sexta-feira, 3 de julho de 2015

O ANTI HERÓI E A LITERATURA MODERNA

Creio que  a grande imagem da literatura moderna do século XX tenha sido a do anti herói impotente diante  da dramática tragédia  que é a própria vida humana em suas vertigens e ausência de significados. Notas do Subsolo de Dostoievski talvez tenha sido a obra responsável pela constelação arrebatadora desta imagem no imaginário ocidental elevando a litertura a condição de extraterritoriedade do real.

Ainda hoje o anti herói encanta nossas imaginações e nos inspira na construção caótica de nossa individualidade que já não conta mais com o consolo de um existir linearmente definido e sustentado por falsas certezas coletivas sobre o progresso do bem comum e triunfo da razão instrumental.


Seguimos justamente na direção contrária. Despimos nossas vidas de  da alegria ingênua de migalhas de realizações pessoais e momentos de bem estar e prazer. Aprendemos vertigens e desconfortos, absurdos e vazios como as condições essenciais da miséria de nossa condição humana.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

PARA ALÉM DO HUMANO

Desafiar a lógica e o senso comum é reduzir ao absurdo nosso ordinário sentimento de mundo. Trata-se de um questionamento sobre o  “fazer-sentido” das coisas. Afinal, a razão não passa de um  artifício humano e não uma propriedade da realidade.

Nossa capacidade de cognição, de inventar esta realidade, nunca deve tentar reduzir tudo o que existe aquilo que podemos conceber. Em contrapartida devemos com a mesma ousadia duvidar de nossas imaginações. Estas são mais perigosas do que nossas razões, considerando todos os absurdos que já foram cometidos ou ditos em nome de qualquer metafisica.

O alcance de nossas realizações e ações possuem limites, mas não  é prudente substitui-los por delírios megalomaníacos onde somos parte de um cosmos ordenado que só existe em nossas limitadas cabeças.  

A vida é essencialmente caos, um caos que muito precariamente somos capazes de apreender. E nunca seremos capazes. Por maiores que sejam os avanços tecno científicos sem superarmos nossa condição humana.


segunda-feira, 29 de junho de 2015

NÔMADAS

Não deixarei que minha existência se reduza a meia dúzia de tolices sobre a beleza da vida ou algumas asneiras sobre o futuro da humanidade.

Viverei de vertigens, da ousadia dos abismos, em busca de qualquer coisa sem nome que desvele o mais profundo do pensamento.

O sentimento de si mesmo que nos define como indivíduos é algo incomunicável, uma espécie de caos pessoal que domesticamos a cada palavra dita.


Mas quão insuficiente é todo o dizer das coisas frente a emoção da auto consciência! È justamente quando nada consigo dizer quando melhor defino quem sou nas inércias de minhas imaginações. Por isso gosto de me largar aqui as vezes em perplexidade e auto contemplação.

sábado, 27 de junho de 2015

ESCREVER É VIVER

“Assim como a leitura, a mera experiência não pode substituir o pensamento. A pura empiria está para o pensamento como o ato de comer está para a digestão e assimilação. Quando a experiência  se vangloria  de que somente ela, por meio de suas descobertas, faz progredir o saber humano, é como se a boca quisesse se gabar por sustentar sozinha a existência do corpo.”
SCHOPENHAUER in  A ARTE DE ESCREVER


O pensamento é a mais nobre realização do cérebro humano. Mas poucos se dedicam a sua arte. A maioria das pessoas apenas comem, trepam e cagam. Isto lhes basta como existência. Poucos ascendem aos cenários das abstrações e questionamentos de tudo aquilo que julgamos real.
Por isso desconfio da humanidade. Seu estado habitual é a mansa insanidade de cultivar o umbigo segundo o ethos dominante. Não passa de uma manada cega e infame a procurar satisfação vazia no deserto do mais imediato cotidiano.

