terça-feira, 29 de dezembro de 2015

HABITAÇÃO

Caso necessário fosse
Partir agora,
Abandonar tudo
E  me perder no mundo
Por qualquer razão,
Levaria comigo
Apenas alguns livros
E o velho computador.
Do que mais eu preciso
Se dentro de mim habita
Toda a minha realidade?
Sei que nenhuma paisagem
Mudará quem eu sou
Nesta ignorância das coisas
Tolas que me surpreendem

A cada manhã.

domingo, 27 de dezembro de 2015

VONTADE DE INFÂNCIA

Gostaria de poder provar as ingênuas certezas de uma criança,
Me fechar em um mundo simples e seguro
Onde o encanto da vida seja mais forte
Do que o perene   desabrigo da existência.

Gostaria de provar a felicidade ingênua de um pequeno infante,
Mesmo se por um dia apenas.
Pois sei eu que o mundo é vasto
E que o tempo não me espera.

Preciso sonhar um pouco.
Me livrar de todas as filosofias e duvidas
Para  provisoriamente apagar os abismos
Que me sustentam os pés cansados.
Preciso de uma noite para sonhar intensamente
Abraçado a um céu estrelado.


sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

SOBRE O OFÍCIO DE PENSAR

“Quem pensar  um pouco mais profundamente, sabe muito bem que nunca terá razão, que age e julga como quer.”
F. NIETZSCHE in HUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO

A premissa do pensamento é a vertigem do abismo, a incerteza diante do imediatamente dado e a desconfiança do  abstratamente concebido.

Aqueles que se dedicam a pensar estão condenados a uma duvida constante sobre as codificações da realidade e sobre o fundamento humano da existência.

Nenhuma certeza ou convicção parece satisfatória, sempre conduz a cenários mais complexos e a questionamentos mais profundos.


Serão sempre os insatisfeitos, os inadequados para a existência ordinária. Pois todo pensamento é necessariamente arbitrário...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

ESTRANHAMENTO

Tenho sido um corpo estranho
dentro de mim mesmo.
Talvez isso defina minha consciência,
meu precário sentimento das coisas
ou, simplesmente, minha incômoda incerteza
quanto a realidade do mundo.

Não consumo os significados
que nutrem os outros,
Não busco o conforto de pequenas certezas,
 rotinas, rótulos e felicidades televisivas.
Se quer me conheço.

tenho sido um corpo estranho

dentro de mim mesmo...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

NOTA SOBRE A VONTADE DE PODER by F. NIETZSCHE

VONTADE DE PODER é, certamente, a mais polêmica das publicações póstumas de Nietzsche. Mas é também aquela que nos lança mais próximo de sua grande obra jamais escrita sobre a “ TENTATIVA  DE  UMA TRANSVALORAÇAO DE TODOS OS VALORES E  TENTATIVA DE  UMA NOVA INTERPRETAÇÃO DE TODO ACONTECER. "

Elizabeth Frorster- Nietzsche ( adepta do nacional socialismo e que deturpou por um tempo as interpretações sobre o ousado projeto filosófico do irmão) e seu fiel amigo Peter Gast, nos permitiram alguma aproximação daquilo que este singular filosofo pretendia.

Bom, Nietzsche, muito simbolicamente morreu em 1900, ano da publicação de A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS DE FREUD. Os leitores mais argutos destes dois autores não deixarão de perceber certa simetria  entre  a ideia de inconsciente e de vontade já esboçada antes por Schopenhauer.

Nietzsche jamais teve a oportunidade de ler Freud, mas ouso especular a partir da leitura do acervo organizado dos manuscritos Nietzscheanos através de VONTADE DE PODER que estes dois mestres da modernidade estavam em uma rota de colisão que, infelizmente, não aconteceu....

sábado, 19 de dezembro de 2015

O SENTIDO DO CORPO


Embaralhei algumas palavras
Em uns versos trágicos
E a deriva.
Tentava expressar o incomunicável
Do meu corpo inerte em mil pensamentos.
Queria desdizer a realidade,
Rasgar verdades e respirar incertezas
Até me sufocar com o significado
Que obscurece o imediato das coisas.
Sabia apenas que nada fazia sentido,
Que tudo era opaco no acontecer vazio
De todos os discursos possíveis.

O corpo  era minha única verdade.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

E AGORA?

Rendido  ao passar do tempo,
Ou me quebrando em memórias,
Me esvaindo em passados
Que jamais foram ou serão
Tudo aquilo que sinto agora...
Assim me sinto neste momento.

Os futuros estão em cacos
Pelo chão.
Minha existência é o efêmero
De uma brisa de agora.

Nada mais...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

CHARLES BUKOWISKI: TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS


Charles Bukowiski: Textos Autobiográficos, uma antologia  editada por John Martin, editor e amigo do escritor maldito de Los Angeles, é tudo aquilo que promete: um registro magistral da relação profunda  entre literatura e vida.

Todo escritor cria-se através de sua obra a partir da matéria prima de seu mais elementar cotidiano.  Escrever é justamente isso: desfigurar o dia a dia. Bukowiski sabia fazê-lo como ninguém. A ferocidade, angustias, escárnios, fracassos e surpreendente e angustiado lirismo que nos espancam a consciência através de seus textos, os descaminhos do seu Henry Chinaski pelas paisagens degradadas da existência mais marginal e desumana, oferecem ao leitor desta ampla coletânea um retrato do século XX na genialmente pessimista visão de Bukowiski.

Não é um livro para pessoas bem adaptadas e resolvidas. Esta leitura é recomendada aos desajustados, aos loucos, que tem fome de vida e sensibilidade o suficiente para encarar as coisas como elas são.


Um pouco de bebedeira e musica erudita são recomendações que faço aos possíveis leitores desta indigesta coletânea.

A LITERATURA HOJE EM DIA

Os escritores de ontem martelavam em maquinas de escrever, acumulavam papeis e angustias.
Hoje temos computadores, e esculpimos palavras em uma folha abstrata.
Podemos publicar tudo na internet. Não dependemos mais do milagre de um livro.
Por outro lado, agora já não existem leitores para tanto escritores.
A literatura perdeu um pouco do encanto e a leitura já não  passa de um hábito. Ninguém lembra dos livros que lê. Já não há mais clássicos.
Escrevemos apenas por necessidade e delinquência.

Mas, enquanto um livro ainda é um livro, os escritores.... esses, por sua vez, já não são mais  os mesmos, já não sangram ao escrever.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

SER E NÃO SER

Sempre serei aquilo que sou,
Não o que você vê.
Sou muitos dentro de mim.
Cada um sabe um pouco,
Jamais a soma das partes
Que nunca diz o todo.
Me faço no outro,
Sou devir e pluralidade
Na profunda arte  de não ser
Qualquer coisa que me defina
Além da embriaguez dos fatos,
Acasos e mortes

Que carrego dentro de mim.