terça-feira, 18 de outubro de 2016

FOTOGRAFIA E ESQUECIMENTO ICONOGRÁFICO

Fotografias antigas parecem agora o registro de mundos perdidos dos quais a existência quase duvidamos. Tamanha a mudança do registro, do realismo e da banalidade das fotos que ainda nos são contemporâneas. As fotografias envelheceram junto com nossas sensibilidades e não nos reconhecemos mais no passado relativamente próximo. O tempo não se tornou apenas elástico, mas muito facilmente descartável no efêmero de nossa memoria.

O esquecimento iconográfico é a grande novidade da era digital... rememoramos muito pouco através de fotografias, pois o instante se tornou  demasiadamente banal.


A MORTE DO SOCIAL SEGUNDO BAUDRILLARD

O social tornou-se um grande deserto depois do advento da sociedade de massas. Segundo Baudrillard,

“Tal é a massa, um conjunto no vácuo de partículas individuais, de resíduos do social e de impulsos indiretos: opaca nebulosa cuja densidade crescente absorve todas as energias e os feixes luminosos circundantes, para finalmente desabar sob seu próprio peso”

“Exatamente o inverso, portanto, de uma acepção “sociológica”. A sociologia só pode descrever a expansão do social e suas peripécias. Ela vive apenas da hipótese positiva e definitiva do social. A assimilação, a implosão do social lhe escapam. A hipótese da morte do social é também a da sua própria morte”.

“A massa é sem atributo, sem predicado, sem qualidade, sem referência. Aí está sua definição, ou sua indefinição radical”.

“Massa sem palavra que existe para todos os porta-vozes sem história. Admirável conjunção dos que nada têm a dizer e das massas que não falam. Nada que contém todos os discursos. Nada de histeria nem de fascismo potencial, mas simulação por precipitação de todos os referenciais”.

“Caixa preta de todos os referenciais, de todos os sentidos que não admitiu, da história impossível, dos sistemas de representação inencontráveis, a massa é o que resta quando se esqueceu tudo do social” .

“As massas são o “espelho do social”? Não, elas não refletem o social, nem se refletem no social - é o espelho do social que nelas se despedaça”.

 BAUDRILLARD,Jean.À sombra das maiorias silenciosas: o fim do social e o surgimento das massas.São Paulo:Brasiliense,1985.Trad.Suely Bastos.


Em poucas palavras o social já não pode ser mensurado no amorfo da massa. Pelo contrário. Ele simplesmente deixou de fazer sentido....

URGENTE

Enquanto a vida segue quebrada,
Sem grandes  verdades
Invento mundos de ponta cabeça,
Brinco com o cisco no olho
Enquanto o tempo rasga
Todas as minhas expectativas.
Verdade alguma  não me serve mais.
Prefiro minhas incertezas.
O dia demora demais...

Enquanto noites me chamam urgentes. 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A DERROTA DO PENSAMENTO

“Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante.”
Carlos Drummond de Andrade

O pensamento é contemplativo e pressupõe inercias, silêncios e ausências. Por isso poucos se ocupam sistematicamente de sua prática. As pessoas preferem viver a pensar. Normalmente apenas buscam boa informação ou qualquer texto inútil que lhes distraia as ideias.


Pessoalmente prefiro ficar aqui, diante de uma folha em branco, esperando alguma coisa abstratamente ocorrer para abstrair todos os acontecimentos que me perseguem. Sei que enquanto isso as livrarias estão cheias de pessoas que leem como quem come um hambúrguer. 

EU E A ESCOLA




"A função da escola é ensinar às crianças como o 


mundo é, e não instrui-las na arte de viver."


Hannah Harendt




Qual o meu  lugar na escola?
 Nela sou sujeito ou objeto?
O que aprendo de fato é conhecimento
Ou simples adestramento vazio
Para  me conformar com o mundo?
Afinal,  quem serei eu
Apesar da escola?

O que a vida irá me ensinar?

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

LEMBRANDO ALÉM DA MEMÓRIA

Estamos a um passo do passado absoluto,
Do império da nostalgia onipresente
Onde o tempo presente sintetizará todas as épocas.
Assim tem sido desde que perdemos
A capacidade de acreditar no futuro.
O próprio presentismo sucumbiu diante do passadismo.
Reinventaremos todas as memorias perdidas e inventadas
Para que, definitivamente,
Nos tornemos incapazes de lembrar.


SOBRE A PLURALIDADE DO DIZER

O  poder dizer a vida através de um texto se tornou uma arte duvidosa depois de que todos os discursos, por convenção,  se fizeram possíveis. Diante da polifonia dos significados, a verdade se perdeu da palavra. Tornou-se um fantasma dos tempos antigos onde se acreditava que elas correspondiam as coisas.


Estamos agora restritos ao incerto domínio das interpretações e opiniões. O próprio real converteu-se em uma construção complexa  formatada pela linguagem e estratégias discursivas  que adotamos. Já não é mais possível nos atermos aos fatos, na medida  em que somos inventados, enquanto sujeitos cognoscentes, pelo próprio objeto que construímos.

MEMÓRIA E FANTASIA

O passado é sempre mais agradável do que o tempo presente. Temos a impressão de que, em épocas anteriores, os códigos sociais de vida e existência, por sua maior simplicidade, proporcionavam mais facilmente um viver mais intenso. Colorido pelas lentes de nossas idealizações nostálgicas, o passado exibe cores intensas em contraste com o desbotado do tempo presente. Lembrar o passado é sempre mais interessante do que viver ou sofrer as circunstâncias de nossa própria época, que sofrer seus impasses e incertezas. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

IMEDIATISMO

Neste exato momento
Nada acontece na minha vida.
As horas passam mansamente
Enquanto administro o ócio
Simplesmente existindo.
Nenhuma finalidade,
Reflexão, saudade ou angustia...
Apenas o aqui e agora
Despido de qualquer sentido.


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O NÃO SENTIDO DA HISTORIA

Como diziam os antigos, a História é como um grande teatro onde a Sorte (Fortuna) se diverte em atrapalhar nossos planos, nossas teleologias cotidianas ou sublimes idealizações éticas e intencionais. Dai a importância do não factual, pois a construção da realidade é um desafio diário ao qual cada indivíduo em sua privacidade ou no espaço publico da coexistência  responde com as possibilidades oferecidas por sua imaginação. No plano social nossas codificações e imagéticas cognitivas estão sempre em processo de construção e reconstrução ou, simplesmente, adaptação e readaptação as circunstancias.

Em termos históricos o social não está condicionado ao horizonte da previsibilidade, pois os desdobramentos de determinado evento não é prefigurado por suas supostas causas, como erroneamente pode sugerir a visão retrospectiva, mas pelas variáveis que interferem em seus desdobramentos produzindo novos contextos e conjunturas que contrariam sua natural tendência a inercia a permanência simples de uma situação ou condição anterior de dado estado de coisas.
O que se diz aqui é que a História não faz sentido, não é dotada de um proposito, como , por exemplo, o progresso da humanidade ou qualquer coisa que o valha. Não existe um processo histórico dotado de uma racionalidade intrínseca ou um “fim da história”.


A aleatoriedade dos acontecimentos e as sincronicidades estabelecidas entre diversos eventos em um determinado contexto é o que nos leva  socialmente a situações novas e mais imprevisíveis do que gostaríamos que fossem.