segunda-feira, 27 de abril de 2015

COMO FAZER AINDA BOA LITERATURA HOJE EM DIA....

O problema não é aquilo que você  esta dizendo quando escreve um texto, mas justamente o que não consegue dizer. Acho que é justamente isso  que define um bom escritor: o desespero de  fazer de tudo, o tempo todo, para escrever  alguma coisa que não cabe na palavra, alguma coisa que  a grande maioria das pessoas a sua volta não consegue perceber ou entender direito.

Bons escritores não são pessoas felizes ou satisfeitas. Na maioria dos casos são uns desajustados mergulhados na solidão e na angustia. Escritores “otimistas” me causam nojo, perdem seu tempo afirmando a aparente ordem das coisas, quando o que realmente importa é revelar o caos que define, de alguma forma, a todos. Para tanto, deve-se abdicar de toda boa retórica.

Quando se escreve, é sempre bem vindo um pouco de irritação, de frustração e mau humor.  No mínimo é necessário um pouco de espanto, de susto  e perplexidade. A melhor literatura é aquela inspirada por alguma modalidade de desespero.


sexta-feira, 24 de abril de 2015

A VIRTUDE DO ÓDIO

Há uma virtude secreta
No coração do ódio,
Uma chama de resistência e dor
Que nos acorda a razão insana.
Cospe no mundo,
Escarra em teus outros.
O ódio é afirmar a si mesmo
Contra os descompassos da realidade.
Odeie...
Do fundo do coração
Odeie.
Ninguém é teu semelhante.
Guarda o fel desta verdade,
Rasgue todo querer bem
E renasça
Em destilada revolta
E imaginação criadora.
Tudo que mais importa agora

É te fazer si mesmo.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

SOBRE O PUDOR DA INTIMIDADE

Há cada vez mais limites ao trato social, cada vez mais choque entre nossas consciências indididuadas e comprometidas com sua própria versão de mundo.

Há mais abismos entre os seres humanos do que em qualquer outra época e é cada vez mais difícil estabelecer  relações intersubjetivas.

A solidão é cada vez mais um estado socialmente estabelecido , um princípio para qualquer intercambio. Somos apenas capazes de compartilhar o artificialismo de nossas personas, o superficial do convencional e formal do acontecer social.

Nossas angustias, medos, frustrações e impulsos mais subjetivos, de tão complexos, deixaram de ser critério para a intimidade.


sexta-feira, 10 de abril de 2015

DESCAMINHO

Não tenho casa para voltar.
Nem mesmo um lugar para estar.
Sou destes que se perderam do mundo
Mas não tiveram ,
Nem mesmo,
A ousadia da demasiada loucura.
Não passo de lixo humano
Acumulando
Em um canto de tempo,
Esperando
Qualquer coisa
Que nunca acontece.
Nem mesmo sei
Como posso morrer
Quando já estou morto.


quinta-feira, 9 de abril de 2015

O INDIVÍDUO CONTRA O MUNDO

Em nossas vidas pessoais reproduzimos padrões coletivos. O sentimento de nossa individualidade se confunde com a angustia diante do fato de que tudo aquilo que nos oferece o coletivo é o escurecer de nós mesmos  enquanto trágica experiência do gênero humano. Quanto maior nossas certezas sociais, nossa vontade de realizar e bem servir ao mundo, maior é a  máscara que vestimos contra a angustia de nossa individualidade frente o irracional acontecer da espécie humana.

A individualidade é aquilo que nos mata e, ao mesmo tempo, nos define a vida, como finitude e desafio. Viver de verdade é uma arte que ainda não inventamos. Por enquanto temos apenas a lucidez absurda dos loucos contra o lugar comum de nossas vidas vazias  e moldadas pelo bom trato social.

Mas nada é aquilo que parece ser. E a solidão ´´e o que nos esclarece o rosto contraposto ao espelho vazio dos outros.

SONHO NOVO

Espero que algum sonho novo
Me esclareça os horrores
Deste pesadelo cotidiano.
Cultivo muitos desacordos
Com o mundo
E alguns desesperos.
Nunca provei grandes alegrias,
Nunca tive amores.
Apenas vivi a vida
Sem grandes expectativas.
Mas mesmo assim
Espero algum sonho novo.


sexta-feira, 3 de abril de 2015

PÓS GUERRA

Sei que não viverei mais
Qualquer beleza,
Qualquer poesia.
Meus dias envelheceram
E me pesam como chumbo.

Acabo de acordar do meu último sonho.
Mas não quero me levantar.
Quero esperar que qualquer coisa aconteça
Lá fora

Nas velhas plantações de morangos e bombas.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

AFORISMA SOBRE O ABSOLUTO DE NOSSAS ILUSÕES

Sou daqueles que discordam...

Que acordam duvidas contra as tantas mentiras 

cotidianas.

Pois a verdade é sempre uma ilusão ainda não revelada.




VIVER É SOFRER

Não sei direito o doer do meu peito.

Não sei se quer

Se realmente tenho dores no peito.

Talvez este sofrer abstrato

Me atinja de fato a cabeça.

Talvez seja apenas o fado

De saber do mundo,

De viver demasiadamente as coisas.


Nada mais do que isso...

segunda-feira, 30 de março de 2015

DESANIMO E COTIDIANO

Eram pequenas as minhas expectativas.
Tudo que eu esperava era continuar respirando,
Seguindo em minhas rotinas
Sem sentir o peso dos meus vazios.

Abdicara de ser qualquer coisa próxima
Ao selvagem querer de mim mesmo
Transbordando entre as horas.

Sobreviver era mais importante
Ou, pelo menos,
Tudo que me restava.
Tudo que era
Ainda possível

Sem riscos e sem tempestades.