cada novo enunciado, dizer o indizível, o insustentável e insuportável, que dorme no fundo do discurso. Aquele significado quase ilegível que me escapa na aventura de cada verso ou linha. 

Quero do real atingir a nervura onde o vazio do ser da linguagem se confunde com a aventura do meu próprio corpo transfigurado em literatura.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

O SENTIDO DE NOSSAS PALAVRAS


Palavras náufragas tentam reinventar a vida,
Redefinir o mundo,
Mas escrevem apenas silêncios.

É como se nada mais pudesse ser dito.
Pois há uma ausência crescente em nosso dizer das coisas,
Um tedio de sentido que tudo reduz a informação.

O dizer do mundo nos escapa através de delirantes representações,
Enquanto enunciados à margem da verdade povoam nossa imaginação.

Já não sabemos o que somos,
O que seremos,
Quando atingirmos a parte final do texto que nos inventa.

LINGUAGEM E EXISTÊNCIA


Cada um deve criar sua cota pessoal de significados para orientar-se no mundo, inventar sua própria linguagem no plano da imanência e do cotidiano. Imagens de pensamento  não são pressupostos apenas do saber filosófico, mas algo inerente a própria existência através do exercício da linguagem. Existir, tornar-se um indivíduo, é a aprender a dizer o mundo a sua maneira, de uma forma cada  vez mais rica e complexa.



segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

O TEMPO NOS OLHOS

Os anos não inventam o tempo.
Fazem acontece a vida,
O vazio e o mundo
Dentro da gente.
Mas todos os fatos juntos
Não me definem o rosto.
Meus olhos criam espaços,
Alimentam silêncios e  vazios...


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

GATOS E PÓS ESTRUTURARISMO


Gatos combinam com boa filosofia. São animais profundamente intuitivos, curiosos e elegantes. São excelentes observadores e guardam no olhar aquele brilho enigmático que parece desafiar a própria realidade ...

Gatos possuem formas sofisticadas de subjetivação. Combinam com filósofos pós estruturaristas...



A AUSÊNCIA QUE SOMOS NÓS

Em seu ensaio intitulado Nudez, Giorgio Agamben nos oferece uma reflexão interessante sobre a obsessão pelo rosto em detrimento do corpo:

“ Na nossa cultura, a relação rosto/corpo é marcada por uma assimetria fundamental, que quer que o rosto permaneça sempre mais nu, enquanto o corpo está por norma coberto. A esta assimetria corresponde um primado da cabeça, que se manifesta dos modos mais variados, mas que permanece mais ou menos constante em todos os âmbitos, da politica ( na qual o titular do poder é chamado de capo) à religião ( a metáfora cefálica de Cristo em Paulo), da arte ( na qual se pode representar a cabeça sem corpo- o retrato- mas não- como é evidente no ‘nu’- o corpo sem cabeça)à vida cotidiana, na qual o rosto é por excelência o lugar da expressão. Isso aparece confirmado pelo fato de que, enquanto as outras espécies animais apresentam muitas vezes  precisamente no corpo os signos expressivos mais vivos ( os acelos da pele do leopardo, as cores flamejantes das partes sexuais do mandril, mas também as asas da borboleta e a plumagem do pavão), o corpo humano é singularmente desprovido de traços expressivos.”
(Giorgio Agamben. Nudez. Tradução: Davi Pessoa Carneiro, 1º reimpressão. BH: Autentica Editora, 2015, p.126)

O rosto humano é uma paisagem desconcertante. É ela que define nossa noção de pessoa, a identidade de alguém, de um modo mais imediato e direto. O rosto expressa como nos sentimos.  Ao mesmo tempo, entretanto, o rosto é dissimulação, ilusão do eu, ao proporcionar a ideia de uma falsa profundidade que nos leva a acreditar demasiadamente em nós mesmos, a mistificar um retrato.

Assim, o rosto é idêntico à máscara em sua expressão não verbal de significados.  Há sempre uma ausência em nossa presença física e concreta, algo que escapa a nós mesmos e aos outros, mas o rosto é onde julgamos preenchida esta ausência que mais diretamente vivemos na experiência do resto do corpo. Esta ausência, afinal,  é nossa própria condição humana...



A SINGULARIDADE HUMANA

O mais profundo segredo de uma existência humana é seu acontecimento singular. Pois nossa existência é uma construção social, um acontecer entre os outros. Participamos de códigos imagéticos e linguísticos que são coletivos e, entretanto esta “coletividade” acontece através de cada um de nós.  

O individuo é aquele campo de forças onde tudo é possível. Ele é um meio e um fim de toda fenomenologia humana. Dai a fragilidade de nossa singularidade e nossa vulnerabilidade a loucura. A consciência individual e diferenciada é algo tão recente na história da vida humana que ainda engatinha.  Talvez nem mesmo atinja a maturidade.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O EU E O CORPO


O que faz de mim quem eu sou? Talvez minha capacidade de dizer a mim mesmo e ao mundo, de estabelecer com os outros praticas discursivas onde o “nós” define o “eu”. Mas isso não responde a questão “quem eu sou?”. Por que este ser que se diz “eu”, na qualidade de um pensamento, não passa de abstração. O corpo é a medida de nossa existência e não um eu que lhe usa como máscara e razão.