quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O CÉU QUE SE FOI

Aquele céu azul
que nunca me viu
e hoje descansa em paz
naquela  fotografia antiga
escapa a memória.
Pois todos que o souberam
já estão mortos.
Nenhuma palavra ou lembrança
lhe atesta a existência.
Nem mesmo o céu de hoje
lhe faz referência.
Quanto a fotografia...

Ninguém mais sabe dela.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A PALAVRA IMPOSSÍVEL

Queria inventar uma palavra
para as ocasiões de silêncio
e tédio,
para quando não temos
grandes vontades,
e só queremos  fugir de tudo,
dormir a sombra das ilusões
e dar de comer as imaginações.
Mas é inútil...

Não cabem palavras no tédio.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

DEVIR

Meus atos são impacientes,
minhas vontades nervosas
e minhas conquistas incertas.
Tudo em mim é provisório,
duvidoso e torto.
Quando quase me faço
de um jeito
me desfaço em busca
de um outro.
Não tenho definições,
nunca me termino o rosto.
sou sempre apenas

um momento fugaz de mim mesmo.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

MEUS TANTOS EUS

Afogaria o tempo
se pudesse
e misturaria todos
os meus eus
em um único rosto,
para respirar o fundamental
de todas as virtuais versões
de mim mesmo
ao longo da existência.
Pois sei que sou múltiplo
e indiferente a minha própria
pluralidade.
Ignoro as multidões
que me definem internamente.

Pouco me  conheço.

DESAPARECIDO

Existo em tempo e espaço,
em carne e osso,
indiferente a abstração da humanidade.
Meu futuro é incerto,
meu caminho raso.
Não me procurem em meus passos,
pois não estou em parte alguma,
desapareci em mim mesmo.


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

DEVIR E REALIDADE


Não ama a verdade
Quem cultiva certezas
E cristaliza o mundo
Em realidades.
Tudo é devir,
Quase existência,
Movimento da vontade
Em ascendência,
Em busca do simples sentimento
De que tudo é perecível,
Provisório e incerto
Quando tratamos do humano.
Perceber das coisas vividas
E sentidas

É  um ato de plena incerteza....

LEMBRE-SE SEMPRE QUE A HUMANIDADE NÃO É LÁ GRANDE COISA

Tenho desejos simples e banais como todo mundo... Mas isso não é tudo.

Somos seres relacionais. A própria identidade pessoal é uma rede de relacionamentos entre imagens que nos configuram o real e tornam possível uma auto imagem que, por mais intima que nos pareça, não passa de uma construção social.
Mas o modo como tecemos significados é uma equação singular que nos faz únicos.

Não que isso signifique muita coisa diante das infinitas possibilidades do se fazer indivíduo.

Estou aqui a devagar sobre minha própria condição humana no singular e, admito, não encontro qualquer resposta satisfatória para o dizer de minha finitude.

As vezes penso que sou apenas um insignificante acidente no universo. Algo sem qualquer consequência e destinado a simplesmente desaparecer com a mesma banalidade com que me tornei possível um dia.
Penso em todos os não nascidos. Das possibilidades perdidas de pessoas que nunca aconteceram e que, no entanto, não fazem a mínima diferença, não são “uma ausência”. O mundo não mudaria se eles tivessem sido possíveis.

Não pretendo chegar a lugar algum com esta prosa solta e rala de sentido.

A questão aqui é elementar: a existência humana não é uma questão de valor.  É apenas um acontecer sem qualquer sentido e, qualquer leitura que fizermos disso, deve  fugir a vaidade natural de nos colocarmos como algo valioso na face da terra.
A humanidade não é grande coisa. Aceite isso e seja aquilo que te cabe ser.


sábado, 2 de janeiro de 2016

UM ENCONTRO COM A VIDA


Somos todos solitários
E embriagados
Pelos fatos imediatos
De nosso interagir coletivo.
Somos vazios em nossos egos inflados
Na reprodução do grito social
E domesticado de vidas desencontradas
No cotidiano da multidão silenciosa.

Mas queremos apenas respirar a vida
Na mais perfeita singularidade dos atos.
Queremos ser livres,
Delirantes em desejo errante,
Quando não somos mais do que o vazio,
O coletivo,
Que nos escraviza a sociabilidade dos fatos.

Somos todos culpados
Pelo saudável crime de nós mesmos.
Mas nossos rostos só existem no espelho.

Pois então que seja!
Há mais infinitos em meus olhos
Que em um céu azul e claro
Que define o  sentimento diurno de um novo dia.
Vamos ser pragmáticos:
Tudo que nos falta ainda
É um encontro com a vida,
Com a poesia de cada um
Através dos outros.

Somos todos solidários....

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

DIANTE DO VELHO ANO NOVO

Contemplo meu tempo
E suas ruínas
Buscando um tesouro,
Uma felicidade,
Entre os escombros
Dos meus antigos dias.

Talvez o passado
Me responda ao futuro.

Quem sabe eu não veja
O essencial das coisas....
Quem pode dizer qualquer ventura
Com uma boa dose de certeza?
Quem pode inventar uma nova quimera?

Os anos passam e eu me encolho.
Espero pouco,
Quase nada.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

INDIVIDUALIDADE E SIGNIFICAÇÃO DO MUNDO

Individuar-se é essencialmente opor-se a coletividade e considera-la de um ponto de vista singular na medida em que nos tornamos cada vez mais conscientes da vida social. Na pratica isto significa o desenvolvimento de uma capacidade de abstração frente o existir ordinário que tem por consequência uma estetização da vida.

A individualidade é a obra de arte da consciência diferenciada, um processo que não tem propriamente uma meta, pois se estabelece como devir. Viver como os outros não vivem só é possível na medida em que  recodificamos o mundo a partir de exigências que não são ditadas pela coletividade, mas profundamente construídas a partir de nossas tendências e aspirações mais subjetivas.

Artistas e pensadores tendem a individuar-se justamente  porque fazem da realidade a matéria prima de uma releitura do real que não seria possível a qualquer outro individuo e que os torna inaptos a viver como todo mundo. Pois eles tem algo de peculiar a dizer sobre sua condição humana  enquanto os demais são apenas capazes de personificar e viver de acordo com o ethos social de sua época e sociedade.

È quando nos sentimos subtraídos dos outros, incapazes de viver como todo mundo e desafiados por um profundo sentimento de vazio e insignificância que nos lançamos a construção daquilo que nos é intimamente decisivo em termos psicológicos e ontológicos.

Nos tornamos,m assim, nossa própria ficção, nossa intima matéria prima e de muitas maneiras buscamos dar voz aquelas fantasias mais profundas que nos sustentam a vida.
Poucos são capazes de tal façanha.