terça-feira, 19 de setembro de 2017

A ARTE DE PENSAR

O pensamento não pode nos defender da instabilidade da existência ou da finitude. Ele não é uma resposta à vida e muito menos a solução para qualquer problema prático ou existencial. O pensamento é mais uma espécie de passa tempo, de jogo, onde inventamos subjetividades, onde criamos a nós mesmos como enunciados.

Existe uma distancia entre falar e pensar que é definida pelo modo como damos formas aos enunciados. A oralidade é mais teleológica do que a escrita, pois se encontra prisioneira do superficial da comunicação. Já o pensar encontra corpo na escrita, cuja construção não sofre pressão imediata de um destinatário da mensagem. Nem mesmo o pressupõe, pois se dobra sobre si mesma. Ou seja, o texto busca o próprio texto.

Pensar não é mais do que isso, inventar e costurar enunciados como quem uma tapeçaria. Os conceitos lhe proporcionam estampas, detalhes e lhe organizam. Mas tal atividade não possui qualquer outro fim que não seja ela mesma.


DÚVIDA

Talvez eu não seja
Inteiramente aquele que digo,
Ou que pensa,
Ou que sente,
Deseja e representa.

Talvez eu seja
O outro e a sombra.
A única conclusão

É o vazio.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

MAQUINAS DE GUERRA E PENSAMENTO NÔMADE



A virtualidade imanente da forma estado na filosofia de Deleuze e Gattari, inspirando-se na noção de guerra primitiva da etnologia de Pierre Clastres, nos oferece o conceito de maquina de guerra  nos provocando com desconcertantes  estratégias de pensamento e ação politica.

A maquina de guerra, em suas linhas de fuga, em seu nomadismo,  representa a recusa da forma-estado e mesmo da identidade como principio de oposição. A maquina de guerra é devir, não tem a guerra como seu objetivo. Quando aqui me refiro a “linhas de fuga” me reporto a  uma “vitalidade não orgânica”.

Em Deleuze , filosofia critica é ontologia, um lugar entre um devirmesmo e um devir- outro que já não reivindica o ser ou o acontecimento em seu sentido fenomenológico. Filosofia é, neste sentido, desterritorização na geografia de um novo campo de experiências definido por agenciamentos e devir. Filosofia é imanência.... A própria filosofia é um agenciamento.

A noção de maquinas de guerra propõem uma exterioridade em relação ao Estado, mesmo que passiveis de captura. Tal noção expõe uma tensão e um conflito constante entre o nômade do social e o sedentário normativo e hierárquico do Estado. A exteriorização que se busca na fuga  é atingir o ponto em que o controle já não disciplina os corpos. É preciso escapar a todas as estratégias de assujeitamento.


DEFINIÇÃO DE MUNDO

O mundo é puro e absurdo devir de micro realidades justapostas. Não funcionamos como um organismo, mas como uma massa densa e informe. O mundo, enquanto totalidade é simples abstração, ilusão cognitiva. Ele é aquilo que me informa enquanto individuo, enquanto apêndice de enunciados, signos e símbolos. O mundo é a abstração que nos define.


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

CÉTICO

Minha voz é pequena.
Quase não me escutam.
Minhas palavras não servem
Aos meus desconhecidos
E nem impressionam meus amigos.
Tenho, aliais, muito pouco a dizer
Entre tantos e tantos discursos
Que nos estraga a vida.
Definho no meu silêncio
E na minha essencial descrença

Na força de todos os enunciados.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

POEMA PÓS ESTRUTURARISTA

Entre o ato e o fato
Habita o desejo,
Este abstrato e cego impulso,
Este absurdo impulso
Em direção a um objeto
Que só existe no querer
E nunca se define inteiramente
Como coisa.
Afinal, entre o ato e o fato

Não existe sujeito.

O CORPO

Estou condenado a ser este corpo.
Ele existe mais do que eu.
É coisa concreta,
Realidade dinâmica,
Em tempo e espaço.

O corpo tem seus lugares,
Seus silêncios e gritos.
As vezes é divertido.
Mas tento apaga-lo
Afirmando o eu contra o corpo.
Como se fosse possível ser

Algo mais do que um corpo.