quinta-feira, 7 de agosto de 2014

PARA OS QUE NUNCA FORAM FELIZES


Preso ao passado,
Aos descasos do destino,
Ainda lembro daquele feliz futuro
Que nunca vivi um dia.
Talvez tenha acontecido
Agora pouco
Em qualquer data perdida
Que nunca encontrou lugar
No meu desgraçado calendário
Riscado pelos  erros  causados
Por minhas  vontades desmedidas.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

PÓS MODERNIDADE E NOVAS SENSIBILIDADES

As relações humanas e as estratégias de construção de sociabilidades vem alcançado na contemporaneidade um grau de complexidade que compromete as estruturações tradicionais da vida social. Cultura, sociedade  e Estado ganham dinâmicas novas que se articulam com a emancipação do individuo frente as dinâmicas coletivistas e um deslocamento das identidades e papeis definidos pelas tradições e inercias sociais.
As reflexões sobre esse novo momento das formas de codificação do real em curso nos grandes centros urbanos do capitalismo contemporâneo tendem a apontar para as novas possibilidades abertas pela hiper-realidade estabelecida pelo impacto das tecnologias digitais sobre nossas representações de mundo e sensibilidades.
Como aponta Luis Carlos Fridman em  Vertigens Pós Modernas:

“Em sentido menos apologético do alcance das alterações em curso, surge o diagnóstico da fragmentação da subjetividade contemporânea. No individualismo pós-moderno de todas as conexões do ser, os “certificados de existência” se diluem. A vida torna-se errática pela multiplicidade e pela fluidez, o eu se despedaça nas redes de comunicação, os indivíduos sentem-se investidos de solicitações bizarras na tarefa de inventarem a si próprios, a plasticidade e o pastiche incorporam-se às maneiras de viver, estilos se confundem com as ofertas mais recentes do universo das mercadorias, a unidade se desfaz no descarte sucessivo de intensidades momentâneas e os estados de ansiedade se acumulam. A identidade, e o senso de uma interioridade auto sustentável partem-se em vivências desagregadas ou, para quem não aguenta esse tranco, em insegurança e angustia. A identidade, sob a marca da transitoriedade, nunca se completa. O “medo ambiente”, expressão já presente  no debate sociológico, condensa as indagações se o cenário da vida social contemporânea oferece suportes sólidos  para a construção da identidade.”

Luís Carlos Fridman. Vertigens Pós Modernas: Configurações Institucionais Contemporâneas. RJ: Relume Dumara, 2000 p. 65


A problemática da falência da identidade explica ironicamente a voga fundamentalista e conservadora que reponde a desagregação das vivencias tradicionais através da apologia de  ideais coletivistas e totalizantes de inspiração  geralmente religiosa que inutilmente procuram a restauração de um passado irremediavelmente perdido, mas  ainda capaz de nos roubar as melhores possibilidades de futuro.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

A CRIANÇA QUE FUI UM DIA

A criança que fui um dia
Afogou-se nas aguas das emoções profundas
Que habitam nervosas a superfície
Dos pensamentos cotidianos.
Perdeu-se de sua própria realidade,
Tornou-se abstração e sombra
Do adulto discreto e conformado
Que nunca conseguirei ser.

terça-feira, 29 de julho de 2014

AFORISMA SOBRE ATEISMO E LIBERDADE

O ateísmo é a mais radical forma de liberdade já  concebida pela consciência humana. Somos naturalmente livres pensadores quando superamos os escombros do mero mimetismo cultural para inventar a nós mesmos.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

LIMITES

Preso as minhas diárias limitações
Persigo o brilho de um dia
Onde eu possa descansar
Minhas vontades e ansiedades
No colo dos pequenos sonhos,
Esquecer  do tempo e do espaço
E ser apenas eu mesmo
Diante do enigma do mundo
Sem tantos limites e interdições.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

OPÇÕES INDIVIDUAIS

O que nos define como indivíduos é o limitado leque de nossos recursos e opções pessoais. Não podemos  em nossa elementar singularidade abarcar todas as possibilidades de codificações de mundo e cenários de existência. Somos limitados e é justamente isso que nos desenha nos dias.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

APOSTAS PERDIDAS

Não me lembrava das flores depositadas
No horizonte,
Das esperanças perdidas
E das alegrias desfeitas.

Lembrava apenas do aperto no peito,
Daquele vazio que me dizia a vida,
De todas as promessas não cumpridas
E do medo de um dia seguinte.

Não me lembrava dos sonhos que tive,
De todas as minhas ingênuas apostas
Nas cores vivas do mundo

e que justificavam tudo.

terça-feira, 15 de julho de 2014

AFORISMAS SOBRE POESIA

Devemos viver a poesia como uma codificação erótica da existência.
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A poesia é o sexo das palavras e a orgia das imaginações.
@
 A maior parte da poesia não cabe em nenhum poema.
@
Aquilo que transborda entre o dizer e o silêncio é a matéria prima da poesia.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

IMPULSO E RENOVAÇÃO

Não esperarei pelo dia seguinte,
Pela vontade renovada
Que transformará meu  sentimento das coisas.
Partirei agora sem grandes esperanças
Para o outro lado das circunstâncias
Onde se sabe o mundo de ponta cabeça.


Jogarei fora alguns passados,
Algumas emoções  e vontades inúteis.


Reaprenderei a vida dançando em minha sombra.
Talvez me sobre até tempo
Para buscar amores.

terça-feira, 8 de julho de 2014

SOBRE A PEQUENEZ DA CONDIÇÃO HUMANA

Embora hoje em dia tanto o modelo cosmológico  geocêntrico da antiguidade   quanto o heliocêntrico inaugurado por Nicolau Copérnico e consolidado por Kepler e Newton  já não expressem nossa imagem contemporânea do universo, o fato é que nossa cultura ainda se baseia na valoração do primado da condição humana como centro de toda existência. As tradições religiosas, que pressupõem essa centralidade através de diversos mitos criacionistas contribuem significativamente para manutenção da  falsa ideia de que a vida é algo especial e plena de significação, ignorando a imensidão e mistérios muito mais complexos do universo conhecido que, de muitas maneiras, desafiam o intelecto humano.

A percepção do quanto somos insignificantes, dos limites de  todas as nossas possíveis representações e codificações de mundo é um sentimento novo ainda cultivado por poucos.
Lembrando uma famosa declaração de Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua,  

"De repente eu notei que aquela pequena e bela ervilha azul era a Terra. Eu levantei meu dedão e fechei um olho, e meu dedão cobriu totalmente a Terra. Eu não me senti um gigante. Senti-me muito, muito pequeno.”

Tal pequenez, não se associa a qualquer especulação metafísica sobre a grandiosidade da natureza ou de alguma divindade, mas a constatação simples da complexidade da realidade que não pode ser reduzida a qualquer formula dogmática ou universal. O superficial e o perene define melhor o que somos do que qualquer ilusória profundidade e significado último da condição humana.
 
Somos efêmeros...