sexta-feira, 8 de julho de 2016

GRAMÁTICA DE MIM MESMO

Não tenho tempo para escutar todos  os discursos.
A totalidade de vozes que povoam o mundo me escapa.
Mas sei que o que realmente importa
É escutar minhas próprias palavras,
Esclarecer meus medos, confusões
E emoções.
As pessoas falam demais
E na maioria das vezes
Não dizem nada  que o valha.
Eu, ao contrário,
Sei apenas falar sobre mim mesmo

Até quando falo dos outros.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

POEMA EFÊMERO

Venho de um tempo antigo
Onde ainda era possível
Acreditar no futuro.
Venho de muito longe,
De muito tarde,
Para sofrer o vazio do agora
Quebrado no vento
E em toda esta vida

Que me mata.

SOU FEITO DE NOITES...

Sou feito de noites,
Estrelas e luas
Na febre da imaginação
Que me inventa madrugadas.
Mas sou escravo do diurno
Nas vertigens da liberdade.
Quase não existo

Entre o impossível e o fato.

terça-feira, 5 de julho de 2016

ALIMENTAR O PASSADO

Não me sinto a vontade com o futuro.
Prefiro o passado e suas diferentes versões
De si mesmo.
Gosto de me abrigar nele.
Já o futuro é tão abstrato
Que não pode ser mudado.
Grande parte dele
Jamais chegará a existir.
No final das contas existimos

Apenas para alimentar o passado.

O IMPERATIVO DA INDIVIDUALIDADE

Considerado em sua integridade e totalidade, um indivíduo, mesmo aceitando o fato de que sua condição é socialmente estabelecida, goza de autonomia frente ao existir coletivo. A reapropriação singular do socialmente vivido é o que define o lugar da individualidade, sua capacidade de construir uma teia de significados e impressões singulares. É no plano biográfico que a imaginação humana revela-se de modo mais fecundo como fundamento da consciência e de toda percepção do mundo. Apesar de sua perenidade e fragilidade o acontecer do indivíduo é o que há de mais elementar na condição humana. Não é o individuo que existe para espécie, mas a espécie que existe para a produção do indivíduo.


segunda-feira, 4 de julho de 2016

TEMPORALIDADE E IMANÊNCIA

Considero o tempo a memória em movimento, consciência corporal das coisas, que não se restringe ou se enquadra no tempo linear, cronológico e artificialmente imposto pelas configurações modernas. O tempo da consciência é formatado pelo lembrar, que une passado e presente em uma continuidade de experiências abstratas. A organização temporal da mente não é um dado natural, mas cultural. O tempo é uma experiência mental que espontaneamente se realiza através de um fluxo de acontecimentos cumulativos onde a consciência expressa a justaposição de todos os três momentos temporais (passado, presente, futuro). A imanência é contemporânea de todo momento temporal, através dela eles coincidem em um só fluxo ou instante que é a nossa própria pre-sença no mundo. O momento de agora modifica tanto o antes quanto o depois ao afirmar-se como algo constante e mutável.


TÉDIO E EXISTÊNCIA

Tenho me explorado através do tédio
Atravessando todos os abismos de mim mesmo,
Me deslocado de todos os eus,
Dos meus pré moldados cotidianos.

Nenhuma definição dá conta de mim;
Sou como a soma errada de todas as faces que o tempo me impôs.
Duvido de qualquer determinação ou objetividade
Como fundamento da existência.
Pois em tudo somos indeterminada consciência das coisas.

Mas o que me diz a existência é este intimo mal estar,
O tédio natural de viver desta precariedade de estar no mundo
Quase a margem de mim mesmo e soterrado na vida.


sexta-feira, 1 de julho de 2016

ALEGORIA E IMAGINAÇÃO

As palavras abrem caminho em direção ao paradoxo,
tentam dizer o que não pode ser dito sobre a verdade,
estão quase despidas de seu próprio significado,
prostituídas pela luxuria da alegoria.
Melhor não esperar muito de qualquer narrativa
E se render ao apelo afetivo da imagem
Que invade a consciência
Como um convite onírico.

A vida se reduz a um exercício de imaginação.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

O SILÊNCIO DA HUMANIDADE

Em  algum ponto da terra
Pode ser que a humanidade inteira
Se cale,
Que não faça mais diferença
Os juízos, as conclusões e os fatos.
Em algum ponto da Terra
Pode ser que a vida persista
Sem o insano de tanta humanidade,

Princípios, regras e autoridades.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

NOTA SOBRE O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

A individuação enquanto  processo arquetípico, tal como formulado por C.G.Jung, estabelece que cada indivíduo naturalmente tende em sua experiência subjetiva a alcançar a condição de self, a coincidência entre consciente e inconsciente, mediante a integração de conteúdos da psique objetiva. Trata-se evidentemente de uma meta que se confunde com o próprio caminho.

A personalidade em individuação revela a si mesma, paradoxalmente, a dimensão coletiva ou impessoal de sua condição fenomenológica de modo compensatório e peculiar considerando sua situação pessoal e cultural. A própria “condição-de-eu” conduz para além de si mesma através da elaboração de fantasias.


Assim, nossas mais caras convicções, positiva ou negativamente, longe de expressar um exercício independente do intelecto e da racionalidade, projetam em grande medida o dinamismo deste processo irracional e ontológico através do qual nossa condição humana se faz um verdadeiro quebra cabeça.