Aprecio por isso os desajustados, os inconformados, que transformam sua inquietude em feroz poesia contra os lugares comuns do existir. Escrever é inventar a si mesmo. O mundo seria melhor se todos fossem escritores. 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

WITTGENSTEIN E O DESESPERO NA FILOSOFIA

“É A VIDA QUE É PRECISO MUDAR”

Para Wittgenstein filosofar era uma desesperada luta contra a doença da incompreensão da lógica de nossa linguagem mais cotidiana.  Construímos diariamente frases  gramaticalmente corretas que, paradoxalmente, não fazem sentido.

A linguagem é a maior das patologias, considerando que o mundo vivido não passa de um ato de linguagem. Como ele afirma, ainda na primeira fase de seu esforço filosófico representado pelo Tractatus Lógico-Filosófico:

“O objetivo da filosofia é a clarificação lógica do pensamento. A filosofia não é uma teoria, mas uma atividade. Não se deve esperar da filosofia ‘proposições filosóficas’, mas a clariicação das proposições.”
O que mais nos conduz ao desespero é o quanto a maioria das pessoas é incapaz de um uso preciso da linguagem e não fazem a mínima noção do que seja um dialogo autêntico.


A VIDA ESTÁ MORTA...

quarta-feira, 24 de junho de 2015

NOSTALGIA

A vida é demasiadamente efêmera. Tudo acontece e se perde rápido demais.

Fico pensando em todas as situações e coisas que já vivi e deixaram um amargo sabor de nostalgia.

O passar do tempo é realmente desagradável e nos rouba tudo aquilo que nos define e consideramos importante. Nada é definitivo... as vezes não é fácil conviver com isso.

No fundo somos todos colecionadores de escombros e ruínas que vão se acumulando dentro da gente até que chega uma hora em que nós mesmos nos tornamos ruína.


Por isso fico sempre desconfortável. Principalmente quando me sinto alegre. A satisfação dura quase nada. Menos que um por do sol. 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

FUGA

As vezes me vestia de frio
E ia buscar a companhia da chuva
Para esquecer meus fracassos.

Tentava apagar as mágoas,
Os amores perdidos,
Os sonhos despedaçados
E as vontades feridas.

Tentava esquecer de mim,
Afogar em meus silêncios,

Calar o mundo e o destino.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

A DIALÉTICA DOS MEUS EUS

Amanhã posso não ser mais eu.
Posso ser ninguém, silencio e lembrança.
Posso ser a lágrima na face de alguém
Ou, talvez, apenas outro
De mim mesmo
Buscando  o vazio
Em novas ilusórias certezas.
Amanhã pode ser tarde
Ou cedo demais
Para meus tantos eus.


terça-feira, 16 de junho de 2015

INDIVIDUALISMO RADICAL

Tornar-se um individuo psicológico é a única grande meta de nossa vida. Aprofundando a tese, tornar-se um complexo de situações psicológicas e complexas é um desafio pessoal que poucos ousam enfrentar.

Inventar a si mesmo contra os lugares comuns da vida coletiva e dos  fatos nos reatualizam o desafio da invenção do espaço privado e da subjetividade dos oitocentos. Mas partindo de uma lógica diferente e que, paradoxalmente, pressupõe o deslocamento das identidades como estratégia de reconstrução de nossa mais intima e incerta subjetividade.


Na contemporaneidade nos azemos e nos reinventamos em uma modalidade de “ estar no mundo” onde o próprio real deixou de ter substância...

ESBOÇO


Nunca espero me reconhecer no espelho do tempo.
Serei sempre a soma de minhas possibilidades.
Algumas perdidas, outras falidas,
A maioria suspensa entre o sonho e a realidade
A espera de algum contundente vento de verdade.

O fato é que não passo de um precário esboço de gente
Entre tudo aquilo que fui e que poderia ser,
Que se perdeu ou nunca aconteceu.
Sou cem milhões de alternativas a mim mesmo
Tentando se acomodar ao imperativo dos fatos.

O resultado disso, um dia,  será apenas o silêncio...